PenseLivre On Line

Como dizia apropriadamente Samuel Wainer: A PENA É LIVRE, MAS O PAPEL TEM DONO.
Os blogs permitem que, por algum momento, possamos ter a pena livre e, ao mesmo tempo, ter a propriedade do papel.
Neste blog torno públicas algumas reflexões pessoais, textos e publicações pinçadas da web e que me fizeram pensar e repensar melhor a realidade.
Este blog é uma pretenção cidadã e...nada mais!

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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

“Medicamento que cura não dá lucro”

Richard J. Roberts: "É habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores". Foto de Wally Hartshorn


Acabo de ler a matéria abaixo na qual o Prémio Nobel da Medicina Richard J. Roberts denuncia a forma como funcionam as grandes indústrias farmacêuticas dentro do sistema capitalista. Elas dão preferência aos medicamentos que tornam a doença crônica e desestimulam ou bloqueiam a pesquisa de medicamento que poderia curar as doenças. O texto original, em espanhol, foi publicado no jornal LA VANGUARDIA.
A tradução abaixo eu encontrei em ESQUERDA.NET. Provavelmente não leremos isto em nossa mídia gorda que tem seus vínculos econômicos com a indústria farmacêutica.
José Amorim de Andradwe (Médico)

"As farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis

"
Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Prémio Nobel Richard J. Roberts, que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos cronificadores que sejam consumidos de forma serializada. Isto, diz Roberts, faz também com que alguns medicamentos que poderiam curar uma doença não sejam investigados. E pergunta-se até que ponto é válido e ético que a indústria da saúde se reja pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista, que chega a assemelhar-se ao da máfia.
A investigação pode ser planeada?
Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pelas Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projectos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los-ia trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.
Parece uma boa política.
Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada ...
E não é assim?
Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.
Como nasceu?
A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.
Uma aventura.
Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o cancro em 1971.
Foi cientificamente produtivo?
Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o cancro, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.
O que descobriu?
Eu e o Phillip Allen Sharp fomos recompensados pela descoberta de introns no DNA eucariótico e o mecanismo de gen splicing (manipulação genética).
Para que serviu?
Essa descoberta ajudou a entender como funciona o DNA e, no entanto, tem apenas uma relação indirecta com o cancro.
Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?
É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é activo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espectacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de saúde... Eu tenho as minhas reservas.
Entendo.
A investigação sobre a saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas.
Explique.
A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais ...
Como qualquer outra indústria.
É que não é qualquer outra indústria: nós estamos a falar sobre a nossa saúde e as nossas vidas e as dos nossos filhos e as de milhões de seres humanos.
Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.
Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.
Por exemplo...
Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença ...
E por que pararam de investigar?
Porque as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
É uma acusação grave.
Mas é habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
Há dividendos que matam.
É por isso que lhe dizia que a saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.
Um exemplo de tais abusos?
Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.
Não fala sobre o Terceiro Mundo?
Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.
Os políticos não intervêm?
Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.
Há de tudo.
Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras…
18 de Junho, 2011


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Mais Médicos x Maus Médicos

A indignação com a postura das entidades médicas (CFM e filiadas, AMB e quetais) no que diz respeito ao programa mais médicos vai se espalhando pelo país. O que estará pensando a população das cidades alvo do programa do governo? Sequer foram consultadas!  Transcrevo abaixo a opinião de Washington Araújo.

 

Que tal assumir um posto de saúde em Tefé ou em Santo Antonio do Salto da Onça?

O cinismo e a desfaçatez é a pior face do corporativismo médico.
Com a aceleração da execução do programa do governo federal Mais Médicos, os porta-vozes do atraso e da irresponsabilidade, geralmente presidentes de conselhos e associações médicas, encontram imenso espaço na mídia tradicional para revelar seus interesses mesquinhos: manter a população carente sem médicos para assim manter seu poder de barganha junto ao Ministério da Saúde, às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.
A agenda – antes oculta – revela-se agora escancarada. A vinda de médicos estrangeiros para o Brasil coloca em risco de morte qualquer possibilidade de êxito na longa queda-de-braço entre governos e classe médica. O governo, seja de qual cor partidária for, sabe que precisa disponibilizar médicos pelo Brasil profundo. As corporações médicas sabe que somente acuando o governo poderá efetivamente aumentar seus salários, diminuir a carga horária semanal dos médicos, criar a ambicionada carreira de Estado para profissionais da saúde, hipervalorizar o pagamento de horas extras, superdimensionar o preço dos plantões.. E a lista... é infindável.
Lamentavelmente, alguns países europeus como a França e a Alemanha, mostram sempre que pode, sua carranca xenofóbica. O Brasil não precisa se alinhar a eles, ainda mais em se tratando da vinda de médicos, sejam de Cuba, sejam de Marte. Será necessário repisar argumentos óbvios? Não nos esqueçamos jamais de que o Brasil, desde o início, foi e é um país de imigrantes. Porque brasileiros legítimos mesmo, apenas os nossos indígenas o são, já que quando os portugueses por aqui aportaram há cerca de 500 atrás, já os encontraram aqui nesta Pindorama até então desconhecida do restante do mundo.
O que se busca com tanto esperneio amplificado generosamente por meios de comunicação que também priorizam suas agendas partidárias é nada mais que manter a reserva de mercado para a prestação de assistência médica à população.
A propósito, não seria uma boa iniciativa que o Conselho Federal de Medicina, tão ousado em boicotar o programa Mais Médicos, providenciasse missões de médicos brasileiros para áreas muito necessitadas desses profissionais, países como a Tanzânia, Zanzibar, Síria, Faixa de Gaza, Gabão, Somália? Por que ninguém critica programas mantidos por organismos como as Nações Unidas,Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha e Crescente Verde? Todos esses programas, alguns reconhecidos com o Nobel da Paz, enviam médicos para regiões de conflitos, áreas de risco ou apenas de grande pobreza e nunca colocam como prerequisito que em tais locais existam hospitais bem equipados, postos de saúde com linhas telefônicas funcionando, sistema de água corrente.
Mas no caso do Brasil, o CFM em sua insana luta para manter o status quo de pessoas morrendo por falta de assistência médica básica, passa a brandir argumentos risíveis – “não adianta ter médicos sem hospitais”, “não adianta médicos sem centros cirúrgicos” – como se deixando a população à própria sorte fosse muito mais sábio e razoável que colocar à sua disposição médicos vindos de outros países. A verdade é que boa parte dos médicos brasileiros não cogitam, nem de longe, residir em um rincão afastado dos grandes centros urbanos, sem as comodidades do acesso a bons supermercados, bons cinemas e teatros, sem acesso a bons clubes e shoppings. É tanto que em uma primeira fase o Mais Médicos deu preferência a médicos brasileiros. E qual foi o resultado? Ao menos 701 municípios de praticamente todos os Estados do país não receberam uma mísera inscrição. Isso significa que 701 municípios continuarão sem contar com um médico sequer para atender à saúde de sua população.
Isso é justo?
No caso dos 4.000 médicos cubanos prontos para virem ao Brasil pelo programa Mais Médicos 84% deles contam com mais de 16 anos de experiência médica, e a maioria detêm experiência no exercício da medicina em países diversos dos seus. Então, qual o problema?
O problema é o cinismo e a desfaçatez levados a extremo. Querem partidarizar o atendimento público de saúde. E para isso contam, como sói poderia se esperar, com a velha e tradicional mídia – a mídia que torce pelo quanto pior melhor como melhor atalho para virar o jogo político.
Precisamos urgentemente de um organismo nos moldes da organização não-governamental ‘Médico Sem Fronteiras’ atuando dentro do Brasil. Sem fronteiras ideológicas, sem fronteiras corporativistas, sem fronteiras elitistas. Existem médicos abnegados. E muitos. Nem precisam ir para a Somália ou o Haiti. Bastam ir para o interior da Amazônia, da Bahia, do Rio Grande do Sul. A dor humana não tem nacionalidade. Nem a enfermidade.
Aos médicos que criticam a vinda dos cubanos, um conselho:
"Ao invés de boicotarem qualquer iniciativa para a vinda de médicos estrangeiros, porque não pensam em assumir posto de saúde em Tefé ou em Santo Antonio do Salto da Onça?"

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com

Mais Médicos

Pela relevância das informações contidas faço questão de transcrever para este meu pequeno espaço jornalístico a matéria abaixo. Parabéns, Beto Almeida.

Médicos cubanos: avança a integração da América Latina!

Jornalista Beto Almeida

Não faltaram emoção, lágrimas e dignidade na chegada dos 176 médicos cubanos, que desembarcaram neste sábado à noite em Brasília, para um trabalho indispensável em municípios brasileiros, mais de 700, ainda sem qualquer assistência médica. Quando aqueles cidadãos cubanos, muitos deles negros, muitas mulheres, com bandeirolas brasileiras e cubanas nas mãos, pisaram o solo brasileiro, ali estava o retrato do enorme progresso social, educacional e sanitário alcançado pela Revolução Cubana. Mas, também, uma prova concreta de que a integração da América Latina está avançando; não é só comércio, é também saúde. O Brasil coopera com Cuba na construção do Complexo Portuário de Mariel - sua mais importante obra de infraestrutura atualmente - e Cuba coopera com o Brasil preenchendo uma lacuna imensa, a falta de médicos.
A campanha conservadora contra a integração latino-americana sofrerá um revés tremendo quando o programa Mais Médicos , começar a apresentar seus efeitos concretos. Esses resultados terão a força para revelar o teor medieval das críticas feitas pelas representações médicas e pela mídia teleguiada pela publicidade da indústria farmacêutica.
Volumosa desinformação

Tendo em vista o volume de desinformação que circulou contra a vinda de médicos estrangeiros, mas contra os médicos cubanos em especial, é obrigatório travar a batalha das idéias, primeiramente, em defesa da Revolução Cubana como uma conquista de toda a humanidade. Cercada, sabotada, agredida, a Revolução Cubana, que antes de 1959, possuía os mais tenebrosos indicadores sociais, analfabetismo massivo, mortalidade infantil indecente, desemprego e atraso social generalizado, consegue libertar-se da condição de colônia, e, mesmo sem ter uma base industrial como a brasileira, por exemplo, e passa a exportar médicos, professores, vacinas, desportistas.Exporta, principalmente, exemplos!
Esse salto histórico da Revolução Cubana deixa desconcertada a crítica, seja emanada pela mídia colonizada pelas lucrativas transnacionais fabricantes de fármacos ou equipamentos hospitalares, seja a crítica oligarquia difundida pelas representações médicas. Os que questionam a qualidade da formação profissional dos médicos cubanos são desafiados a responder por que a mortalidade infantil em Cuba é das mais baixas do mundo, sendo inferior, inclusive, àquela registrada no Estado de Washington, nos EUA?
Cuba e a libertação africana

Vale lembrar que Cuba possuía, antes de 1959, pouco mais de 6 mil médicos, dos quais, a metade deixou o país porque não queria perder privilégios, nem concordava com a socialização da saúde. Apenas cinco décadas depois, é esta mesma Cuba que tem capacidade de exportar milhares de médicos para socorrer o povo brasileiro de uma indigência grave construída por um sistema de saúde ainda determinado pelos poderosos interesses das indústrias hospitalar, farmacêutica e de equipamentos, que privilegiam a noção de uma medicina como um negócio, uma atividade empresarial a mais, não como um direito, como determina nossa constituição.
Já em 1963, quando a Revolução na Argélia precisou, iniciou-se a prática de cubana de enviar brigadas médicas aos povos irmãos. Ensanguentada pela herança da dominação francesa, a Revolução Argelina encontrou em Cuba a fraternidade concreta, quando ainda não havia na Ilha um contingente médico tão numeroso como o existente atualmente. Predominou sempre na Revolução Cubana, a idéia de que em matéria de solidariedade internacional comparte-se o que se tem, não o que lhe sobra. Foi exatamente ali, na Argélia, que se estabeleceram laços indestrutíveis entre a Revolução Cubana e os diversos movimentos de libertação da África. A partir de então, Cuba participou com brigadas militares e médicas em diversos processos de libertação nacional do continente. De tal sorte que, em 1966, a primeira campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no Congo, foi organizada por médicos cubanos! Os CRMs conhecem esta informação? Sabem que a poliomielite foi erradicada em Cuba décadas antes do Brasil fazê-lo?
Será o Revalida capaz de avaliar a dimensão libertadora da medicina cubana?

Quando Angola foi invadida por tropas do exército racista da África do Sul, baseado nas supremas leis do internacionalismo proletário, Agostinho Neto, presidente angolano, também médico e poeta, solicita a Fidel Castro ajuda militar para garantir a soberania da nação africana. Uma das mais monumentais obras de solidariedade foi realizada por Cuba que, ao todo, enviou a Angola, cerca de 400 mil homens e mulheres para, ao lado dos angolanos e namíbios, expulsar as tropas imperialistas sul-africanas tanto de Angola como da Namíbia. E sob a ameaça de uma bomba atômica, que Israel ofereceu à África do Sul, argumentando que as tropas cubanas tinham que ser dizimadas porque pretendiam chegar até Pretória..... Na heroica Batalha de Cuito Cuanavale - que todos os jornalistas, historiadores, militantes deveriam conhecer a fundo - lá estavam as tropas cubanas, mas lá estavam também as brigadas médicas de Cuba, que se espalharam por várias pontos de Angola. A vitória de Angola e da Namíbia contra a invasão da África do Sul, foi também a derrota do regime do Apartheid. Citemos Mandela: “ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos o fim do Apartheid a Cuba!”.
Qual exame Revalida será capaz de dimensionar adequadamente o desempenho de um médico cubano em Cuito Cuanavala, com sua maleta de instrumentos numa das mãos e na outra uma metralhadora, livrando a humanidade da crueldade do Apartheid? Como dimensionar o bem que o fim do Apartheid, com a decisiva participação cubana, proporcionou para a saúde social da História da Humanidade?
As crianças de Chernobyl em Cuba

O sentido de solidariedade internacionalista está tão plasmado na sociedade cubana que, quando aquele terrível acidente ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986, o estado cubano recebeu, das organizações dos Pioneiros - que congregam crianças e adolescentes cubanos - a proposta de oferecer tratamento médico às crianças contaminadas pela radioatividade vazada no desastre. Um documentário realizado pelo extinto Programa Estação Ciência, dirigido pelo jornalista Hélio Doyle, exibido com freqüência TV Cidade Livre de Brasília, registra como Cuba compartilhou seus recursos médicos e hospitalares, mas, sobretudo, sua fraterna solidariedade com cerca de 3 mil crianças russas que foram levadas para tratamento na Ilha, nas instalações dos Pioneiros, em Tarará. Destaque-se, primeiramente, que a ideia partiu dos Pioneiros. Segundo, que Cuba não se colocava na condição de doadora, mas apenas cumprindo um dever solidário. Lembravam que o povo soviético havia sido solidário com Cuba quando os EUA iniciaram o bloqueio contra a Ilha cortando a cota de petróleo e do açúcar, suspendendo o comércio bilateral, na década de 60. A URSS passou a comprar todo o açúcar cubano, pelo dobro do preço do mercado internacional, e a abastecer Cuba de petróleo, pela metade do preço de mercado mundial. São páginas escritas, em uma outra lógica, solidária, fraterna, socialista. É de se imaginar o quanto os dirigentes das representações médicas brasileiras poderiam aprender com aquelas crianças cubanas que ofertaram tratamento às 3 mil crianças russas, um contingente menor que o de médicos cubanos que virão para o Brasil?
Impublicável

A cooperação entre Brasil e Cuba, em matéria de saúde, não está iniciando-se agora. Durante o governo Sarney, recém re-estabelecidas as relações bilaterais, em 1986, foram as vacinas cubanas contra a meningite que permitiram ao nosso país enfrentar aquele surto. Na época, a mídia teleguiada também fez uma sórdida campanha contra o governo Sarney, primeiro por reatar as relações, mas também por comprar grandes lotes da vacina desenvolvida pela avançada ciência de Cuba. De modo venenoso, tentou-se desqualificar as vacinas, afirmando serem de qualidade duvidosa, tal como agora atacam a medicina cubana. Na época, foram as vacinas cubanas que permitiram controlar aquele surto e salvar vidas. Mas, também trouxeram, por meio do exemplo, a possibilidade de que aprendêssemos um pouco dos valores e das conquistas de uma revolução. Afinal, por que um país com poucos recursos, com uma base industrial muito mais reduzida, conseguia não apenas elevar vertiginosamente o padrão de saúde de seu povo, mas, também desenvolver uma tecnologia com capacidade para produzir e exportar vacinas, enquanto o Brasil, com uma indústria muito mais expandida, capaz de produzir carros, navios e aviões, não tinha capacidade para defender seu próprio povo de um surto de meningite? São sagradas as prioridades de uma revolução. E é por isso, que, ainda hoje, a sexta maior economia do mundo, se vê na obrigação de recorrer a Cuba para não permitir a continuidade de um crime social configurado na não prestação de atendimento médico a milhões de brasileiros.
Mais recentemente, quando a Organização Mundial da Saúde convocou a indústria farmacêutica internacional a produzir vacinas para combater um tenebroso surto de febre amarela que se espalhou pela África, obteve como resposta desta indústria o mais sonoro e insensível NÃO. Os preços que a OMS podia pagar pelas vacinas não eram, segundo as transnacionais farmacêuticas, apetitosos. Milhões de vidas africanas passaram correr risco, não fosse a cooperação entre dois laboratórios estatais, o Instituto Bio Manguinhos, brasileiro, e o Instituto Finley, cubano. Essa cooperação permitiu a produção, até o momento, de 19 milhões de doses da vacina que a África necessitava, a um preço 90 por cento menor que o preço do mercado internacional. Onde foi publicada esta informação?
Apenas na Telesur e na imprensa cubana. A ditadura dos anúncios da indústria farmacêutica, que dita a linha editorial da mídia brasileira em relação ao programa Mais Médicos e à cooperação da Medicina de Cuba, simplesmente impediu que o grande público brasileiro tomasse conhecimento desta importantíssima cooperação estatal brasileiro-cubana.
Os médicos cubanos e o furacão Katrina

Para dimensionar a inqualificável onda de insultos que os médicos cubanos vêm recebendo aqui na mídia oligárquica, lembremos um fato também sonegado por esta mesma mídia, o que revela suas dificuldades monumentais para o exercício do jornalismo como missão pública. Quando ocorre o trágico furacão Katrina, que devasta Nova Orleans, deixando uma população negra e pobre ao abandono, dada a incapacidade e o desinteresse do governo dos EUA em prestar-lhe socorro naquela oportunidade, também foi Cuba que colocou à disposição do governo estadunidense - malgrado toda a hostilidade ilegal deste para com a Ilha - um contingente de 1300 médicos, postados no Aeroporto de Havana, com capacidade de chegar prestar ajuda à população afetada pelo furacão. Aguardavam apenas autorização para o embarque, e em questão de 3 horas de voo estariam em Nova Orleans salvando vidas. Aguardaram horas, mas esta autorização nunca chegou da Casa Branca. A resposta animalesca do presidente George Bush foi um sonoro NÃO à oferta de Cuba, o que tampouco foi divulgado pela mídia oligárquica, provavelmente para protegê-lo do vexame de ver difundido seu tosco caráter, que tal recusa representava. Os EUA estão sempre prontos para enviar militares e mercenários pelo mundo. Mas, são incapazes de prestar ajuda ao seu próprio povo, e também arrogantes o suficiente para permitir uma ajuda de Cuba à população pobre e negra afetada pelo furacão.
Uma Escola de Medicina para outros povos

Também não circulam informações aqui de que Cuba, após o furacão Mity, que devastou a América Central e parte do Caribe, decide montar uma Escola Latino-americana de Medicina, que, em pouco mais de 10 anos de funcionamento, já formou mais de 10 mil médicos estrangeiros, gratuitamente. Entre eles, 500 jovens negros e pobres dos EUA, moradores dos bairros do Harlem e do Brooklin, de elevados índices de violência. Eles me revelaram que se tivessem continuado a viver ali, eram fortes candidatos a serem presa fácil do narcotráfico. Frisavam que, estar ali em Cuba, formando-se em medicina, gratuitamente, era uma possibilidade que a maior potência capitalista do mundo não lhes oferecia. Há, estudando na ELAM, cerca de uma centena de jovens do MST, filhos de assentados da reforma agrária. Isto significa que Cuba compartilha com vários países do mundo seus modestos recursos. Também estudam lá cerca de 600 jovens do Timor Leste, sendo que existem 40 médicos cubanos trabalhando já agora no Timor. O tipo de exame Revalida seria capaz de dimensionar esta solidariedade cubana com a saúde dos povos?
Ampliar a integração em outras áreas

Também não se divulgou por aqui: Cuba montou três Faculdades de Medicina na África, (Eritreia, Gambia e Guiné Equatorial), em pleno funcionamento, com professores cubanos. Toda esta campanha de insultos contra Cuba e os médicos cubanos, abre uma boa possibilidade para discutir e conhecer mais a fundo todas estas conquistas da Revolução Cubana, mas, especialmente, para que as forcas progressistas reflitam sobre quantas outras possibilidades de cooperação existem entre Brasil e Cuba, em muitas outras áreas.
Mas, serve também para reavaliar a posição de certos parlamentares médicos da esquerda no Brasil que se opõe, inexplicavelmente, ao Programa Mais Médicos, alguns chegando, ao absurdo de terem apresentado projetos de lei proibindo, pelo prazo de 10 anos, a abertura de qualquer novo curso de medicina no Brasil. Cuba abre faculdades de medicina na África, parlamentares da esquerda brasileira - padecendo da doença senil do corporativismo tosco - propõe a não abertura de mais cursos de medicina aqui. Realmente, setores de nossa esquerda também precisam da cooperação médica cubana, a começar para curarem-se de espantosa desinformação acerca de Cuba.!
Qualificar o debate sobre a integração

Enfim, um debate democrático e qualificado em torno do programa Mais Médicos, da presença de médicos cubanos aqui no Brasil e em mais de 70 países, e também, sobre as conquistas da Revolução Cubana, deve ser organizado pelos partidos e sindicatos, pelo movimento estudantil, pelos movimentos sociais, pela Solidariedade a Cuba, pelas TVs e rádios comunitárias, como forma de impulsionar a integração da América Latina, que, neste episódio, está demonstrando o quanto pode ser útil à população mais pobre. A TV Brasil pode cumprir uma função muito útil, pode divulgar documentários já existentes sobre o trabalho de médicos em regiões inóspitas e adversas em diversos países.
É preciso expandir esta integração, avançar pela educação, pela informação, não havendo justificativas para que o Brasil ainda não esteja conectado com a Telesur, por exemplo, que tem divulgado amplo material jornalístico informando que 3 milhões e meio de cidadãos latino-americanos já foram salvos da cegueira graças a Operação Milagro, pela qual médicos cubanos e venezuelanos realizam, gratuitamente, cirurgias de cataratas em vários países da região. Isso não é notícia relevante? Enquanto o povo argentino, por exemplo, já pode sintonizar gratuitamente a Telesur, por sua tv digital pública, e informar-se de tudo isto, o povo brasileiro está impedido, praticamente, de receber informações que revelam o andamento da integração da América Latina. Mas, com a chegada dos médicos cubanos, a integração será cada vez mais pauta da agenda do debate político nacional e receberá, certamente, um impulso político e social, notável, pois o povo brasileiro, saberá , com nobreza e humanismo, valorizar e apoiar o programa Mais Médicos. Aliás, é exatamente isto o que tanto apavora a medicina capitalista.
Há 70 mil engenheiros estrangeiros no Brasil hoje!

Segundo dados recentes do Ministério do Trabalho, existem hoje trabalhando no Brasil cerca de 70 mil engenheiros estrangeiros. Nenhuma gritaria foi feita. Neste caso, trata-se de petróleo e outros projetos, muito lucrativos para as multinacionais. Mas, quando se trata de salvar vidas, acendem-se todas as fogueiras do inferno da nova inquisição contra uma cooperação que é lógica e indispensável, solidária e humanitária. Por que é aceitável a importação de telefones, equipamentos médicos, remédios, cosméticos, roupas, caviar, bebidas, vacinas e não se aceita a cooperação de médicos de Cuba, sendo este o único pais em condições objetivas de apresentar-se prontamente e de maneira eficaz com profissionais experimentados. Será que as representações médicas brasileiras possuem sequer uma remota ideia de que estão proferindo insultos a esta bela história da medicina socialista de Cuba?
Quem pagará a conta da demora?

A presidenta Dilma tem inteira razão em convocar os Médicos Cubanos, algo que já poderia ter sido feito há mais tempo, amenizando a dor e o sofrimento de milhões de brasileiros abandonados por um sistema de saúde e por uma mentalidade de parcelas das representações médicas que, por mais absurdo que pareça, ainda tentam justificar este abandono. Aliás, com a determinação da presidenta Dilma, está absolutamente revelada a importância da integração da América Latina, não havendo justificativas para que esta modalidade de integração nas esferas sociais, não avance também para outras áreas, como a educação, por exemplo. Foi exatamente com o método cubano denominado “Yo, si, puedo”, que Venezuela, Bolívia, Equador são países declarados pela UNESCO como “Territórios Livres do Analfabetismo”, sempre com a participação direta de professores cubanos. Muito em breve, será a Nicarágua, que vai recuperar aquele galardão, que já havia conquistado durante a Revolução Sandinista, mas depois perdeu, na era neoliberal. Por quanto tempo o Brasil terá apenas projetos pilotos, em apenas 3 cidades, com o método de alfabetização cubano, que, aliás, já tem absoluta comprovação e reconhecimento mundiais? Que espera a sexta economia do mundo em convocar ainda mais a cooperação cubana para erradicar o analfabetismo? Quem pagará a conta desta injustificável demora? Como diz a canção de Pablo, será paga pela unidade latino-americana. Pero, cuantas vidas puede custar?
Termino com a declaração da Dra. Milagro Cárdenas Lopes, cubana, negra, 61 anos: “Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou. Em seguida, dirigiu-se com seus companheiros para os ônibus organizados pelo Exército Brasileiro, que cuida de seu alojamento. Sinal eloquente de que a integração está escrevendo uma nova página na história da América Latina.

Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur.

domingo, 21 de julho de 2013

Rebelião “branca” (nem tão branca assim!)

Ainda não tenho conhecimento de que alguma entidade médica tenha consultado a opinião da população de pelo menos um dos 705 municípios onde não há atendimento médico a respeito do programa Mais Médicos do governo federal. O texto que replico abaixo merece reflexão.
Dr. José Amorim de Andrade
Postado por Saul Leblon em 19-07-2013 no Carta Maior
Credite-se à elite brasileira façanhas anteriores dignas de figurar, como figuram, nos rankings da vergonha do nosso tempo.
A seleta inclui a resistência histórica à retificação de uma das piores estruturas de renda do planeta.
Ademais de levantes bélicos (32,62,64 etc) contra qualquer aroma de interferência num patrimônio de poder e riqueza acumulado por conhecidos métodos de apropriação.
O repertório robusto ganha agora um destaque talvez inexcedível em seu simbolismo maculoso.
A rebelião dos médicos contra o povo.
Sim, os médicos, aos quais o senso comum associa a imagem de um aliado na luta apela vida, hoje lutam nas ruas do Brasil.
Contra a adesão de profissionais ao programa ‘Mais Médicos', que busca mitigar o atendimento onde ele inexiste.
A iniciativa federal tem uma dimensão estrutural, outra emergencial.
A estrutural incorpora as unidades de ensino à política de saúde pública. Prevê um currículo estendido em dois anos de serviços remunerados no SUS.
Prevê, ademais, investimentos que dotem os alvos emergenciais de estruturas dignas de atendimento.
A ação transitória requisitará contingentes médicos, cerca de 10 mil inicialmente, para servir em 705 municípios onde o atendimento inexiste.
Ou naqueles aquém da já deficiente média nacional de 1,8 médico por mil habitantes ( na Inglaterra, pós Tatcher, diga-se, é de 2,7 por mil).
Enquadram-se neste caso outros 1.500 municípios.
O salário oferecido é de R$ 10 mil.
O programa recebeu cerca de 12 mil inscrições.
Mas o governo teme a fraude.
A sublevação branca incluiria táticas ardilosas: uma corrente de inscrições falsas estaria em operação para inibir o concurso de médicos estrangeiros, sobre os quais os nacionais tem precedência.
Consumada a barragem, desistências em massa implodiriam o plano do governo no último dia de inscrição.
Desferir o golpe de morte com a manchete do fracasso estrondoso caberia à mídia, com larga experiência no ramo da sabotagem antipopular e antinacional.
A engenharia molecular contra a população pobre constrange o Brasil.

Cintila no branco da mesquinhez a tradição de uma elite empenhada em se dissociar do que pede solidariedade para existir: nação, democracia, cidadania.
O boicote ao ‘Mais Médicos’ não é um ponto fora da curva.
Em dezembro de 2006, a coalizão demotucana vingou-se do povo que acabara de rejeita-la nas urnas.
Entre vivas de um júbilo sem pejo, derrubou-se a CPMF no Congresso.
Nas palavras de Lula (18/07):
"No começo do meu segundo mandato, eles tiraram a CPMF. Se somar o meu mandato mais dois anos e meio da Dilma, eles tiraram R$ 350 bilhões da saúde. Tínhamos lançado o programa Mais Saúde. Eles sabiam que tínhamos um programa poderoso e evitaram que fosse colocado em prática".
As ruas não viram a rebelião branca defender, então, o investimento em infraestrutura como requisito à boa prática médica, ao contrário de agora.
A CPMF era burlada na sua finalidade?
Sim, é verdade.
Por que não se ergueu a corporação em defesa do projeto do governo de blindar a arrecadação, carimbando o dinheiro com exclusividade para a saúde?
O cinismo conservador é useiro em evocar a defesa do interesse nacional e social enquanto procede à demolição virulenta de projetos e governos assim engajados.
Encara-se o privilégio de classe como o perímetro da Nação. Aquela que conta.
O resto é sertão.
A boca do sertão, hoje, é tudo o que não pertence ao circuito estritamente privado.
O sertão social pode começar na esquina, sendo tão agreste ao saguão do elevador, quanto Aragarças o foi para os irmãos Villas Boas, nos anos 40, rumo ao Roncador.
Sergio Buarque de Holanda anteviu, em 1936, as raízes de um Brasil insulado em elites indiferentes ao destino coletivo.
O engenho era um Estado paralelo ao mundo colonial.
O fastígio macabro fundou a indiferença da casa-grande aos estalos, gritos e lamentos oriundos da senzala ao lado, metros à vezes, da sala de jantar.
Por que os tataranetos se abalariam com a senzala das periferias conflagradas e a dos rincões inaudíveis?
Ninguém desfruta 388 anos de escravidão impunemente.
Os alicerces do engenho ficaram marmorizados no DNA cultural das nossas elites: nenhum compromisso com o mundo exterior, exceto a pilhagem e a predação; usos e abusos para consumo e enriquecimento.
A qualquer custo.
O Estado nascido nesse desvão tem duas possibilidades aos olhos das elites: servi-la como extensão de seus interesses ou encarnar o estorvo a ser abatido.
A seta do tempo não se quebrou, diz o levante branco contra o 'intervencionismo'.
O particularismo enxerga exorbitância em tudo o que requisita espírito público.
Mesmo quando está em questão a vida.
Se a organização humanitária ‘Médicos Sem Fronteiras' tentasse atuar no Brasil, em ‘realidades que não podem ser negligenciadas', como evoca o projeto que ganhou o Nobel da Paz, em 1999, possivelmente seria retalhada pela revolta dos bisturis.
Jalecos patrulham as fronteiras do engenho corporativo; dentro delas não cabem os pobres do Brasil.

domingo, 14 de julho de 2013

“Aqueles que nunca dormiram dão as boas-vindas aos que acordaram”

“«Ceux qui ne se sont jamais endormis accueillent ceux qui se réveillent»:

c’est avec ce slogan que le Mouvement des Sans Terre invitait hier les jeunes manifestants qui ont bouleversé le Brésil durant le mois de juin à amplifier la lutte.

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domingo, 7 de julho de 2013

"O mundo está em perigo com a nossa tirania", disse Stone.

É impressionante. A frase do título foi dita por Oliver Stone, cidadão americano, ganhador do Oscar por três vezes. Ele considera Edward Snowden um heroi na medida em que prestou um enorme serviço ao revelar o que todo cidadão americano deveria saber. E chama de “desgraça” as técnicas de espionagem no estilo Bush, usadas por B.Obama.  Transcrevo a matéria abaixo que também pode ser lida em: http://www.huffingtonpost.com/2013/07/04/oliver-stone-edward-snowden_n_3547003.html?ir=Politics
 

Oliver Stone Calls Edward Snowden A 'Hero,' President Obama's Tactics A 'Disgrace'

Politically outspoken director Oliver Stone called Edward Snowden a "hero" during a Fourth of July appearance at the Karlovy Vary International Film Festival. The Oscar winner also blasted President Barack Obama for his "George Bush-style eavesdropping techniques," calling the controversies a "disgrace."
"To me, Snowden is a hero, because he revealed secrets that we should all know, that the United States has repeatedly violated the Fourth Amendment." Stone said. "He should be welcomed, and offered asylum, but he has no place to hide because every country is intimidated by the United States. ... Everyone in the world is impacted by the United States' Big Brother attitude toward the world."
Stone attended the festival to screen episodes of "Oliver Stone’s Untold History of the United States," his 10-episode documentary series that depicts the country from World War II through the War on Terror. The event also screened "Scarface," which Stone wrote, and the "ultimate" cut of the director's critically panned 2004 epic "Alexander."
The director, also known for "Platoon" and "Born on the Fourth of July," warned those who attended his press conference -- mostly European journalists, according to The Wrap -- that "we need countries to say no to the United States."
"The world is in danger with our tyranny," Stone said.





sábado, 6 de julho de 2013

Du Parti des travailleurs au parti de Lula

Do Partido dos Trabalhadores ao Partido de Lula

A matéria abaixo, em francês, é um excelente resumo da trajetória do PT ao LULISMO. A fonte original do artigo é http://www.monde-diplomatique.fr/2013/07/ESTEVAM/49302

par Douglas Estevam, juillet 2013

Les manifestations qui ont rassemblé jusqu’à un million de personnes dans les grandes villes brésiliennes au mois de juin interrogent la stratégie politique du Parti des travailleurs (PT). Au pouvoir en coalition depuis 2003, celui-ci à cherché à accroître le niveau de vie de la population sans rogner les profits des entreprises ni bousculer les privilèges des puissants. Une politique de la conciliation sans mobilisation populaire (incarnée par le syndicaliste devenu président Luiz Inácio Lula da Silva) en rupture avec le projet initial du PT.

Une foule de presque cent mille ouvriers, réunie au stade de football du quartier de Vila Euclides, hurle : « Lula ! Lula ! Lula ! », le surnom de M. Luiz Inácio da Silva. Porté par cette marée humaine, passant de mains en mains, le dirigeant syndical, qui avait disparu depuis une intervention de la police au siège de son organisation, parvient jusqu’à la tribune, sans toucher le sol.

Nous sommes en 1979. L’année a commencé par une nouvelle vague de conflits syndicaux dans le principal centre industriel du pays, la région métropolitaine de São Paulo, connue sous le nom d’« ABC (1) ». Ces ouvriers, provenant pour la plupart du nord-est brésilien et arrivés dans la capitale économique du pays pour échapper à la faim, n’imaginaient sans doute pas que celui qu’ils voyaient se dresser devant eux allait devenir l’un des plus importants dirigeants politiques du Brésil.

Des années plus tard, « Lula » tirerait 30 millions de brésiliens d’une pauvreté qu’il avait lui-même connue. Il séduirait également le puissant secteur financier du pays, placerait le géant sud-américain sur une nouvelle trajectoire économique caracterisée par un nouveau développementisme (2) et orchestrerait un nouveau pacte politique dans le pays. Un ensemble de changements réalisés au nom du PT, mais auquel il lèguerait son nom : le « lulisme ».

La trajectoire de maturation politique du Parti des travailleurs (PT),« l’unique parti de masse de la planète créé après la Deuxième guerre mondiale (3) », s’avère inséparable de celle de Lula, l’un de ses fondateurs. Les deux mouvements s’influencent respectivement et dessine le cadre historique large qui permet de comprendre l’émergence du lulisme.

Au cours de la dictature (1964-1985), un puissant mouvement social émerge au milieu des années 1970, grâce notamment au soutien des secteurs progressistes de l’Eglise liés à la théologie de la libération, de groupes issus de la lutte armée et d’intellectuels renommés. Tous se retrouvent autour d’un « nouveau syndicalisme » en rupture avec le corporatisme traditionnel. En 1980, ensemble, ils forment le « parti de travailleurs » : un parti « sans patrons », tel qu’il se présente d’emblée. A l’époque, l’effervescence est telle que surgit également la Centrale unique des travailleurs (CUT), en 1983, et le Mouvement des travailleurs sans terre (MST), en 1984.

Pourtant, d’emblée, le rapport du PT avec les secteurs les plus défavorisés apparaît comme une difficulté. Elle marquera l’histoire du parti et ne sera véritablement surmontée qu’avec la réélection de Lula en 2006. Le PT vient à peine d’être quand, sur la place principale de São Bernardo, « Bigode », un syndicaliste qui collecte des fonds pour la grève, affirme au cameraman qui le filme : « notre mouvement n’est pas politique, il n’a rien de politique, c’est un mouvement pacifique, syndical, pour les salaires, seulement. Il n’a rien de politique (4) ». La prudence du syndicaliste, qui ne souhaite pas mélanger luttes syndicale et politique, répond à un sentiment profond au sein des classes populaires de la société brésilienne : la peur de la déstabilisation, du conflit et de la radicalité.

Pour beaucoup, ce sentiment serait à l’origine de la défaite de Lula aux présidentielles de 1989, le premier scrutin au suffrage universel organisé après la fin de la dictature, en 1985. A l’époque, Lula avait en effet perdu face au grand bourgeois Fernando Collor de Mello au sein de l’électorat à bas revenus. En revanche, la situation s’inversait au sein des autres classes sociales, et plus les revenus des électeurs étaient importants, plus ils avaient tendance à voter Lula (celui-là même qui, hirsute, promettait le socialisme). Le rejet de la radicalité associée au PT — et à Lula en particulier — jouera également un rôle important dans ses échecs aux élections présidentielles suivantes, de 1994 et 1998.

« La vérité, c’est que ceux qui nous ont fait perdre, au-delà des grands médias, ce sont ceux qui sont les moins éclairés et les plus défavorisés de la société (5) », explique Lula au lendemain de sa défaite, en 1989. Mais, promet-il, « mon combat n’a pas changé ». Le PT doit s’efforcer d’« atteindre ceux qui perçoivent les salaires les plus modestes ». Toutefois, à l’époque, le dirigeant demeure convaincu que « la véritable opposition [aux politiques de la droite] passe en dehors de la voie institutionnelle, ou du congrès (6) ».

Au sein du PT, cette vision de l’action politique commence à paraître obsolète à certains, y compris parmi les proches de Lula. Ces derniers gagnent en influence à la faveur d’une spécificité du PT : la reconnaissance des tendances internes. « L’Articulation des 113 » apparaît en 1983. Symboliquement dirigée par Lula, celle-ci va se construire en opposition à « l’élitisme » et à « l’avant-gardisme » des tendances de la gauche partisane (utilisant bien souvent le PT comme façade pour d’autres objectifs politiques). Ceux-ci ne manquent pas une occasion de reprocher au courant de Lula — déjà qualifié de « lulisme » — ce qu’ils décrivent comme un réformisme mollasson. Avec la chute du bloc soviétique, la remise en cause de l’orientation socialiste du parti s’intensifie en interne.

A mesure que le PT obtient des élus, les groupes liés à des mandats exécutifs et parlementaires gagnent en influence au sein de l’organisation. Ce phénomène, doublé du poids des syndicalistes disposant d’importants moyens financiers en dehors du parti, tend à déplacer les centres de décision vers l’extérieur de la structure. S’éloignant peu à peu des bases populaires, les élus gagnent en autonomie sans pour autant toujours réussir à répondre aux demandes des mouvements gravitant autour du PT, lesquels se montrent moins disposés à envisager l’action politique comme progressive, ou contradictoire. Inévitablement, des tensions et des conflits apparaissent.

Porté par l’Articulation, Lula change d’optique et les priorités du PT évoluent : non plus accumuler des forces sociales pour transformer le Brésil, mais conquérir des espaces institutionnels pour le changer progressivement de l’intérieur. Parti d’opposition de gauche, soutenu par les mouvements sociaux, l’organisation se transforme en parti d’opposition au sein de l’Etat, sur les bancs de l’Assemblée, dans un nombre de plus en plus important de mairies ainsi qu’au gouvernement de plusieurs Etats du pays. Avec l’élection de Lula en 2002, le PT devient finalement un parti de gouvernement. Cette bascule s’opère de façon d’autant plus aisée qu’elle débute dans le contexte idéologique de la « fin de l’Histoire » et de la contre-révolution néolibérale. « Le mur de Berlin est tombé sur le PT », conclut l’historien Lincoln Secco. Lula présente les choses autrement. Vingt ans après sa défaite de 1989, il observait : « Je pense que nous avons reçu un coup de pouce du bon Dieu. Nous ne devions pas remporter cette élection, nous étions trop radicaux. Si j’avais gagné, avec le discours que j’avais, je ne sais pas si j’aurais pu gouverner plus de sept ou huit mois (7). »

Au début des années 1990 les crises engendrées par les politiques néolibérales et les manifestations contre M. Collor de Mello renforcent les courants de gauche en interne : ils prennent les commandes du PT, à la faveur d’une division au sein de l’Articulation. Mais la mue du parti se poursuit néanmoins : en 1994, MM. Antonio Palocci (maire de Ribeirão Preto) membre de l’Articulation et Luiz Eduardo Cheida (maire de Londrina) vendent les entreprises de téléphonie de leurs villes respectives à des capitaux privés, faisant alors des privatisations avant même l’arrivée à la présidence de l’homme auxquelles elles sont associées au Brésil, M. Fernando Henrique Cardoso. M. Palocci deviendra ministre des finances de Lula de 2003 à 2006.

L’Articulation reprend les commandes du parti en 1995, après l’échec de Lula contre M. Fernando Henrique Cardoso (droite) aux présidentielles de 1994. Cette déconvenue renforce encore les tendances modérées, qui se rallient à l’Articulation pour former, un peu plus tard, le « Camp Majoritaire ». Présidé par M. José Dirceu, le PT opte alors pour l’union avec le centre gauche, notamment le Parti du mouvement démocratique brésilien (PMDB), avant d’élargir ses alliances à la droite. En 2002, le candidat à la vice-présidence aux côtés de Lula, est un homme d’affaires convaincu des vertus du libre-échange : José Alencar.

Autre facteur ayant contribué à l’évolution du PT, l’accroissement du poids des entreprises dans le financement des partis. En 1989, les adhésions des militants représentaient 30 % du budget du PT. En 2004, elles ne constituait plus que 1% de la trésorerie du parti. Les banques et les grandes entreprises ont été les plus importants contributeurs à la campagne de Lula en 2006.

Comme les recherches du politiste André Singer le montrent (8), Lula a su profiter du cycle d’expansion de l’économie mondiale entre 2003 et 2008, notamment du « boom » des matières premières, pour adopter des mesures de réduction de la pauvreté et renforcer le marché intérieur mais sans bousculer les intérêts des classes dominantes ou « rompre avec le capitalisme », ce que prescrivait pourtant le programme du PT…

Grâce à cette politique prudente, Lula est parvenu à modifier la façon dont il était perçu au sein des classes populaires et a renverser la structure politique traditionnelle. Ainsi, alors que sa victoire de 2006 pouvait sembler rééditer celle de 2002, Lula était alors porté au pouvoir par un électorat très différent : non plus les classes moyennes, secteurs qui avaient traditionnellement soutenu le PT, mais les plus pauvres, principaux bénéficiaires des politiques sociales du lulisme. Un « réalignement électoral » qui, selon Singer, conduirait les classes moyennes à se rapprocher de la droite du Parti de la sociale-démocratie brésilienne (PSDB). Choisissant d’ignorer ce second aspect, le PT concluait alors : « L’espérance a vaincu la peur. »

Mais la mobilisation électorale des classes populaires n’impliquera pas le renforcement de leur participation politique, au contraire. Alors que des leaders syndicaux parviennent aux commandes de fonds de pensions ou de ministères — aux côtés de chefs d’entreprises et de grands producteurs — une bureaucratie d’Etat promeut peu à peu la neutralisation des antagonismes de classe : autre élément caractéristique du « lulisme ». Face à ce mouvement, le parti se trouve privé de ses militants les plus aguerris et abandonne progressivement la stratégie de mobilisation populaire…

Le pays enregistre des progrès sociaux indéniables. Mais l’importante réduction de la pauvreté (9) ne s’accompagne que d’une « lente chute de l’inégalité », conduisant Singer à définir le lulisme comme un« réformisme faible », qu’il décrit même comme « conservateur », dans la mesure où il ne s’aventure pas à menacer les intérêts des puissants. En 2012, le Brésil était encore l’un des pires pays d’Amérique Latine en termes de distribution de revenus. 40 % du budget fédéral se voyait accaparé par la dette – majoritairement interne et détenue par les familles fortunées du pays – contre environ 4 % pour la santé, 3 % pour l’éducation et 0,70 % (10) pour les transports, tous trois parmi les préoccupations principales des manifestants de juin 2013…

Douglas Estevam

Journaliste, Brésil.

domingo, 30 de junho de 2013

Como se tenta detonar a Reforma Política

A mídia gorda (Globo, Veja, Estadão, Estado de São Paulo e afins) estímula de carona determinados movimentos de rua, tenta pautar as propostas, mas no fundo, no fundo, tem um medo brutal de que as propostas da rua sejam efetivamente levadas a sério pelos governos. Essa mídia não consegue esconder o medo que tem das reformas políticas que as ruas estão pedindo.

Apreciei o texto abaixo que já compartilhei com amigos.

Aliás, o site OUTRAS PALAVRAS passa a ser leitura obrigatória para quem pretende ampliar seu leque de informações e de enriquecimento político-cultural.

josé amorim de andradce

Por Antonio Martins, editor de OUTRAS PALAVRAS


Primeiro, mídia e conservadores atacaram a Constituinte. Agora, pretendem inviabilizar o plebiscito. Por que é importante derrotar esta manobra?

É curiosa (e reveladora) a relação da velha mídia com o sistema político. Os jornais e TVs sugerem, incessantemente, que ele está afastado da sociedade e corrompido. Nos últimos anos, o noticiário sobre os poderes “policializou-se”. Abandonou quase completamente o debate sobre a tramitação de projetos interesse público e se concentrou nos casos de corrupção. Mas bastou a presidente Dilma falar em Constituinte e plebiscito sobre Reforma Política para se sugerir que ela “imita Hugo Chávez”, “isolou-se” e foi “rechaçada”. Para entender por quê, vale acompanhar o que ocorreu, nos últimos três dias, com a proposta da mudança.

Ela foi apresentada domingo, pelo governador gaúcho Tarso Genro (PT), durante a série de consultas que Dilma fez, em meio à crise. Tinha caráter muito avançado. Um plebiscito perguntaria aos eleitores sobre a oportunidade de convocar uma mini-Constituinte, encarregada da reforma. A população poderia opinar, também, sobre a composição da Assembleia. Entre o leque de opções estaria permitir candidaturas independentes — ou seja, de pessoas não ligadas a partidos.

Dilma omitiu este aspecto, ao enunciar a proposta, na segunda-feira. Ainda assim, o bombardeio começou de imediato. Sistema político e mídia atiraram juntos. O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN) teria reagido aos berros: “Isso é golpe! Ela está achando que é quem? Chávez? Rafael Correa?” O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), ajudaram a detonar a ideia. E foram subitamente transformados em pessoas sensatas, no noticiário. Jornais e TVs martelavam a suposta  ”inconstitucionalidade” da proposta. Fingiam esquecer que, caso aprovada na consulta popular, a Constituinte seria, obviamente, transformada em emenda constitucional — que os parlamentares não teriam como rejeitar…

Pressionado, o Palácio do Planalto recuou. Mantém, por enquanto, a proposta do plebiscito. É muito menos: uma Constituinte provoca ampla mobilização e debate nacional; coloca em xeque todo o atual sistema; pode examinar diversos mecanismos de democracia direta e representativa — inclusive aproveitando as possibilidades abertas pela internet. Vale defender a ideia, que obteve repercussão inédita, mesmo após a retirada do governo.

Mas também o plebiscito é muito poderoso, a depender de duas questões-chave: que  perguntas serão propostas à população; e a decisão dos eleitores será terminativa? É este, certamente, o debate que surgirá nos próximos dias. Se for possível votar, por exemplo, contra o financiamento dos políticos pelas empresas; a favor de candidaturas independentes; ou da limitação número de reeleições, inclusive no Legislativo, será um ótimo começo.

Os que se beneficiam do sistema atual tentarão fugir a todo custo deste “risco”. A mídia buscará esfriar o tema, para que a população não se aproprie da bandeira. Os políticos conservadores procurarão reduzir a relevância das perguntas e reduzir a consulta a um “referendo”, no qual os eleitores dizem apenas “sim” ou “não”.

Derrotar esta tática pode ser vital para que a luta por direitos e mudanças avance.

sábado, 29 de junho de 2013

Pacto das Catacumbas

 

Quando li esse texto, aos dezenove anos de idade, ainda estava entre os Irmãos Maristas. Espero que o Papa Francisco o releia.

Se desejar leia na fonte.

47 anos. O ''Pacto das Catacumbas'' para uma Igreja serva e pobre

No dia 16 de novembro de 1965, há 47 anos, poucos dias antes do encerramento do Vaticano II, cerca de 40 padres conciliares celebraram uma Eucaristia nas Catacumbas de Domitila, em Roma, pedindo fidelidade ao Espírito de Jesus. Depois dessa celebração, assinaram o "Pacto das Catacumbas".

O documento é um desafio aos "irmãos no Episcopado" a levar adiante uma "vida de pobreza", uma Igreja "serva e pobre", como sugerira o Papa João XXIII.
Os signatários – entre eles muitos brasileiros e latino-americanos, embora muitos outros aderiram ao pacto mais tarde – se comprometiam a viver em pobreza, a renunciar a todos os símbolos ou privilégios do poder e a pôr os pobres no centro do seu ministério pastoral. O texto teve uma forte influência sobre a Teologia da Libertação, que surgiria nos anos seguintes.
Um dos signatários e propositores do pacto foi Dom Helder Câmara.
Eis o texto.
Pacto das Catacumbas da Igreja serva e pobre

Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado; contando sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que se segue:
1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20.
2) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa (devem esses signos ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6. Nem ouro nem prata.
3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., em nosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome da diocese, ou das obras sociais ou caritativas. Cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s.
4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e apóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.
5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28; 23,6-11; Jo 13,12-15.
6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos serviços religiosos). Cf. Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19.
7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social. Cf. Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4.
8) Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho. Cf. Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12 e 9,1-27.
9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de "beneficência" em obras sociais baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes. Cf. Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s.
10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus. Cf. At. 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros; 1Tim 5, 16.
11) Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral - dois terços da humanidade - comprometemo-nos:

  • a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres;
  • a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de sua miséria.

12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim:

  • esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida" com eles;
  • suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o espírito, do que uns chefes segundo o mundo;
  • procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...;
  • mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião. Cf. Mc 8,34s; At 6,1-7; 1Tim 3,8-10.

13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces.
Ajude-nos Deus a sermos fiéis.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O Vaticano de Francis Ford Coppola

 
Vatican Documents Leak: The Butler Did ItOs bastidores do Vaticano, mais precisamente do Banco do Vaticano e das penumbras financeiras do coração da Igreja Católica, mostrados na trilogia de O PODEROSO CHEFÃO de Copplola estão mais atuais do que nunca. A decadência moral do sistema capitalista contamina, e não é de agora, a mente e a alma daqueles que se dizem porta-voz dos desígnios divinos e iluminados do Espírito Santo. O conteúdo  do texto que abaixo transcrevo de Carta Maior deixa claro que as coisas mudaram para pior.
A renúncia de Bento XVI pode ter sido a sua melhor “encíclica” .
José Amorim de Andrade
 

A história secreta da renúncia de Bento XVI

por Eduardo Febbro
Paris - Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.
Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.
O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.
A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.
Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.
Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.
Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.
João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.
Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.
Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.
Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.
Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

“Um raio no céu do Vaticano”.

 

Coincidência entre o fato e a foto é isso aí. Fotógrafo de sorte esse Alessandro Di Meio!. A notícia está aqui.