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Como dizia apropriadamente Samuel Wainer: A PENA É LIVRE, MAS O PAPEL TEM DONO.
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Nossa Carta a Obama

Leitura interessante o texto publicado por Carta Maior no formato de carta ao Presidente eleito dos EEUU Barack Obama. Obviamente não pesará milésimo de milímitro nas decisões do novo presidente que nem sequer dela tomará conhecimento. Mas vale a intenção e nos fornece elementos de reflexão. No momento não podemos ter dúvidas de que somos reféns dos destinos da ainda poderosa nação.
Eis o texto:

Se os EUA querem reconquistar o respeito dos outros povos do mundo, se
querem resgatar a imagem, que se deteriorou, devem se considerar como
um país entre outros, e a eles igual, não como uma potência eleita para
a missão de impor a ordem imperial e os interesses capitalistas no
mundo. Devem permitir que progrida o espaço de um mundo multipolar, em
que todos os países participem das decisões fundamentais.

Presidente Barack Obama:

O seu governo pretende resgatar a imagem dos EUA no mundo e mudar sua
relação com a América Latina. É preciso que o sr. saiba que a imagem do
seu país no mundo é a imagem da maior potência imperial da história da
humanidade. Que à horrível imagem de potência intervencionista no
destino de outros países, de exploradora das suas riquezas, ao longo de
todo o século passado, se acrescentou no século XXI a política de
“guerras humanitárias”, invasões que mal escondem os interesses de
exploração e opressão de outros territórios e povos, de que o Iraque e
Afeganistão são os exemplos mais recentes.
Não basta retirar as tropas do Iraque imediatamente – embora isso seja
um começo indispensável para o resgate proposto. É necessário fazer o
mesmo com o Afeganistão, assim como terminar com o apoio à ocupação
israelense dos territórios palestinos, reconhecendo o direito à
existência de um estado palestino soberano. No caso da América Latina,
é imprescindível terminar com a Operação Colômbia, que militariza os
conflitos naquele país, e os que ele provoca, com graves riscos de
produção de crises regionais, pela dinâmica belicista do Exército e do
governo colombiano.
Para demonstrar que mudou de atitude, os EUA devem, sobretudo, terminar
definitivamente com o bloqueio a Cuba, desativar sua base de
interrogatórios ilegais e torturas na base de Guantanamo e devolver
esta incondicionalmente a Cuba, terminando com a prepotente e
juridicamente insustentável usurpação de território cubano, que dura já
mais de um século. Deve retomar relações normais entre os dois países,
respeitando as opções do povo cubano na definição soberana dos seus
destinos.
Os EUA devem reconhecer publicamente o grave erro de terem apoiado o
golpe militar de abril de 2002 contra o presidente Hugo Chavez,
legitimamente eleito e reeleito pelo povo venezuelano. Devem terminar
definitivamente com articulações golpistas nesse país, na Bolívia e no
Equador e comprometer-se, publicamente, a nunca mais desenvolver
atividades de ingerência nos assuntos internos de outros países.
Se quiserem ter relações cordiais com a América Latina, o novo governo
dos EUA devem destruir imediatamente o muro na fronteira com o México,
legalizar a situação dos trabalhadores imigrantes nos EUA e favorecer a
livre circulação das pessoas, como tem pregado a livre circulação de
mercadorias e de capitais.
Além disso, os EUA devem deixar de utilizar organismos internacionais
como a OMC, o FMI, o Banco Mundial, para propagar e tentar impor suas
políticas, as mesmas que levaram ao fracasso dos governos que seguiram
as suas receitas, assim como à crise financeira internacional que hoje
grassa no planeta. Os países da América Latina e do Sul do mundo devem
ter liberdade para encontrar suas próprias alternativas e soluções à
crise, gerada nos EUA, que devem assumir suas responsabilidades e não
permitir a exportação de seus efeitos negativos.
Se quiserem voltar a ser respeitados, os EUA devem deixar de tratar de
favorecer ou forçar a exportação de sua mídia, de sua indústria
cultural, de sua forma de vida, que pode ser boa para os EUA, mas pode
ser nefasta para outros países. Essas fórmulas, muitas vezes impostas,
favorecem formas ditatoriais de imprensa, formas estereotipadas de ver
o mundo, modos consumistas de viver. Que os EUA deixem cada país
escolher suas formas de se pensar a si mesmo, de ver o mundo, de viver
e de produzir arte e cultura.
Se o sr. quiser fazer um governo diferente, deve abandonar qualquer
idéia de querer impor o que os EUA considerem que seja democrático. Que
cada país, cada povo, defina seu próprio caminho. Os EUA nem inventaram
a democracia, nem são mais democráticos que muitos outros países.
Os EUA devem abandonar suas pretensões de ser um império mundial que
zele pela ordem imperialista no mundo. Devem dar espaço para que
progrida o espaço de um mundo multipolar, em que todos os países
participem das decisões fundamentais. Neste sentido, devem apoiar o fim
do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, devem dar lugar à
democratização desse órgão. Devem obedecer as decisões da ONU de
terminar o bloqueio à Cuba, em favor do direito do povo palestino a um
estado próprio e independente, entre tantas outras decisões, bloqueadas
pelo veto norte-americano. Se vetos de outros países há, isso deve ser
combatido pela suspensão universal do direito ao veto.
Em suma, se os EUA querem reconquistar o respeito dos outros povos do
mundo, se querem resgatar a imagem do seu país que se deteriorou, devem
se considerar como um país entre outros, e a eles igual, não como uma
potência eleita para a missão de impor a ordem imperial e os interesses
capitalistas no mundo. Devem respeitar as decisões que outros povos
tomem no sentido de escolher caminhos antiimperialistas e
anticapitalistas. Devem assinar o Protocolo de Kyoto, aceitando reduzir
suas emissões de gases poluidores, condição básica para iniciar uma
nova etapa na luta contra a destruição ambiental no planeta. Devem
diminuir seu orçamento militar, revertendo essas verbas para o campo
social. Devem combater os monopólios privados da mídia, a indústria
tabagista, a da segurança para-militar, devem colocar como seu objetivo
principal construir uma sociedade justa, a começar pela de seu próprio
país, aquele em que, dentre aquelas do centro do capitalismo, a
desigualdade mais cresceu nos últimos anos.
Se o sr. fizer tudo isso, ou pelo menos se mover nessa direção,
pensamos que poderá contar com o respeito e com relações cordiais por
parte dos governos populares e dos povos da América Latina.

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