PenseLivre On Line

Como dizia apropriadamente Samuel Wainer: A PENA É LIVRE, MAS O PAPEL TEM DONO.
Os blogs permitem que, por algum momento, possamos ter a pena livre e, ao mesmo tempo, ter a propriedade do papel.
Neste blog torno públicas algumas reflexões pessoais, textos e publicações pinçadas da web e que me fizeram pensar e repensar melhor a realidade.
Este blog é uma pretenção cidadã e...nada mais!

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

As reflexões e opiniões de Noam Chomsky são esperadas e acolhidas por todos os que buscam uma luz para tudo o que acontece no jogo político mundial. É respeitado por seus adversários na medida em que sua capacidade de analisar os fatos, de sintetizar conclusões, de elaborar raciocínios e de transmitir seu pensamento é inquestionável. 
Sua lucidez desnorteia os adversários. 
É o ativista político norte-americano mais respeitado dentro de seu próprio país.
Sempre que posso e tenho acesso, procuro ler suas opiniões. Sua coragem, aos 86 anos 
é contagiante. 
É certamente o maior crítico da postura dos EUA em suas relações com as demais nações do planeta.
O texto abaixo, que trascrevo de OUTRAS PALAVRAS, é emblemático e contundente.

Por Noam Chomsky | Tradução: Mariana Bercht

“É oficial: os EUA são o maior Estado terrorista do mundo e se orgulham disso”.

Essa deveria ter sido a manchete da notícia principal do New York Times no dia 15 de outubro, que foi polidamente intitulada “Os Estudos da CIA sobre ajuda secreta alimentam ceticismo sobre a ajuda aos rebeldes sírios”. O artigo relata uma revisão da CIA sobre as operações secretas dos EUA para determinar sua efetividade. A Casa Branca concluiu que infelizmente os sucessos foram tão raros que é necessário repensar essa política.
O texto cita o Presidente Barack Obama, dizendo que ele solicitou à CIA que conduzisse a revisão para encontrar casos de “financiamentos e fornecimento de armas para grupos insurgentes em um país que realmente tenham funcionado. E eles não encontraram muitos”. Por isso, Obama reluta em manter tais esforços.
O primeiro parágrafo do artigo do Times cita três grandes exemplos de “ajuda secreta”: Angola, Nicarágua e Cuba. Na verdade, cada um desses casos foi uma grande operação terrorista conduzida pelos EUA. Angola foi invadida pela África do Sul, que, segundo Washington, defendia-se de um dos “maiores grupos terroristas” do mundo – o Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela.

Na época, o governo Reagan estava praticamente sozinho no seu apoio ao regime do apartheid, inclusive violando sanções do congresso para aumentar o comércio com seu aliado sul africano. Washington juntou-se à África do Sul para prover apoio crucial ao exército terrorista da Unita, chefiada por Jonas Savimbi, em Angola. Continuou a fazê-lo mesmo depois de Savimbi ser completamente derrotado em eleições livres cuidadosamente monitoradas, e da África do Sul retirar seu apoio. Savimbi era um “monstro cuja sede de poder trouxe uma miséria apavorante ao seu povo”, nas palavras de Marrack Goulding, embaixador britânico em Angola.
As consequências foram horrendas. Um inquérito de 1989 da ONU estimou que os atos hostis praticados por sul-africanos provocaram 1,5 milhão de mortes nos países vizinhos, sem contar o que estava acontecendo internamente na África do Sul. Ao fim, forças cubanas contra-atacaram os agressores sul-africanos e os compeliram a se retirar da Namíbia, ilegalmente ocupada. Apenas os EUA continuaram a apoiar o monstro Savimbi.
Em Cuba, após a invasão frustrada da Baía dos Porcos em 1961, o Presidente John F. Kennedy lançou uma campanha assassina e destrutiva para levar “os terrores da terra” à ilha – nas palavras de um íntimo aliado de Kennedy, o historiador Arthur Schlesinger, em sua biografia semi-oficial de Robert Kennedy, a quem foi atribuída a responsabilidade pela guerra terrorista.
As atrocidades contra Cuba foram severas. Os planos eram de que o terrorismo culminasse em uma rebelião em outubro de 1962, que levaria a uma invasão estadunidense. Agora, estudos acadêmicos reconhecem que essa foi uma das razões pelas quais o primeiro-ministro russo Nikita Khruschev colocou mísseis em Cuba, iniciando uma crise que ficou perigosamente próxima de uma guerra nuclear. O secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara posteriormente admitiu que, se fosse uma liderança cubana na época, “teria esperado uma invasão dos EUA”.
Os ataques terroristas americanos a Cuba continuaram por mais de 30 anos. O custo disso aos cubanos foi, é claro, muito grave. A contagem de vítimas, dificilmente vista nos EUA, foi relatada em detalhes pela primeira vez em um estudo do canadense Keith Bolender, “Vozes do Outro Lado: Uma História Oral do Terrorismo Contra Cuba”, em 2010.
O preço em vidas de uma longa guerra terrorista foi ampliado por um embargo esmagador, que continua até hoje, a despeito do resto do mundo. Em 28 de outubro, a ONU, pela 23ª vez, endossou a “necessidade de dar um fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra Cuba”. A votação foi de 188 a 2 (EUA e Israel) com três abstenções, das dependências dos EUA nas Ilhas do Pacífico.
Existe hoje alguma oposição ao embargo em lugares importantes dos EUA, relata o ABC News, por que ele “não é mais útil” (citando o novo livro de Hillary Clinton, Hard Choices). O estudioso francês Salim Lamrani revisa os amargos custos aos cubanos em seu livro de 2013, A Guerra Econômica Contra Cuba.
Quase não é necessário mencionar Nicarágua. A guerra terrorista do presidente Ronald Reagan foi condenada pela Corte Internacional, que ordenou que os EUA encerrassem seu “uso de força ilícito” e pagassem reparações substantivas.
Washington respondeu aprofundando a guerra e vetando resolução do Conselho de Segurança da ONU de 1986, que chamava todos os Estados – significando os EUA – a observarem a lei internacional.
Outro exemplo de terrorismo foi lembrado em 16 de novembro, data do 25º aniversário do assassinato de seis padres jesuítas em São Salvador por uma unidade terrorista do exército salvadorenho, armada e treinada pelos EUA. Sob as ordens do alto comando militar, os soldados invadiram a Universidade Católica para assassinar os padres e qualquer testemunha – incluindo uma governanta e sua filha.
O evento marcou o fim das guerras terroristas dos EUA na América Central nos anos 80. Mas seus efeitos ainda estão nas primeiras páginas de hoje, nos relatos sobre a fuga de “imigrantes ilegais” — uma medida das consequências dessa carnificina. No entanto, eles são deportados dos EUA para sobreviverem, se puderem, nas ruínas dos seus países de origem.
Washington também emerge como o campeão mundial em gerar terror. O ex-analista da CIA Paul Pillar alerta que “o impacto gerador de ressentimentos dos EUA atinge” a Síria, onde talvez induza, no futuro,  as organizações do Jihad Jabhat al-Nusra e o Estado Islâmico a “reparar suas falhas no ano passado e fazer campanha em conjunto contra a intervenção dos EUA, pintando-a como uma guerra contra o Islã”.
Essa é uma consequência já familiar das operações dos EUA, que ajudaram a espalhar o jihadismo — antes restrito a um reduto do Afeganistão, — para grande parte do mundo.
A manifestação do jihadismo mais alarmante hoje é o Estado Islâmico, ou ISIS, que estabeleceu seu califado assassino em grandes áreas do Iraque e da Síria.
“Penso que os Estados Unidos são um dos criadores chave dessa organização”, relata o ex-analista da CIA, Graham Fuller, comentarista destacado sobre assuntos na região. “Os Estados Unidos não planejaram a formação do ISIS”, acrescenta “mas suas intervenções destrutivas no Oriente Médio e a guerra do Iraque foram as causas básicas do nascimento do ISIS”.
A isso nós podemos incluir a maior campanha terrorista do mundo: o projeto global de assassinato de “terroristas” de Obama. O “impacto gerador de ressentimento” desses drones e ataques de forças especiais deveriam ser conhecidos demais para requerer mais comentários. Esse é um registro a ser contemplado com certo pavor.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"Quando a verdade é substituída pelo silêncio” – disse o dissidente soviético Yevtushenko – “o silêncio torna-se mentira.”

A leitura desse texto do jornalista investigativo e independente - espécie cada vez mais rara - me deixa efetivamente preocupado. 
Não poderia esperar que, ainda em vida, próximo de completar 68 anos, ainda pudesse ser contemporâneo de uma guerra nuclear. 
Coexistir com uma terceira guerra de extensão mundial estava longe de minha imaginação. 
Por mais que cobre de minha imaginação não tenho a menor noção do que isso possa significar. Muitas guerras estão acontecendo longe de nós, longe da pátria grande latino-americana. 
A maioria delas, guerras não declaradas. 
Países são invadidos, fronteiras são desrespeitadas, cidadãos são assassinados. Impera a lei do mais forte. Impera o império.
E de todos nós a verdade é escondida. 
Não há mais instituições confiáveis em cujas informações podemos acreditar. 
Se há, temos que catá-las, procurá-las, descobri-las. É uma verdadeira garimpagem, a busca da verdade.
Transcrevo abaixo o esclarecedor e terrível texto do jornalista investigativo JOHN PILGER que descolei do site OUTRAS PALAVRAS  
José amorim de Andrade

Ocultações, silêncios, mentiras: alinhamento da mídia ocidental às manipulações dos EUA revela nítida escalada bélica — e terrível declínio do velho jornalismo

Por John Pilger | Tradução: Vila Vudu

Por que o jornalismo sucumbiu tão completamente à propaganda? Por que censura e distorção são a prática padrão? Por que a BBC é, tão frequentemente, porta voz dos poderosos mais rapaces? Por que o New York Times e o Washington Post mentem diariamente aos seus leitores-consumidores?
Por que não se ensina os jovens jornalistas a compreender as agendas dos veículos e a se contrapor a elas, denunciando a distância que separa os altos objetivos declarados e a realidade da “objetividade” mais falsa? E por que não compreendem que a essência de praticamente tudo que costumamos chamar de “imprensa dominante” nunca é informação, mas é só e sempre, poder?
Essas são perguntas que clamam por respostas urgentes. O mundo está diante do risco de grande guerra, talvez guerra nuclear – com os EUA claramente decididos a isolar e provocar a Rússia e provavelmente, em breve, também a China. Essa verdade está sendo invertida, apresentada de cabeça para baixo por jornalistas – entre os quais, é claro, também os que divulgaram como se fossem notícias, as mentiras que levaram ao banho de sangue no Iraque em 2003.
Vivemos tempos tão perigosos e tão distorcidos, para a percepção pública, que a propaganda deixou de ser, como Edward Bernays a chamou, “um governo invisível”. Ela é governo. Governa diretamente, sem medo de ser contraditada, e seu principal objetivo é nos conquistar: nosso sentido de mundo, nossa capacidade de separar mentiras e verdade.
A era da informação é, na verdade, uma era da mídia. A mídia produz guerra; a mídia censura; a mídia demoniza quem queira; a mídia vinga-se; a mídia afasta a atenção dos eleitores do que a imprensa não quer que seja sabido – a mídia é uma linha de montagem surreal de clichês de rendição e pressupostos mentirosos.
Esse poder para criar uma nova “realidade” foi construído ao longo de muito tempo. Há 45 anos, um livro intitulado The Greening of America fez furor. Na capa, lia-se: “Há uma revolução em marcha. Não será como as revoluções passadas. Dessa vez, a revolução nascerá com o indivíduo.”
Eu trabalhava como correspondente nos EUA e lembro bem como, da noite para o dia, o autor – Charles Reich, um jovem aluno de Yale – recebeu status de guru. A mensagem era que a ação política e o trabalho de informar a verdade haviam fracassado, e só a “cultura” e a introspecção poderiam mudar o mundo.
Em poucos anos, movido pelas forças do lucro, o culto do “eu-mesmismo” já atropelara mortalmente nosso senso de ação conjunta, de justiça social e de internacionalismo. Classe, gênero e raça foram separados. Se era individualista e pessoal… era “político”. E imprensa, já então chamada “mídia”, era a mensagem.
Ao fim Guerra Fria, a fabricação de novas “ameaças” completou o serviço de desorientação política para todos que, vinte anos antes, ainda teriam constituído uma oposição veemente.
Em 2003, filmei uma entrevista em Washington com Charles Lewis, respeitado jornalista investigativo norte-americano. Discutimos a invasão ao Iraque, acontecida meses antes. Perguntei-lhe: “E se a imprensa mais livre do mundo tivesse denunciado as mentiras de George Bush e Donald Rumsfeld e investigado tudo que eles diziam, em vez de pôr em circulação tudo que, como em seguida se viu, não passava de propaganda a mais nua e crua?”
Lewis respondeu que se nós jornalistas tivéssemos feito o que era nosso trabalho e nosso dever “haveria boa, muito boa probabilidade de que os EUA não tivessem feito guerra ao Iraque.”
É conclusão estarrecedora, mas apoiada por outros jornalistas aos quais fiz a mesma pergunta. Dan Rather, ex-CBS, deu-me a mesma resposta. David Rose do Observer e consagrados jornalistas e produtores na BBC, que pediram para que seus nomes não fossem divulgados, disseram a mesma coisa.
Em outras palavras: se os jornalistas tivessem feito jornalismo, se tivessem perguntado e investigado, em vez de só repetir e amplificar a propaganda que recebiam pronta, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças não teriam morrido; milhões não teriam perdido as próprias casas; e a guerra sectária entre sunitas e xiitas não teria sido insuflada; e talvez nem existisse o famigerado Estado Islâmico.
Ainda hoje, apesar dos milhões que tomaram as ruas em protestos, a maioria das populações nos países ocidentais absolutamente ainda não tem nem ideia da escala gigante do crime que os governos ocidentais cometeram no Iraque. Menos gente ainda sabe que, nos 12 anos antes da invasão, os governos de EUA e Grã-Bretanha puseram em movimento um holocausto – negando à população civil iraquiana os meios mínimos para a sobrevivência.
Essa são as palavras do principal funcionário britânico responsável por sanções impostas ao Iraque nos anos 1990 – um cerco medieval que provocou a morte de meio milhão de crianças com menos de cinco anos, como a Unicef relatou. O nome do funcionário é Carne Ross. No Ministério de Relações Exteriores em Londres, ficou conhecido como “Mr. Iraq”. Hoje, ocupa-se de contar, afinal, a verdade, sobre como o governo britânico mentia e os jornalistas acorriam, lépidos, sempre dispostos a divulgar o mais possível toda e qualquer mentira que lhes chegasse aos ouvidos. “Alimentávamos os jornalistas com factoides que os serviços inteligência nos passavam, depois de ‘aprovados’” – disse-me ele. – “Ou os mantínhamos absolutamente longe de qualquer fato.”
O principal sentinela, durante aquele período sombrio de informação falsificada, foi Denis Halliday. Então secretário-geral assistente da ONU e alto funcionário da ONU no Iraque, Halliday renunciou ao cargo e à carreira, para não ter de implementar políticas que ele descreveu como “genocidas”. Halliday estima que as sanções impostas por EUA e Grã-Bretanha ao Iraque mataram mais de um milhão de iraquianos.
O que então aconteceu a Halliday é muito instrutivo. Foi apagado do mundo. Ou foi convertido em agente do mal. No programa “Newsnight”, da BBC, o apresentador Jeremy Paxman berrou-lhe: “Você não é defensor de Saddam Hussein?” Recentemente, o Guardian descreveu essa cena como um dos “momentos memoráveis” da carreira de Paxman. Semana passada, Paxman assinou contrato de 1 milhão de libras, para escrever um livro.
Os faxineiros da supressão do jornalismo fizeram bem feito o seu trabalho imundo. Considerem os efeitos. Em 2013, pesquisa da ComRes descobriu que a maioria da população britânica acreditava que haviam morrido no Iraque “menos de 10 mil pessoas” – fração ínfima da verdade. O rastro de sangue que vai do Iraque a Londres havia sido esfregado a golpes de mídia, até quase sumir.
Rupert Murdoch é conhecido como o chefão da “máfia midiática”, e ninguém deve duvidar do estarrecedor poder de seus jornais – são 127, com circulação somada de 40 milhões de exemplares, mais a rede Fox. Mas a influência nefasta do império de Murdoch não é maior nem mais nefasta que a influência do que se conhece como “a mídia mais ampla”.
A propaganda mais efetiva não se encontra nem no Sun nem no Fox News de Murdoch – mas nos jornais e televisões ditos “sérios”, acobertados por um halo de jornalismo liberal e supostamente “civilizado”.
Quando o New York Times publicou a notícia inventada segundo a qual Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, todos acreditaram, porque o veículo não era o canal Fox News de Murdoch: era o New York Times.
O mesmo vale para o Washington Post e o Guardian, jornais que, ambos, tiveram função criticamente decisiva no condicionamento dos seus leitores, até que aceitassem uma nova e perigosa guerra fria. Todos esses veículos da imprensa liberal falsearam o noticiário dos eventos na Ucrânia, apresentado como se a Rússia tivesse cometido algum crime – quando, na verdade, aconteceu ali um golpe fascista liderado pelo EUA, ajudado pela Alemanha e pela OTAN.
A inversão da verdade e do fato é tão generalizada que já nem se discutem, nos EUA, os movimentos de intimidação e provocação militar que Washington realiza contra a Rússia, nem se ouve qualquer oposição a eles. Não se ouve notícia alguma, todas suprimidas e censuradas por trás de uma campanha de geração de medo social, do tipo sob o qual cresci, durante a primeira guerra fria.
Mais uma vez, o império do mal vem nos pegar, liderado por um novo Stalin ou, perversamente, por novo Hitler. Escolha seu judas e pode malhá-lo até a morte.
A ocultação dos fatos reais sobre a Ucrânia é um dos mais completos blecautes de notícias de que me recordo em toda a minha vida. A maior concentração de militares ocidentais no Cáucaso e no leste da Europa, desde o final da 2ª Guerra Mundial, é escondida. A ajuda secreta que Washington deu a Kiev e às suas brigadas neonazistas responsáveis por crimes de guerra contra a população do leste da Ucrânia foi apagada do mundo. Todas as provas que desmentem a propaganda segundo a qual a Rússia teria sido responsável por abater em pleno voo um avião civil malaio com 300 passageiros foram apagadas do mundo.
E, mais uma vez, quem censura é a imprensa supostamente liberal. Sem que se apresente um único fato ou evidência, um jornalista “identificou” um líder pró-Rússia na Ucrânia como o homem que, pessoalmente, teria derrubado o avião. Esse homem, escreveu o tal jornalista, é conhecido como O Demônio. Sujeito assustador, que apavorou o jornalista. Pronto. Está tudo investigado e comprovado.
Muitos, na mídia ocidental, trabalharam duro para apresentar a população etnicamente russa étnicos que vive na Ucrânia como outsider, forasteira em seu próprio país — nunca como ucranianos que desejam ser integrados à Federação Russa, como cidadãos ucranianos em luta de resistência, diante de um golpe orquestrado contra um governo que eles elegeram.
O que o presidente da Rússia tenha a dizer não importa; é o vilão da pantomima que se pode malhar à vontade, sem consequências. Um general norte-americanos que dirige a OTAN e é perfeita reencarnação do Dr. Strangelove, o “Dr. Fantástico”. O tal general Philip Breedlove reclama todos os dias de invasões russas, sem um fiapo de comprovação. É a personificação do general Jack D. Ripper, de Stanley Kubrick.
Quarenta mil russos estariam reunidos na fronteira, fortemente armados, disse o Dr. Fantástico — digo, o general Breedlove. Pois foi o que bastou para alimentar o “noticiário” do New York Times, do Washington Post e do Observer – esse último, depois de ter-se destacado pelo empenho com que publicou, como se fosse informação, as mentiras e delírios que serviram de “base” para a invasão ao Iraque ordenada por Blair – como revelou um ex-repórter, David Rose.
Há quase que o “prazer espiritual” de uma reunião de classe. Os batedores-de-tambor do Washington Post são exatamente os mesmos redatores de editoriais para os quais a existência das armas de destruição em massa de Saddam Houssein seria “fato comprovado”.
“Se você se pergunta” – escreveu Robert Parry – “como é possível que o mundo tenha chegado às portas da terceira guerra mundial, do mesmo modo como chegou às portas da primeira guerra mundial há um século, tudo que tem de fazer é observar a loucura que tomou contra de virtualmente toda a estrutura político-informacional nos EUA, sobre a Ucrânia. Uma falsa narrativa de bons contra maus tomou conta de tudo desde o início. E, com o tempo, tornou-se impenetrável a qualquer fato ou informação racionalmente produzidos.”
Parry, o jornalista que investigou e expôs todo o caso Irã-“contras”, no governo Reagan, é um dos poucos profissionais que investiga o papel crucialmente decisivo desempenhado pela mídia no que o ministro de Relações Exteriores da Rússia chamou de “jogo das galinhas assustadas” [que correm cacarejando alto, antes até de saberem o que realmente está acontecendo]. Mas será mesmo jogo? No momento em que escrevo esse texto, o Congresso dos EUA está votando a Resolução n. 758 que, em resumo, ordena: “vamos nos preparar para a guerra contra a Rússia.”
No século 19, o escritor Alexander Herzen descreveu o liberalismo secular como “a última religião, embora sua igreja não seja do outro mundo, mas deste.” Hoje, esse direito divino é muito mais violento e perigoso que qualquer coisa que o mundo muçulmano produza, embora seu principal triunfo seja, talvez, a ilusão da informação livre e aberta.
Nos noticiários, países inteiros desaparecem. A Arábia Saudita, fonte do extremismo e do terror apoiado pelo ocidente, não é assunto – exceto quando reduz o preço do petróleo, e é então apresentada praticamente como associação de filantropia universal. O Iêmen sofreu 12 anos sob ataques de drones norte-americanos. Quem soube? Quem se incomoda?
Em 2009, a Universidade do Oeste da Inglaterra [orig. University of the West of England] publicou os resultados de um estudo de dez anos sobre a cobertura que a BBC dera à Venezuela. Das 304 matérias levadas ao ar, só três mencionavam qualquer das políticas socialmente mais importantes introduzidas pelo governo de Hugo Chávez. O maior programa de alfabetização em massa (que erradicou o analfabetismo na Venezuela) da história da humanidade recebeu duas linhas de comentário.
Na Europa e nos EUA, milhões de leitores e de telespectadores não sabem praticamente nada sobre as mudanças dramáticas, de melhoria na qualidade de vida que foram implantadas na América Latina, muitas delas inspiradas em Chávez. Como na BBC, também as matérias publicadas no New York Times, no Washington Post, no Guardian e no resto de toda a “respeitável” imprensa ‘séria’ no ocidente, tudo foi sempre redigido e distribuído de má fé. Zombaram de Chávez até em seu leito de morte. E fico a pensar: como se explica isso, nas escolas de jornalismo?
Por que milhões de pessoas na Grã-Bretanha aceitam e deixam-se convencer de que esse castigo coletivo chamado “austeridade” seria necessário?! Logo depois do crash econômico em 2008, o que se viu exposto foi um sistema apodrecido. Por um átimo de segundo os bancos foram “noticiados” como escroques, com dívidas para com o público, que haviam assaltado e traído.
Mas em apenas poucos meses – exceto uma poucas pedras lançadas contra “bônus” corporativos exagerados, pagos aos executivos – a mensagem já mudara completamente. As caricaturas e as críticas contra banqueiros-bandidos desapareceram da midia. E começou o tempo de glorificar algo chamado “austeridade” – para a desgraça de milhões de pessoas comuns. Houve algum dia tunga mais ousada que essa?
Hoje, muitas das bases e fundamentos da vida civilizada na Grã-Bretanha estão sendo desmanteladas, para pagar dívida fraudulenta, dívida de escroques. Os cortes de “austeridade” parecem chegar a 83 bilhões de libras. É quase exatamente o total de impostos sonegados por aqueles mesmos bancos e imprensa escroques, como a Amazon britânica e o jornal britânico de Murdoch, News UK.  E os bancos dos escroques estão recebendo subsídio anual de 100 bilhões de libras, em avais, garantias e seguros grátis – dinheiro suficiente para financiar toda a Saúde Pública Nacional.
A crise econômica é pura propaganda. Hoje, a Grã-Bretanha, os EUA, grande parte da Europa, Canadá e Austrália são governados por políticos extremistas. Quem fala pela maioria? Quem está construindo a narrativa da maioria? Quem oferece informação confiável? Quem organiza e preserva registros corretos de fatos reais? Não é para isso que existem os jornalistas?
Em 1977, Carl Bernstein, apoiado na justa fama que adquiriu em Watergate, revelou que mais de 400 jornalistas e executivos da mídia trabalhavam para a CIA. A lista incluía jornalistas do New York Times, Time e das redes de televisão. Em 1991, Richard Norton Taylor, do Guardian, revelou números semelhantes, sobre seu país.
Hoje já nada disso é necessário. Duvido muito que alguém tenha tido de pagar ao Washington Post e a muitos outros veículos para que se pusessem a acusar Edward Snowden de ajudar terroristas. Duvido que alguém precise pagar os que rotineiramente ofendem Julian Assange – embora, sim, haja muitas recompensas.
Para mim, é perfeitamente claro que a principal razão pela qual Assange atraiu tanta ira, violência e inveja é que o WikiLeaks pôs a nu toda uma elite política corrupta que é mantida à tona e no poder exclusivamente por jornalistas e jornalismos. Ao inaugurar uma extraordinária era de abertura e transparência, Assange fez inimigos mortais, porque iluminar o papel dos cães de guarda da mídia e envergonhá-los. Assange tornou-se o arqui-inimigo, um alvo preferencial — mas, simultaneamente, galinha dos ovos de outro. Assinaram-se contratos lucrativos para livros e para filmes hollywoodianos, e carreiras chegaram aos píncaros da glória, nas costas de WikiLeaks e seu criador. Muita gente ganhou muito dinheiro, enquanto o WikiLeaks lutava para não morrer.
Nada disso foi mencionado em Estocolmo, dia 1ª/12, quando o editor do Guardian, Alan Rusbridger, partilhou com Edward Snowden o “Right Livelihood Award”, conhecido como o Prêmio Nobel da Paz alternativo. O mais chocante daquele evento foi que Assange e o WikiLeaks foram apagados do mundo. Como se não tivessem existido. Como se fossem não-pessoas. Ninguém falou em defesa do criador, do pioneiro absoluto do movimento de soar o alarme, de avisar do perigo mortal que se esconde na manipulação do noticiário pela imprensa. O homem que deu de presente ao Guardian um dos maiores furos de toda a história. E o mais importante de tudo: foram Assange e sua equipe de WikiLeaks quem, de fato – e brilhantemente – resgataram Edward Snowden em Hong Kong e o puseram em total segurança [em Moscou, onde hoje vive e trabalha]. Nem uma palavra.
O que tornou ainda mais gritante, irônica e desgraçada aquela censura por omissão, foi que a tal cerimônia realizava-se no Parlamento da Suécia – parlamento e autoridades cujo vergonhoso silêncio no caso construído contra Assange colaborou para um dos maiores golpes jamais assestados contra a justiça em Estocolmo.
“Quando a verdade é substituída pelo silêncio” – disse o dissidente soviético Yevtushenko – “o silêncio torna-se mentira.”
Esse tipo de silêncio mentira tem de ser quebrado pelos jornalistas. Que todos olhemos nossa própria cara no espelho. Temos de chamar às falas a imprensa submissa ao poder e ao dinheiro, e a psicose que mais uma vez ameaça arrastar o mundo à guerra.
No século 18, Edmund Burke descreveu o papel da imprensa como um Quarto Poder que fiscalizaria os poderosos.  Não sei sequer se alguma imprensa algum dia fez tal coisa. Mas sei, com certeza absoluta, que, hoje, nenhuma faz. Acho que precisamos de um Quinto Estado: jornalismo que monitore, que desconstrua e que enfrente a propaganda e que ensine os mais jovens a defender os mais fracos e mais pobres, não os mais ricos e mais poderosos.
Para mim, jornalismo tem de ser a insurreição do saber subjugado.
Estamos diante do centenário da 1ª Guerra Mundial. Na época os jornalistas foram recompensados e prestigiados por seu silêncio e covardia. No auge do banho de sangue, o primeiro-ministro britânico David Lloyd George confidenciou a C.P. Scott, editor do Manchester Guardian: “Se as pessoas conhecessem a verdade, a guerra acabaria amanhã cedo. Mas não conhecem nem podem conhecer.”
Ainda não conhecem. Mas, com certeza, já é hora de conhecerem.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Ninguém passa impune pelo pacto com o diabo

Apenas um dia após a vitório de Dilma no primeiro turno leio o parágrafo abaixo em Editorial no Correio da Cidadania:

"Ninguém passa impune pelo pacto com o diabo. Sem capacidade de mobilizar a população e prisioneira de compromissos espúrios, Dilma ficará nas mãos da máfia que, a mando dos negócios, controla o Congresso Nacional. Vítima da própria covardia, que não lhe permitiu enfrentar a tirania dos magnatas da informação, será objeto diário da chantagem da grande mídia. Sem meios para defender-se, tornar-se-á ainda mais dócil às exigências do capital. Se ousar desafiá-lo, será imediatamente confrontada com o espectro do “impeachment” democrático. É o modo de funcionamento das democracias burguesas contemporâneas na periferia latino-americana do capitalismo."

É assustador!!! A ver! 
A matéria completa está AQUI

Para além do "Fla/Flu"

O texto abaixo foi publicado em 13 de outubro de 2014, ou seja, antes do já concluído segundo turno das eleições do qual saiu vitoriosa a Presidenta Dilma Rousseff. É uma avaliação de conjuntura muito interessante e que mostra a situação atual do PT como refém das alianças pela "governabilidade" concretizadas desde as duas gestões de Lula.
Parece que, na batalha do segundo turno, "a unificação de forças no campo da esquerda" conseguiu adquirir sinais de realidade na medida  em que, na prática, setores mais à esquerda dentro do PT caminharam juntos ao PSOL, Luciana Genro, PCB, PSTU e demais setores da sociedade que clamam por reformas de caráter progressista. 
Amorim de Andrade

Além do duelo Dilma versus Aécio
ESCRITO POR HAMILTON OCTAVIO DE SOUZA 

Originalmente publicado em Correio da Cidadania

Após o descarte da súbita candidatura de Marina, o processo eleitoral de 2014 caminha agora em terreno mais seguro para o capital, em especial para os grupos dominantes que convivem muito bem tanto com os governos do PSDB quanto com os governos do PT. Com Dilma e Aécio, não existe mais o risco de qualquer surpresa, já que a limitada e controlada democracia brasileira retorna ao padrão de estabilidade dos últimos pleitos, pelo menos desde 1994. Tanto é que ambos são fortemente financiados por empreiteiras, bancos e grandes empresas subsidiadas pelo BNDES.

As avaliações do primeiro turno continuam alimentando a imprensa, os meios políticos e acadêmicos. Predomina, no geral, a percepção de que ocorreu um avanço conservador nas eleições proporcionais para deputados estaduais e federais, e na majoritária do Senado, não apenas devido ao aumento de parlamentares dos partidos de centro e de direita, mas porque em geral defendem posições contrárias às demandas dos movimentos sociais populares. As bancadas evangélica, ruralista, da bala (policiais e militares) e dos inúmeros lobbies de grupos empresariais privados praticamente imobilizam o Congresso Nacional e as assembleias estaduais.

Não é para menos: na campanha eleitoral do primeiro turno, a propaganda dos candidatos majoritários e proporcionais girou em torno da segurança pública (leia-se mais repressão em cima dos negros, pobres e manifestantes em geral) e da crítica às pautas dos movimentos LGBT, pela legalização do aborto e pela descriminalização da maconha. Com raríssimas exceções , de partidos como o PSOL, PCB, PSTU e PCO, todos os demais partidos se empenharam no discurso conservador, da mudança dentro da ordem vigente, o que combina com a postura editorial da mídia hegemônica e com a formação da opinião pública nos mais diferentes ambientes institucionais.

Agora no segundo turno devemos assistir ao videotape das campanhas de 2006 e 2010, com a mais brutal troca de acusações, as comparações exageradas e mentirosas entre as obras de cada um, os apelos emocionais típicos de religiões fundamentalistas nas sessões de exorcismo e de torcidas organizadas nos estádios de futebol. Essa disputa acirrada levada ao extremo de decisão entre vida e morte acaba por encobrir o que realmente está em jogo, qual é a verdadeira conjuntura política e econômica e o que existe de alternativa ao contínuo embate entre as classes trabalhadoras e as forças do capital.

É preciso deixar de lado as picuinhas trocadas pelas candidaturas, as artimanhas dos marqueteiros e os discursos rasteiros dos militantes e fanáticos de plantão, e fazer uma leitura mais cuidadosa e aprofundada sobre o que teremos no dia 26 de outubro e o que precisaremos ter para as batalhas que se apresentam no horizonte imediato. Não se trata de tangenciar a busca de uma saída inspirada no socialismo, mas de identificar de pronto o que mais ameaça o povo brasileiro na atual etapa do modelo dominante. O que enfim precisa ser superado na direção de uma sociedade mais democrática, justa e igualitária.

Esgotamento

Não há a menor dúvida de que os governos do PT, de 2003 em diante, conseguiram promover avanços sociais significativos para as parcelas mais pobres e exploradas da população, seja com programas compensatórios como bolsa-família, Prouni, Minha Casa Minha Vida, seja com aumentos reais do salário mínimo, com a consequente redução da desigualdade durante anos seguidos. Isso, a despeito de terem prosseguido as políticas neoliberais adotadas nos governos anteriores do PSDB, com as privatizações de rodovias, aeroportos, portos e das reservas do pré-sal, além do carreamento de recursos públicos para os grupos privados da educação, da saúde e de inúmeros serviços públicos.

O reconhecimento do que foi feito não pode servir jamais para encobrir ou desviar a nossa atenção sobre a situação atual, sobre o que aconteceu nos últimos anos do governo Dilma, sobre a realidade econômica do país e a condição política do arco de alianças constituído depois de 2002. O que importa agora é ter claro por que o quadro econômico alterou a situação que permitiu, e não permite mais, que se tenham avanços sociais; por que o quadro político alterou a correlação de forças na sociedade de tal maneira que o antigo arco de alianças não é mais capaz de promover novos avanços.

A aliança que o PT construiu com setores da burguesia (partidos de centro e de direita), que possibilitou avanços sociais durante vários anos (ampliação do bolsa-família, aumento real do salário mínimo, Prouni), chegou ao seu limite de conquistas, está patinando nos últimos dois a três anos, demonstra sinais claros de esgotamento, de tal maneira que não dispõe de energia suficiente nem para avançar mais e nem para segurar as conquistas e impedir o retrocesso.

Não consegue avançar. A prova real dessa impotência é que não consegue levar adiante a reforma agrária, congelada durante todo o governo Dilma; não consegue mobilizar para a reforma política, nem com proposta de constituinte exclusiva; não consegue concretizar novos aumentos reais do salário mínimo, com PIB perto de zero; não consegue acabar com o fator previdenciário, antiga reivindicação de trabalhadores e aposentados; não consegue levar adiante as apurações da Comissão da Verdade, nem nos quartéis nem no Judiciário; não consegue promover a democratização da comunicação social, apesar da danosa manipulação dos oligopólios privados; não consegue concluir a regulamentação do FGTS para os empregados domésticos; não consegue baixar os juros dos bancos e do comércio, com a Selic em 11% ao ano. Enfim, está com toda a agenda do desenvolvimento progressista empacada, patinando, e sem qualquer possibilidade de ser concretizada no próximo quatriênio.

Não segura o retrocesso. A prova disso é o descontrole geral dos preços, com câmbio artificial para favorecer importações de bens de consumo e juros altos para agradar os rentistas, o que provoca aumento da inflação acima da meta pré-fixada; a estagnação industrial sinaliza para o aumento do desemprego formal, em especial nos setores vitaminados com desonerações de impostos e linhas especiais de crédito; a curva da desigualdade, que vinha decrescendo, estancou de novo e pode provocar novo distanciamento entre ricos e pobres; o governo não consegue atrair investimentos nos setores produtivos por absoluta instabilidade interna; a dívida pública cresce e o governo usa artifícios de manipulação contábil para esconder o aumento do déficit público. Tudo indica que, após as eleições, ou no próximo governo, haverá um forte ajuste fiscal para conter o rombo no orçamento, e serão necessários reajustes nos preços dos combustíveis, energia elétrica e do câmbio, com desdobramentos em cadeia no custo de vida. Os trabalhadores e os segmentos populares é que vão pagar, mais uma vez, com arrocho salarial e desemprego.

Perspectiva

É evidente que o avanço na direção de novas conquistas sociais e da melhoria geral de condições de vida do povo depende agora de outra e nova articulação de forças políticas. De forças que combinem a ação institucional com as mobilizações populares e dos trabalhadores para exigir avanços sociais. É preciso recuperar a energia das mobilizações e dos protestos de 2013, por mudanças, num movimento de transformações sociais. Será preciso arrancar tais conquistas do bloco de poder. Só mesmo com uma ampla articulação à esquerda, decidida a fazer o enfrentamento aos grupos dominantes do capital, será possível romper com o status atual do grande pacto conservador, fortalecido ainda mais no primeiro turno das eleições de 2014.

A nova articulação precisa contar com a unificação de forças no campo da esquerda, inclusive com as correntes petistas que não se renderam ao neoliberalismo, numa frente que dialogue, atraia e reúna os movimentos sociais populares (sem terra, sem teto, negros, índios, mulheres, LGBT), sindicatos de trabalhadores, movimento estudantil, intelectualidade e academia, profissionais liberais progressistas, defensores dos direitos humanos e os setores democráticos mais avançados.

A eventual vitória da Dilma deixará os setores progressistas e de esquerda do PT mais uma vez a reboque das alianças conservadoras e da direita, numa situação econômica que não permite mais avanços sociais sem o devido enfrentamento com o capital. Esses setores tendem a ser cada vez mais espectadores de um processo de degradação acelerada das conquistas sociais dos anos anteriores. Não dá para ser passageiro no ônibus das alianças conservadoras, é preciso ser protagonista no bloco das oposições populares revolucionárias e de esquerda.

A eventual vitória de Aécio vai provocar uma corrida fisiológica dos aliados do PT para o campo governista, serão abrigados dentro do pacto conservador para manter o modelo funcionado: no campo político e comportamental, com Congresso Nacional conservador e Judiciário das classes dominantes; no campo econômico, juros altos para os rentistas, dinheiro público subsidiado para grandes grupos empresariais e câmbio favorável às importações para o consumo de baixa renda. E para os descontentes em geral, mais criminalização e mais repressão policial.

O voto em Dilma ou em Aécio não muda essa conjuntura. Ambos disputam o voto popular com promessas de toda ordem porque o voto popular decide a eleição; mas ambos se empenham realmente em fazer concessões, cada vez maiores, aos grupos do poder, aos capitais nacional e estrangeiro. É com eles que vão governar. Ao povo, aos trabalhadores, aos democratas progressistas, aos movimentos sociais e aos militantes das esquerdas compete dar o primeiro passo na construção de uma ampla frente popular de oposição e de esquerda, que seja anticapitalista e aponte na direção do socialismo. Vote na retomada das lutas sociais após 26 de outubro.

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor.

domingo, 2 de novembro de 2014

COMO A REVISTA VEJA VIROU PANFLETO

Quero deixar registrado em meu blog essa história contada por Ricardo Kotscho em seu blog e que mostra porque a Veja desisitiu de fazer jornalismo e se transformou numa raivosa máquina panfletária de perseguição ao PT e seus aliados à esquerda.
Amorim

Melancólico fim da revista “Veja”, de Mino a Barbosa

Uma das histórias mais tristes e patéticas da história da imprensa brasileira está sendo protagonizada neste momento pela revista semanal "Veja", carro-chefe da  Editora Abril, que já foi uma das maiores publicações semanais do mundo.
Por Ricardo Kotscho, em seu blog
Criada e comandada nos primeiros dos seus 47 anos de vida, pelo grande jornalista Mino Carta, hoje ela agoniza nas mãos de dois herdeiros de Victor Civita, que não são do ramo, e de um banqueiro incompetente, que vão acabar quebrando a "Veja" e a Editora Abril inteira do alto de sua onipotência, que é do tamanho de sua incompetência.
Para se ter uma ideia da política editorial que levou a esta derrocada, vou contar uma história que ouvi de Eduardo Campos, em 2012, quando ele foi convidado por Roberto Civita, então dono da Abril, para conhecer a editora.
Os dois nunca tinham se visto. Ao entrar no monumental gabinete de Civita no prédio idem da Marginal Pinheiros, Eduardo ficou perplexo com o que ouviu dele. "Você está vendo estas capas aqui? Esta é a única oposição de verdade que ainda existe ao PT no Brasil. O resto é bobagem. Só nós podemos acabar com esta gente e vamos até o fim".
É bem provável que a Abril acabe antes de se realizar a profecia de Roberto Civita. O certo é que a editora, que já foi a maior e mais importante do país, conseguiu produzir uma "Veja" muito pior e mais irresponsável depois da morte dele, o que parecia impossível.
A edição 2.393 da revista, que foi às bancas neste sábado, é uma prova do que estou dizendo. Sem coragem de dedicar a capa inteira à "bala de prata" que vinham preparando para acabar com a candidatura de Dilma Rousseff, a uma semana das eleições presidenciais, os herdeiros Civita, que não têm nome nem história próprios, e o banqueiro Barbosa, deram no alto apenas uma chamada: " EXCLUSIVO - O NÚCLEO ATÔMICO DA DELAÇÃO _ Paulo Roberto Costa diz à Polícia Federal que em 2010 a campanha de Dilma Rousseff pediu dinheiro ao esquema de corrupção da Petrobras". Parece coisa de boletim de grêmio estudantil.
O pedido teria sido feito pelo ex-ministro Antonio Palocci, um dos coordenadores da campanha da então candidata Dilma Rousseff, ao ex-diretor da Petrobras, para negociar uma ajuda de R$ 2 milhões junto a um doleiro que intermediaria negócios de empreiteiras fornecedoras da empresa.
A reportagem não informa se há provas deste pedido e se a verba foi ou não entregue à campanha de Dilma, mas isso não tem a menor importância para a revista, como se o ex-todo poderoso ministro de Lula e de Dilma precisasse de intermediários para pedir contribuições de grandes empresas. Faz tempo que o negócio da "Veja" não é informar, mas apenas jogar suspeitas contra os líderes e os governos do PT, os grandes inimigos da família.
E se os leitores quiserem saber a causa desta bronca, posso contar, porque fui testemunha: no início do primeiro governo Lula, o presidente resolveu redistribuir verbas de publicidade, antes apenas reservadas a meia dúzia de famílias da grande mídia, e a compra de livros didáticos comprados pelo governo federal para destinar a esc0las públicas.
Ambas as medidas abalaram os cofres da Editora Abril, de tal forma que Roberto Civita saiu dos seus cuidados de grande homem da imprensa para pedir uma audiência ao presidente Lula. Por razões que desconheço,  o presidente se recusava a recebe-lo.
Depois do dono da Abril percorrer os mais altos escalões do poder, em busca de ajuda, certa vez, quando era Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, encontrei Roberto Civita e outros donos da mídia na ante-sala do gabinete de Lula, no terceiro andar do Palácio do Planalto."
"Agora vem até você me encher o saco por causa deste cara?", reagiu o presidente, quando lhe transmiti o pedido de Civita para um encontro, que acabou acontecendo, num jantar privado dos dois no Palácio da Alvorada, mesmo contra a vontade de Lula.
No dia seguinte, na reunião das nove, o presidente queria me matar, junto com os outros ministros que tinham lhe feito o mesmo pedido para conversar com Civita. "Pô, o cara ficou o tempo todo me falando que o Brasil estava melhorando. Quando perguntei pra ele porque a "Veja" sempre dizia exatamente o contrário, esculhambando com tudo, ele me falou: `Não sei, presidente, vou ver com os meninos da redação o que está acontecendo´. É muita cara de pau. Nunca mais me peçam pra falar com este cara".
A partir deste momento, como Roberto Civita contou a Eduardo Campos, a Abril passou a liderar a oposição midiática reunida no Instituto Millenium, que ele ajudou a criar junto com outros donos da imprensa familiar que controla os meios de comunicação do país.
Resolvi escrever este texto, no meio da minha folga de final de semana, sem consultar ninguém, nem a minha mulher, depois de ler um texto absolutamente asqueroso publicado na página 38 da revista que recebi neste final de semana, sob o título "Em busca do templo perdido". Insatisfeitos com o trabalho dos seus pistoleiros de aluguel, os herdeiros e o banqueiro da "Veja" resolveram entregar a encomenda a um pseudônimo nominado "Agamenon Mendes Pedreira".
Como os caros leitores sabem, trabalho faz mais de três anos aqui no portal R7 e no canal de notícias Record News, empresas do grupo Record. Nunca me pediram para escrever nem me proibiram de escrever nada. Tenho aqui plena autonomia editorial, garantida em contrato, e respeitada pelos acionistas da empresa.
Escrevi hoje apenas porque acho que os leitores, internautas e telespectadores, que formam o eleitorado brasileiro, têm o direito de saber neste momento com quem estão lidando quando acessam nossos meios de comunicação.


















sábado, 11 de outubro de 2014

O fascismo ronda o Brasil em 2014 – Por Frei Betto.

por Equipe Palavreiros da Hora em 

O fascismo ronda o Brasil em 2014 – Por Frei Betto.

Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.
Jean-Marie le Pen, líder da direita francesa, sugeriu deter o surto demográfico na África e estancar o fluxo migratório de africanos rumo à Europa enviando, àquele sofrido continente, “o senhor Ebola”, uma referência diabólica ao vírus mais perigoso que a humanidade conhece. Le Pen fez um convite ao extermínio.
O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy propôs a suspensão do Tratado de Schengen, que defende a livre circulação de pessoas entre trinta países europeus. Já a livre circulação do capital não encontra barreiras no mundo… E nas eleições de 25 de maio a extrema-direita europeia aumentou o número de seus representantes no Parlamento Europeu.
A queda do Muro de Berlim soterrou as utopias libertárias. A esquerda europeia foi cooptada pelo neoliberalismo e, hoje, frente a crise que abate o Velho Mundo, não há nenhuma força política significativa capaz de apresentar uma saída ao capitalismo.
Aqui no Brasil nenhum partido considerado progressista aponta, hoje, um futuro alternativo a esse sistema que só aprofunda, neste pequeno planeta onde nos é dado desfrutar do milagre da vida, a desigualdade social e a exclusão.
Caminha-se de novo para o fascismo? Luis Britto García, escritor venezuelano, frisa que uma das características marcantes do fascismo é a estreita cumplicidade entre o grande capital e o Estado. Este só deve intervir na economia, como apregoava Margareth Thatcher, quando se trata de favorecer os mais ricos. Aliás, como fazem Obama e o FMI desde 2008, ao se desencadear a crise financeira que condena ao desemprego, atualmente, 26 milhões de europeus, a maioria jovens.
O fascismo nega a luta de classes, mas atua como braço armado da elite. Prova disso foi o golpe militar de 1964 no Brasil. Sua tática consiste em aterrorizar a classe média e induzi-la a trocar a liberdade pela segurança, ansiosa por um “messias” (um exército, um Hitler, um ditador) capaz de salvá-la da ameaça.
A classe média adora curtir a ilusão de que é candidata a integrar a elite embora, por enquanto, viaje na classe executiva. Porém, acredita que, em breve, passará à primeira classe… E repudia a possibilidade de viajar na classe econômica.
Por isso, ela se sente sumamente incomodada ao ver os aeroportos repletos de pessoas das classes C e D, como ocorre hoje no Brasil, e não suporta esbarrar com o pessoal da periferia nos nobres corredores dos shopping-centers. Enfim, odeia se olhar no espelho…
O fascismo é racista. Hitler odiava judeus, comunistas e homossexuais, e defendia a superioridade da “raça ariana”. Mussolini massacrou líbios e abissínios (etíopes), e planejou sacrificar meio milhão de eslavos “bárbaros e inferiores” em favor de cinquenta mil italianos “superiores”…
O fascismo se apresenta como progressista. Mussolini, que chegou a trabalhar com Gramsci, se dizia socialista, e o partido de Hitler se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista (de Nationalsozialist).
Os fascistas se apropriam de símbolos libertários, como a cruz gamada que, no Oriente, representa a vida e a boa fortuna. No Brasil, militares e adeptos da quartelada de 1964 a denominavam “Revolução”.
O fascismo é religioso. Mussolini teve suas tropas abençoadas pelo papa quando enviadas à Segunda Guerra. Pio XII nunca denunciou os crimes de Hitler. Franco, na Espanha, e Pinochet, no Chile, mereceram bênçãos especiais da Igreja Católica.
O fascismo é misógino. O líder fascista jamais aparece ao lado de sua mulher. Como dizia Hitler, às mulheres fica reservado a tríade Kirche, Kuche e Kinder (igreja, cozinha e criança).
O fascismo é anti-intelectual. Odeia a cultura. “Quando ouço falar de cultura, saco a pistola”, dizia Goering, braço direito de Hitler. Quase todas as vanguardas culturais do século XX foram progressistas:expressionismo, dadaísmo, surrealismo, construtivismo, cubismo, existencialismo. Os fascistas as consideravam “arte degenerada”.
O fascismo não cria, recicla. Só se fixa no passado, um passado imaginário, idílico, como as “viúvas” da ditadura do Brasil, que se queixam das manifestações e greves, e exalam nostalgia pelo tempo dos militares, quando “havia ordem e progresso”. Sim, havia a paz dos cemitérios… assegurada pela férrea censura, que impedia a opinião pública de saber o que de fato ocorria no país.
O fascismo é necrófilo. Assassinou Vladimir Herzog e frei Tito de Alencar Lima; encarcerou Gramsci e madre Maurina Borges; repudiou Picasso e os teatros Arena e Oficina; fuzilou García Lorca, Victor Jara, Marighella e Lamarca; e fez desaparecer Walter Benjamin e Tenório Júnior.
Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"Não queremos os fantasmas do passado." - Dilma Roussef


Dilma disse em seu discurso após a promulgação dos resultados do primeiro turno: “Não queremos os fantasmas do passado: a recessão e o arrocho. O povo não quer mais aqueles que chamavam aposentado de vagabundo. Não quer mais racionamento de energia, nem aqueles que se ajoelhavam para o FMI ."
Transcrevo a seguir uma boa avaliação feita por Rodrigo Viana e os possíveis ensinamentos que podem ser deduzidos desse delicado e importante momento histórico.

por Rodrigo Vianna

O primeiro balanço a se fazer da eleição é o institucional. E esse é bastante contraditório. O PT (Dilma) termina o primeiro turno com cerca de 5 pontos a menos do que conquistou em 2010: teve quase 47% dos votos há quatro anos; e agora ficou com cerca de 42%. Aécio teve os mesmos 33% de Serra em 2010 (parte do eleitorado tucano, que ensaiou uma revoada em direção a Marina depois da morte de Eduardo, voltou para o ninho original). Já Marina teve 21% agora – contra 19% em 2010.
Fora isso, o PSOL praticamente dobrou a votação. Luciana Genro colheu algum resultado pela coragem de enfrentar temas dos quais o PT foge. Mas é um crescimento ainda residual, que mal chega à casa de 2% dos votos.
Na disputa efetiva pelo poder, a conta para o segundo turno, de saída, é a seguinte…
- Aécio (segundo as pesquisas, que até agora erraram demais) deve ficar com ao menos 60% dos votos de Marina. Ou seja, dos 21% de Marina, 13% devem seguir para o tucano – são os votos marineiros do Sul e Sudeste, principalmente. Ele também deve garantir mais cerca de 2% dos nanicos conservadores(Pastor Everaldo e Levy Fidelix). Resumo/Aécio: 33% do primeiro turno + 13% de Marina + 2% dos nanicos = 48%.
- Dilma, que teve quase 42%, deve herdar pouco mais de um terço dos votos de Marina (especialmente os votos do Nordeste e Norte), além de capturar boa parte do eleitorado que votou no PSOL. Resumo/Dilma: 42% do primeiro turno + 8% de Marina + 2% da esquerda = 52%.
Essa é minha aposta inicial: 52% a 48%. O segundo turno será duríssimo. E a distância pode encurtar ainda mais, já que Dilma terá contra si a oposição cerrada da mídia e o discurso de ódio que avança em São Paulo, Brasília e outras cidades brasileiras.
“Um quadro venezuelano de disputa”, foi assim que resumi o cenário para um colega jornalista. Ele riu, e concordou.
Venezuelano não só pela disputa apertada. Mas pelo grau de conflagração verbal e política. Dilma deu uma pista do que será essa disputa, no discurso aqui em Brasília – neste domingo à noite. Agradeceu centrais sindicais, partidos, exaltou a figura de Lula e a militância. Depois, atacou: “não queremos os fantasmas do passado, a recessão e o arrocho. O povo não quer mais aqueles que chamavam aposentado de vagabundo. Não quer mais racionamento de energia, nem aqueles que se ajoelhavam para o FMI”.
Dilma não citou FHC. Mas tá na cara que a estratégia petista será comparar: FHC x Lula. Qual projeto beneficiou mais gente no Brasil?
Estamos diante de uma situação curiosa, e perigosa. O PT, que ao longo de 12 anos apostou em ganhar terreno sem politização e sem confronto aberto, agora será obrigado ao confronto. É uma questão de sobrevivência. Ou Dilma parte para o confronto, ou perde. O eleitorado aceitará essa estratégia, para a qual não vendo sendo preparado nos últimos anos?
O PT terá que arriscar. A redução da bancada na Câmara (o PT recuou para 70 deputados, e o PCdoB perdeu um terço dos parlamentares) dá uma pista de que a falta de apetite para o combate simbólico está custando caro demais para a esquerda.
A direita avança: na sociedade, nas telas da TV e do rádio, no discurso do ódio, e agora também no Parlamento. A despolitização cobra seu preço. A água bate no pescoço. É confrontar ou morrer.
Aliás, mesmo que Dilma consiga vencer (a batalha será duríssima, repito), sofrerá muito no Senado (Serra, Tasso Jereissati, Aloysio, Alvaro Dias, Caiado, Lasier da RBS, Ana Amélia – o núcleo duro e ideológico da direita se reorganiza por ali) e na Cãmara – (onde vai imperar a absoluta dispersão de bancadas). Uma direita tacanha, moralista, que mistura hipocrisia religiosa com arreganhos facistas, avança na mesma velocidade em que a esquerda vira o demônio a se eliminar.
Tempos difíceis nos aguardam.
Mas há resultados contraditórios também para a oposição. Aécio chegou – sim - com força para o segundo turno, mas perdeu Minas. Um baque considerável. Pela primeira vez, o PT elegeu um governador no Sudeste.
O PT ganhou também Bahia, Piauí, e deve vencer no Ceará – em aliança com os irmãos Gomes (Cid e Ciro); o PCdoB venceu no Maranhão.
O núcleo mais atucanado do PMDB (Geddel foi derrotado na Bahia, e Henrique Alves vai suar no segundo turno no Rio Grande do Norte) perdeu força.
Mas, então, quem ganhou? O conservadorismo difuso, a geléia geral da fisiologia.
Junho de 2013 e a tal “nova” Política terminaram nessa miscelânea de Bolsonaros, Malafaias, Russomanos… Por enquanto, é a direita que colhe os melhores resultados do “desencanto” com a Política (desencanto? Com Pezão no Rio e Alckmin em São Paulo?).
O PSOL conseguiu ampliar a bancade de 3 para 5 deputados (incluindo gente muito boa: Ivan Valente de São Paulo, Edmilson Rodrigues do Pará e Jean Willis do Rio). Mas é pouco, pouquíssimo.

De um lado, o país mostrou maturidade ao levar ao segundo turno dois projetos de verdade (PT x PSDB). De outro, deu força para o conservadorismo congressual. Ganhe quem ganhar, o quadro será de paralisia, com dificuldades imensas para governar a partir de 2015.