PenseLivre On Line

Como dizia apropriadamente Samuel Wainer: A PENA É LIVRE, MAS O PAPEL TEM DONO.
Os blogs permitem que, por algum momento, possamos ter a pena livre e, ao mesmo tempo, ter a propriedade do papel.
Neste blog torno públicas algumas reflexões pessoais, textos e publicações pinçadas da web e que me fizeram pensar e repensar melhor a realidade.
Este blog é uma pretenção cidadã e...nada mais!

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Dilma: a face da dignidade

Esta imagem está correndo o mundo.

Dilma Russeff: 22 anos. Sentada, serena, imponente, diante de seus algozes que escondem as caras. Isso após passar 22 dias sob tortura.

Ela hoje: Presidenta eleita do Brasil. Respeitada pelo mundo.

E eles?

Esta imagem conta uma história de milhões de palavras. Consta do livro de Ricardo Amaral que será lançado brevemente intitulado “A vida quer é coragem”.

Trasncrevo abaixo o sugestivo texto de Emir Sader sobre o assunto.

josé amorim de andrade


Que bom que uma foto como essa reflita um momento como esse, com essa cara de dignidade, enfrentando seus algozes, que escondem seus rostos!
Que bom que essa foto reflita a cara de uma militante depois de 22 dias e noites das torturas mais cruéis – de pau de arara, choque elétrico, afogamento e outras violências físicas -, como não se quebra a coragem de um ser humano que se decidiu a lutar contra as injustiças!
Que bom que as novas gerações possam ver isto, quem estava de cada lado, quem dava a cara e quem escondia a cara!
Que bom que uma foto como esta venha a público quando a Comissao da Verdade está prestes a começar a funcionar e alguns ainda pretendem passar a ideia de que eram dois grupos armados digladiando-se, como se não houvesse quem estava do lado da ditadura e quem estava do lado da democracia!
Que bom que os jovens de 22 anos possam hoje ver o que foi a vida daquelas gerações dos que lutamos contra a ditadura!
Que bom que pudemos ter gerações com aquela, que lutaram com dignidade, não medindo sacrifícios, para que pudéssemos derrotar a ditadura!
Que bom que se possa romper a censura da velha mídia e publicar fotos como essa e outras daquela época, de tão triste memória para o país, e que os que estiverem implicados nela querem fazer esquecer.
Que bom que existam pessoas que enfrentaram e seguem enfrentando as injustiças com essa coragem e essa dignidade.
Que bom que tenhamos uma mulher assim como Presidenta do Brasil!

Postado por Emir Sader no BLOG DO EMIR

sábado, 5 de novembro de 2011

Nos mentem…e muito!

É impressionante como nos mentem. Nos mentem de todos os lados. Da direita, da esquerda, do centro, de cima e de baixo.
Escutamos e lemos os mesmos comentaristas e colunistas da mídia gorda e lemos e escutamos as mesmas coisas. Mirian Leitão e Sardenberg vivem repetindo os mesmos refrões há “séculos”, entrevistam-se mutuamente e suas falas decoradas já nem mais precisam ser ouvidas pois já sabemos o que vão dizer. São empregados escravizados das próprias respostas na medida em que não não podem se libertar da camisa de força ideológica que lhes impõem seus patrões. E nem sei se saberiam dizer algo diferente porque passam a malancólica impressão de que estão desconectados do que se passa no planeta. Estão enjaulados pobremente no curto horizonte de seus empregos. Percebemos que, às vezes, tentam incluir um pouco mais de verdade nos seus comentários mas algo os impede e, aí, vacilam, gaquejam e…voltam à pauta que lhes é imposta.
Se avaliarmos então o que lemos e ouvimos dos “analistas” políticos da mídia gorda, aí a desnutrição e o analfabetismo políticos mata leitores e ouvintes de inanição cultural. Dora Kramer, Lúcia Hippólito, Roberto Pompeu, Reinaldo Azevedo e mais alguns, são absolutamene previsíveis. Conseguem permanecer milimetricamente dentro de seus estreitos limites. Não conseguem abrir horizontes. São posições quase religiosas, beirando o fundamentalismo.
O Arnaldo Jabor, coitado. Já foi cineasta. Sua verborréia estridente  vem lhe garantindo uma vaga na mídia gorda. Nem a emissora que o patrocina tem coragem de assumir o que ele diz e se protege informando que se trata de “uma análise pessoal e emocional…”; bota emocional nisso! Acho que no dia em que o PT deixar de existir ele estará desempregado pois não conseguirá falar de mais nada. Tem a mesma doença do Diogo Mainardi, que já se foi, "se extinguiu". Quem sabe, um dia também ninguém sentirá falta do Jabor.
Mas em que realmente estou pensando? É que, se desejamos um mínimo de jornalismo e informação, temos que ler e ouvir outras fontes. A Internet nos permite. É só aprender a separar o lixo. Fantásticas pérolas culturais podem ser encontradas. Chamam isso de garimpar na internet. Tenho procurado e, aos poucos, vou selecionando algumas fontes que vão me permitindo mais clareza na observação do nosso mundo. E, se procurando, acha. De algo tenho plena consciência: se restringirmos nossas fontes de conhecimento e informação à nossa mídia empresarial (que chamo de mídia gorda), salvo raríssimas exceções, permaneceremos culturalmente desnutridos.
Gostei muito da entrevista dada  pelo economista francês Olivier Pastré ao correspondente de Carta Maior em Paris, Eduardo Febbro. Trata-se um pouco das reflexões que fiz nos parágrafos anteriores. Pastré e Jean-Marc Sylvestre, também economista, publicaram Les 20 mensonges qu’ on raconte sur la crise (As vinte mentiram que nos contam sobre a crise). É muito interessante. Transcrevo abaixo. Para ler na fonte é só clicar em www.cartamaior.com.br
josé amorim de andrade



As mentiras que nos contam sobre a economia mundial

Eduardo Febbro – Correspondente da Carta Maior em Paris

Conforme a hora do dia, o analista, o colunista ou o canal de televisão, os argumentos para explicar a crise mundial variam como a cor do céu. Qual é a verdade? Na realidade, a verdade é um acúmulo de mentiras que se disparam de todas as partes: o Fundo Monetário Internacional mente, as agencias de qualificação mentem, os analistas financeiros mentem, as instâncias de regulação mentem. A mentira, ou sua exposição, é a trama do ensaio dos economistas franceses Olivier Pastré e Jean-Marc Sylvestre. Em seu livro “Nos mentem!”, Pastré e Sylvestre elaboraram uma espécie de catálogo da mentira em economia política ao mesmo tempo que evidenciam os erros monumentais dos organismos de crédito multilaterais, das agencias de qualificação e da mídia, que dão crédito às mentiras travestido-as de verdade.
Não escapam às análises os dirigentes políticos e os grupos como o G20, todos amordaçados e paralisados até que o incêndio cerca a casa. Mas como destaca nessa entrevista o professor Olivier Pastré, uma vez que o incêndio se afasta, o sistema volta a reproduzir os mesmos problemas.
Seu livro é uma espécie de catálogo das mentiras que os atores econômicos expandem pelo mundo seja para explicar a crise, seja para ocultá-la. Por acaso pode se dizer que o capitalismo parlamentar nos mentiu para manter as coisas no mesmo lugar?
Como dizia Lampeduza, tem que mudar tudo para que nada mude! Mas acredito que não se deva ter visões simplificadoras. Com isso quero dizer que é muito provável que um segmento importante dos dirigentes não tenha nenhum desejo de que as coisas mudem. Sendo assim, mentem a si mesmos primeiro e depois mentem ao seu público. Contudo, para explicar a cegueira do sistema, também há que mencionar uma espécie de mecanismo de auto-sugestão. Há uma frase muito conhecida na bolsa que diz “as árvores não sobem até o céu”. Até há pouco, os dirigentes da economia de mercado acreditaram que as árvores subiam sim até o céu.
Lembro que existe uma referência recente desta com a bolha internet, a bolha das novas tecnologias. Em 2000, a valorização das empresas que operavam na rede chegou à loucura total. Contudo, os dirigentes políticos, os bancos, os analistas financeiros, os meios de comunicação, todo o mundo dizia que a internet havia criado um novo modelo e que uma empresa podia valer 500 vezes seus lucros anuais. Aqui está uma prova de inconsciência que foi sancionada pelos mercados. O mesmo acontece agora. A inconsciência de 2005, 2006 e 2007 está sendo agora sancionada pelos mercados, mas de uma forma muito mais grave. Hoje, diferente do que ocorreu com a bolha das novas tecnologias, todos os setores e todos os países estão envolvidos. Nisso radica a gravidade da crise atual.
Existem outros emissores de mentiras que detém um poder considerável: as estatísticas, as agências de qualificação e o FMI.
Se observarmos as previsões do FMI constatamos que desde muito tempo são errôneas. O FMI não antecipou a crise e hoje este organismo nos diz com certa dificuldade que a crise se instalou. E, contudo, apesar de que as previsões do FMI são largamente falsas, continuam considerando-as com uma devoção quase religiosa. E com as agencias de qualificação acontece exatamente a mesma coisa. Nenhuma agencia antecipou a crise. Quero lembrar que as agencias de qualificação haviam dado aos créditos sub prime um triple A, o que é muito preocupante. Aqui também se segue escutando as agencias de qualificação como se fossem uma Virgem Santa.
Mas a devoção e a idolatria não têm nenhuma justificativa. Se trata agora de saber a quem há que criticar: as estatísticas, as agências de qualificação, aqueles que lhe dão uma importância maior? Todo o mundo é responsável do que está acontecendo. Os bancos centrais são responsáveis, em particular o banco central norte americano, as autoridades bancárias são responsáveis, os bancos, as agências de qualificação, os analistas financeiros, os Estados são igualmente responsáveis. De fato, não há que destacar um culpável nem procurar um bode expiatório. A responsabilidade é global. A responsabilidade da crise não é só das estatísticas ou das agências de qualificação. A responsabilidade é inescapavelmente coletiva.
Outra das mentiras que você assinala e que se transformou num mito desde 2008 é o da regulação financeira. Você afirma que o G20 é em realidade papel molhado.
Sobre o G20 é preciso dizer três coisas. A primeira é que a criação do G20 foi uma muito boa idéia. Antes da criação do G20 a economia mundial estava governada pelos países mais endividados: Estados Unidos, França, etc. Além disso, haviam sido deixados de fora os países que criavam mais valores, ou seja, Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul. A criação do G20 é então, uma evolução extremamente positiva em matéria de governo econômico mundial.
Em segundo lugar, na cúpula do G20 que se celebrou em Londres em 2009 se tomaram decisões corretas no que concerne ao papel do FMI, os paraísos fiscais ou as bonificações dos traders. Mas em terceiro lugar, e aqui está o problema, desde esta cúpula de Londres o G20 deixou de tomar decisões. Por quê? Pois porque o G20, como todas as demais instâncias de regulação, só toma decisões quando se espalha o medo. Tem que acontecer o que vimos com Lehman Brothers para, seis meses depois, tomar as decisões necessárias.
O problema radica em que, uma vez que passou a tormenta, nos esquecemos de que tivemos medo e tudo volta a começar igual: a especulação, as bonificações surrealistas destinadas aos traders, etc., etc. Prova disso, foi necessário que explodisse a crise grega para que os reguladores tivessem medo e voltassem a regular. Por conseguinte, se pode dizer que o governo mundial só progride com a crise. Só quando os reguladores têm medo se botam a regular.
Mas como se pode explicar tal recurso à mentira em economia política. Economistas, dirigentes políticos, organismos internacionais, todos mentem.
É lamentável mas esta é a triste realidade. Há três tipos de mentiras: a mentira voluntária, esta que se apoia atrás do argumento segundo o qual esconder a realidade é um bom princípio; a mentira involuntária que se funda sobre uma análise errônea da situação e conduz a difundir falsas informações quase de boa fé: e a mentira que se conta a si mesmo, ou seja, quando se dispõe de uma boa análise da situação mas como não se quer reconhecer a validade da mesmo se acaba dissimulando a realidade.
Nos três casos se emitem enunciados falsos e quase ninguém questiona o discurso dominante. Há vários elementos para explicar isso. Um deles é o chamado pensamento único. Às pessoas gostam pensar o que pensam os demais. Na sociedade atual contar com um pensamento heterodoxo não é algo fácil. Por outra parte, os meios de comunicação têm uma marcada tendência a acentuar este fenômeno. Os meios se focalizam no instantâneo, no espetacular. Assim terminam difundindo a mesma análise sem profundidade.
Você é um dos poucos analistas econômicos que afirma sem ambiguidade que os Estados Unidos estão em processo de quebra.
Se os Estados Unidos fossem uma empresa já tinham declarado falência. Não há nenhuma dúvida a respeito. Os Estados Unidos viveram acima de seus meios, se endividando além do razoável e desindustrializando-se em excesso. Isso dura 20 anos! A situação norte americana é muito, muito má.
Entretanto, pese ao inocultável marasmo, você sugere que não tudo está perdido. Como se sai deste pântano? Por acaso há que terminar com a tão comentada globalização?
Eu sou um crítico das teses que propõem o fim da globalização. De fato, a globalização teve muitos defeitos, é obvio que aprofundou as desigualdades, mas, globalmente, a economia mundial nunca conheceu um crescimento tão forte como com o processo de globalização. Não há, então, que se jogar tudo no lixo. A desglobalização poderia acarretar uma perda dos benefícios adquiridos. Não quero dizer com isso que, por exemplo, a situação dos operários chineses que trabalham no setor industrial graças à globalização seja boa, não, nada disso. O que digo, sim, é que a globalização foi um fator de crescimento inquestionável, em particular para os países do sul.
Os excessos da globalização devem ser criticados. Nesse sentido, se continuo sendo otimista é precisamente porque se admitimos que todos somos responsáveis da situação atual, tanto as empresas, os bancos, os dirigentes políticos, as instâncias de regulação como as pessoas em geral, podemos mudar o curso das coisas. Se cada um destes atores econômicos se reforma é possível desembocar num governo econômico mundial mais satisfatório. Lamentavelmente, as reformas só se realizam quando não cabe outra saída. Provavelmente fará falta que a crise se agrave mais para que os dirigentes e os dirigidos aceitem as reformas.
Tradução: Libório Junior

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Obsessão da oposição: desqualificar LULA

Obrigado Maria Inês Nassif por mostrar as evidências da baixeza dos que se opõem ao Brasil de hoje.
Amorim de Andrade


Por Vânia
Da Carta Maior
A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso.

A cultura de tentar ganhar no grito tem prevalecido sobre a boa educação e o senso de humanidade na política brasileira. E o alvo preferencial do “vale-tudo” é, em disparada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por algo mais do que uma mera coincidência, nunca antes na história desse país um senador havia ameaçado bater no presidente da República, na tribuna do Legislativo. Nunca se tratou tão desrespeitosamente um chefe de governo. Nunca questionou-se tanto o merecimento de um presidente – e Lula, além de eleito duas vezes pelo voto direto e secreto, foi o único a terminar o mandato com popularidade maior do que quando o iniciou. 
A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso. A campanha que se espalhou nas redes sociais pelos adversários políticos de Lula, para que ele se trate no Sistema Único de Saúde (SUS), é de um mau gosto atroz. A jornalista que o culpou, no ar, pelo câncer que o vitimou, atribuindo a doença a uma “vida desregrada”, perdeu uma grande chance de ficar calada.
Até na política as regras de boas maneiras devem prevalecer. Numa democracia, o opositor é chamado de adversário, não de inimigo (para quem não tem idade para se lembrar, na nossa ditadura militar os opositores eram “inimigos da pátria”). Essa forma de qualificar quem não pensa como você traz, implicitamente, a ideia de que a divergência e o embate político devem se limitar ao campo das ideias. Esta é a regra número um de etiqueta na política.
A segunda regra é o respeito. Uma autoridade, principalmente se se tornou autoridade pelo voto, não é simplesmente uma pessoa física. Ela é representante da maioria dos eleitores de um país, e se deve respeito à maioria. Simples assim. Lula, mesmo sem mandato, também o merece. Desrespeitar um líder tão popular é zombar do discernimento dos cidadãos que o apoiam e o seguem. Discordar pode, sempre.
A terceira regra de boas maneiras é tratar um homem público como homem público. Ele não é seu amigo nem o cara com quem se bate boca na mesa de um bar. Essa regra vale em dobro para os jornalistas: as fontes não são amigas, nem inimigas. São pessoas que estão cumprindo a sua parte num processo histórico e devem ser julgadas como tal. Não se pode fazer a cobertura política, ou uma análise política, como se fosse por uma questão pessoal. Jornalismo não deve ser uma questão pessoal. Jornalistas têm inclusive o compromisso com o relato da história para as gerações futuras. Quando se faz jornalismo com o fígado, o relato da história fica prejudicado.
A quarta regra é a civilidade. As pessoas educadas não costumam atacar sequer um inimigo numa situação tão delicada de saúde. Isso depõe contra quem ataca. E é uma péssima lição para a sociedade. Sentimentos de humanidade e solidariedade devem ser a argamassa da construção de uma sólida democracia. Os formadores de opinião tem a obrigação de disseminar esses valores. 
A quinta regra é não se deixar contaminar por sentimentos menores que estão entranhados na sociedade, como o preconceito. O julgamento sobre Lula, tanto de seus opositores políticos como da imprensa tradicional, sempre foi eivado de preconceito. É inconcebível para esses setores que um operário, sem curso universitário e criado na miséria, tenha ascendido a uma posição até então apenas ocupada pelas elites. A reação de alguns jornalistas brasileiros que cobriram, no dia 27 de setembro, a solenidade em que Lula recebeu o título “honoris causa” pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, é uma prova tão evidente disso que se torna desnecessário outro exemplo.
No caso do jornalismo, existe uma sexta regra, que é a elegância. Faltou elegância para alguns dos meus colegas.
(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

Guia de boas maneiras, por Maria Inês Nassif | Brasilianas.Org

sábado, 15 de outubro de 2011

Zizek: o casamento entre democracia e capitalismo acabou!


Tenho lido com muita curiosidade as manifestações de Slavoj Zizek, filósofo e psicanalista esloveno. Ao lado de Noam Chomsky, é um observador atendo de tudo o que acontece. Achei fantásticas as considerações contidas em seu pronunciamento para os acampados do movimento Occupy Wall Street em Nova York.
Se quiserem ler na fonte, vejam em Carta Maior
José Amorim de Andrade

OccupyWallStreet


Slavoj Zizek
Data: 11/10/2011


Durante o crash financeiro de 2008, foi destruída mais propriedade privada, ganha com dificuldades, do que se todos nós aqui estivéssemos a destruí-la dia e noite durante semanas. Dizem que somos sonhadores, mas os verdadeiros sonhadores são aqueles que pensam que as coisas podem continuar indefinidamente da mesma forma.
Não somos sonhadores. Somos o despertar de um sonho que está se transformando num pesadelo. Não estamos destruindo coisa alguma. Estamos apenas testemunhando como o sistema está se autodestruindo.
Todos conhecemos a cena clássica do desenho animado: o coiote chega à beira do precipício, e continua a andar, ignorando o fato de que não há nada por baixo dele. Somente quando olha para baixo e toma consciência de que não há nada, cai. É isto que estamos fazendo aqui.
Estamos a dizer aos rapazes de Wall Street: “hey, olhem para baixo!”
Em abril de 2011, o governo chinês proibiu, na TV, nos filmes e em romances, todas as histórias que falassem em realidade alternativa ou viagens no tempo. É um bom sinal para a China. Significa que as pessoas ainda sonham com alternativas, e por isso é preciso proibir este sonho. Aqui, não pensamos em proibições. Porque o sistema dominante tem oprimido até a nossa capacidade de sonhar.
Vejam os filmes a que assistimos o tempo todo. É fácil imaginar o fim do mundo, um asteróide destruir toda a vida e assim por diante. Mas não se pode imaginar o fim do capitalismo. O que estamos, então, a fazer aqui?
Deixem-me contar uma piada maravilhosa dos velhos tempos comunistas. Um fulano da Alemanha Oriental foi mandado para trabalhar na Sibéria. Ele sabia que o seu correio seria lido pelos censores, por isso disse aos amigos: “Vamos estabelecer um código. Se receberem uma carta minha escrita em tinta azul, será verdade o que estiver escrito; se estiver escrita em tinta vermelha, será falso”. Passado um mês, os amigos recebem uma primeira carta toda escrita em tinta azul. Dizia: “Tudo é maravilhoso aqui, as lojas estão cheias de boa comida, os cinemas exibem bons filmes do ocidente, os apartamentos são grandes e luxuosos, a única coisa que não se consegue comprar é tinta vermelha.”
É assim que vivemos – temos todas as liberdades que queremos, mas falta-nos a tinta vermelha, a linguagem para articular a nossa ausência de liberdade. A forma como nos ensinam a falar sobre a guerra, a liberdade, o terrorismo e assim por diante, falsifica a liberdade. E é isso que estamos a fazer aqui: dando tinta vermelha a todos nós.
Existe um perigo. Não nos apaixonemos por nós mesmos. É bom estar aqui, mas lembrem-se, os carnavais são baratos. O que importa é o dia seguinte, quando voltamos à vida normal. Haverá então novas oportunidades? Não quero que se lembrem destes dias assim: “Meu deus, como éramos jovens e foi lindo”.
Lembrem-se que a nossa mensagem principal é: temos de pensar em alternativas. A regra quebrou-se. Não vivemos no melhor mundo possível, mas há um longo caminho pela frente – estamos confrontados com questões realmente difíceis. Sabemos o que não queremos. Mas o que queremos? Que organização social pode substituir o capitalismo? Que tipo de novos líderes queremos?
Lembrem-se, o problema não é a corrupção ou a ganância, o problema é o sistema. Tenham cuidado, não só com os inimigos, mas também com os falsos amigos que já estão trabalhando para diluir este processo, do mesmo modo que quando se toma café sem cafeína, cerveja sem álcool, sorvete sem gordura.
Vão tentar transformar isso num protesto moral sem coração, um processo descafeinado. Mas o motivo de estarmos aqui é que já estamos fartos de um mundo onde se reciclam latas de coca-cola ou se toma um cappuccino italiano no Starbucks, para depois dar 1% às crianças que passam fome e fazer-nos sentir bem com isso. Depois de fazer outsourcing ao trabalho e à tortura, depois de as agências matrimoniais fazerem outsourcing da nossa vida amorosa, permitimos que até o nosso envolvimento político seja alvo de outsourcing. Queremos ele de volta.
Não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que entrou em colapso em 1990. Lembrem-se que hoje os comunistas são os capitalistas mais eficientes e implacáveis. Na China de hoje, temos um capitalismo que é ainda mais dinâmico do que o vosso capitalismo americano. Mas ele não precisa de democracia. O que significa que, quando criticarem o capitalismo, não se deixem chantagear pelos que vos acusam de ser contra a democracia. O casamento entre a democracia e o capitalismo acabou.
A mudança é possível. O que é que consideramos possível hoje? Basta seguir os meios de comunicação. Por um lado, na tecnologia e na sexualidade tudo parece ser possível. É possível viajar para a lua, tornar-se imortal através da biogenética. Pode-se ter sexo com animais ou qualquer outra coisa. Mas olhem para os terrenos da sociedade e da economia. Nestes, quase tudo é considerado impossível. Querem aumentar um pouco os impostos aos ricos? Eles dizem que é impossível. Perdemos competitividade. Querem mais dinheiro para a saúde? Eles dizem que é impossível, isso significaria um Estado totalitário. Algo tem de estar errado num mundo onde vos prometem ser imortais, mas em que não se pode gastar um pouco mais com cuidados de saúde.
Talvez devêssemos definir as nossas prioridades nesta questão. Não queremos um padrão de vida mais alto – queremos um melhor padrão de vida. O único sentido em que somos comunistas é que nos preocupamos com os bens comuns. Os bens comuns da natureza, os bens comuns do que é privatizado pela propriedade intelectual, os bens comuns da biogenética. Por isto e só por isto devemos lutar.
O comunismo falhou totalmente, mas o problema dos bens comuns permanece. Eles dizem-nos que não somos americanos, mas temos de lembrar uma coisa aos fundamentalistas conservadores, que afirmam que eles é que são realmente americanos. O que é o cristianismo? É o Espírito Santo. O que é o Espírito Santo? É uma comunidade igualitária de crentes que estão ligados pelo amor um pelo outro, e que só têm a sua própria liberdade e responsabilidade para este amor. Neste sentido, o Espírito Santo está aqui, agora, e lá em Wall Street estão os pagãos que adoram ídolos blasfemos.
Por isso, do que precisamos é de paciência. A única coisa que eu temo é que algum dia vamos todos voltar para casa, e vamos voltar a encontrar-nos uma vez por ano, para beber cerveja e recordar nostalgicamente como foi bom o tempo que passámos aqui. Prometam que não vai ser assim. Sabem que muitas vezes as pessoas desejam uma coisa, mas realmente não a querem. Não tenham medo de realmente querer o que desejam. Muito obrigado!
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

domingo, 2 de outubro de 2011

A semente da indignação está plantada no coração do monstro: Wall Street

Imagem do The Guardian
People protest during the 'Occupy Wall Street' rally in New York, 17 September. Photograph: Steven Greaves/Demotix/Corbis





O tema mais palpitante que ocupa grande espaço na internet há uma semana é a eclosão dos manifestos de indignação nos EEUU; o foco destes atos de descontentamento contra banqueiros e milionários corruptos está centrado no movimento "Occupy Wall Street". O New York Times relata a prisão de mais de 700 manifestantes.
Estas foram as palavras de Leo Gerard,  Leo Gerard, presidente internacional de maior sindicato industrial de trabalhadores da América do Norte, o United Steelworkers (USW):


“Os homens e mulheres valentes, muitos deles jovens sem emprego, que vem se manifestando por quase duas semanas em Nova York estão falando por muitos em nosso mundo. Estamos fartos da cobiça empresarial, da corrupção e da arrogância que tem provocado dor para muita gente por demasiado tempo”. 


Michael Moore, Noam Chomsky, a atriz Susan Sarandon, o humorista Stephen Colbert e o filósofo Cornel West, estão entre as personalidades famosas que apoiam o movimento.
Hoje, domingo, não há a menor possibilidade de se ter informações sobre esse assunto na imprensa gorda brasileira. É mesmo uma impressa sabuja. Apenas o site da Carta Capital coloca para seus leitores uma cobertura significativa. Além dos blogs progressistas também apelidados de blogs sujos pelo tucanato neoliberal.
Encontrei nos endereços abaixo uma boa forma de me manter atualizado sobe o assunto.
O coração do monstro começa a sofrer alterações do ritmo. A ver.
Por enquanto, a mídia gorda brasileira, parece não saber de nada. Basta-lhe o Rock in Rio.

http://www.vermelho.org.br/se/noticia.php?id_secao=8&id_noticia=165300
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18593
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18606
http://www.occupytogether.org/

domingo, 21 de agosto de 2011

Neoliberalismo, mercado e escravidão - ZARA

Como se não bastasse a escravidão legal e com carteira assinada de algumas categorias de trabalhadores, o sistema capitalista tem criatividade suficiente para perpetuar as formas seculares de escravidão no Brasil e em outros países. 

A famosa grife ZARA, mesmo dispensando algemas, troncos e chibatas, tinha na sua cadeia de produção, dita terceirizada, pessoas que trabalhavam ate 16 horas por dia em condições degradantes e sob cerceamento da liberdade. 
Não se trata de nenhuma novidade. 
Esta modalidade de escravidão tem sido encontrada com muita freqüência na zona rural sob a tutela do agronegócio. A senadora Katia Abreu, versão tupiniquim e sinistra de Sara Palin, não reconhece a existência desse problema.
Para o capitalismo desregulado (pode ser regulado?), alma do neoliberalismo, o que importa é maximização do lucro.





Para quem deseja algo  mais sobre o tema, sugiro:

Escravidão com etiqueta
Trabalho escravo contemporâneo em plena capital paulista 
O trabalho escravo reinventado pelo capitalismo contemporâneo - (muito bom e bem esclarecedor)
Leonardo Sakamoto na Revista TRIP - (o crime  mais comum do que imaginamos)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

''Não é crise. É que não te quero mais''. Artigo de Manuel Castells




Requer efetivamente muito exercício mental conseguir analisar os fatos que, num crescendo assustador e frenético, vem ocorrente na Inglaterra, Chile, Espanha e países do oriente. Entre as reflexões que vão sendo publicadas, e falta tempo para ler todas, a matéria abaixo fornece uma pequena luz para ajudar a entender um pouco as coisas.
Amorim de Andrade




“Diante das novas turbulências financeiras, é preciso propor grandes mudanças — entre elas, a reinvenção da democracia”.O comentário é de Manuel Castells em artigo no La Vangardia traduzido por Cauê Seigner Ameni e publicado no sítio Outras Palavras, 08-08-2011.

Este é o texto:

Quando milhares de [jovens] indignados, [que ocuparam as praças da Espanha], tiram de foco a “crise” e atacam diretamente o sistema que produz tantos desarranjos, estão sustentando algo importante. Querem dizer que é preciso ir à raiz dos problemas, olhar para suas causas. Porque se elas persistirem, continuarão produzindo as mesmas consequências.


Mas de que sistema falamos? Muitos diriam capitalismo, mais é algo pouco útil: há muitos capitalismos. Precisamos analisar o que vivemos como crise para entender que não se trata de uma patologia do sistema,mas do resultado deste capitalismo. Além disso, a critica se estende à gestão política. E surge no contexto de uma Europa desequilibrada por um sistema financeiro destrutivo que provoca a crise do euro e suscita a desunião europeia.

Nas ultimas décadas, constituiu-se um capitalismo global, dominado por instituições financeiras (os bancos são apenas uma parte) que vivem de produzir dívida e ganhar com ela. Para aumentar seus lucros, as instituições financeiras criam capital virtual por meio dos chamados “derivativos” [ou, basicamente, apostas na evolução futura de todo tipo de preço].

Emprestam umas às outras, aumentando o capital circulante e, portanto, os juros [e comissões] a receber. Em média, os bancos dispõem, nos Estados Unidos ou na Europa, de apenas 3% do capital que devem ao público. Se este percentual chega a 5%, são considerados solventes, [em boa saúde financeira]. Enquanto isso, 95% [do dinheiro dos depositantes] não está disponível: alimenta incessantemente operações que envolvem múltiplos credores e devedores, que estabelecem relações num mercado volátil, em grande parte desregulado.

Diz-se que umas transações compensam umas às outras e o risco se dilui. Para cobrir os riscos, há os seguros – mas as seguradoras também emprestam o capital que deveriam reservar para fazer frente a sinistros. Ainda assim, permanecem tranquilos, porque supõem que, em ultima estancia, o Estado (ou seja, nós) vai salvá-los das dívidas – desde que sejam grandes o suficiente [para ameaçar toda a economia]… O efeito perverso deste sistema, operado por redes de computadores mediadas por modelos matemáticos sofisticados, é: quanto menos garantias tiverem, mais rentáveis (para as instituições financeiras e seus dirigentes) as operações serão. E aqui entra outro fator: o modelo consumista que busca o sentido da vida comprando-a em prestações….

Como o maior investimento das pessoas são suas próprias casas, o mercado hipotecário (alimentado por juros reais negativos) criou um paraíso artificial. Estimulou uma industria imobiliária especulativa e desmesurada, predadora do meio ambiente, que se alimenta de trabalhadores imigrantes e dinheiro emprestado a baixo custo. Diante de tal facilidade, poucos empreendedores apostaram em inovações. Mesmo empresas de desenvolvimento tecnológico, grandes ou pequenas, passaram a buscar a autovalorização no mercado financeiro, ao invés de inovar.

O que importava não eram as habilidades e virtudes da empresa, mas seu valor no mercado de capitais. O que muitos “inovadores” desejavam, na verdade, é que sua empresa fosse comprada por uma maior. A chave desta piramide especulativa era o entrelaçamento de toda essa divida: os passivos se convertiam em ativos para garantir outros empréstimos. Quando os empréstimos não puderam mais ser pagos, começou a insolvência de empresas e pessoas. As quebras propagaram-se em cadeia, até chegar no coração do sistema: as grandes seguradoras.

Diante do perigo do colapso de todo o sistema, os governos salvaram bancos e demais instituições financeiras.

Quando secou o credito às empresas, a crise financeira converteu-se em crise industrial e de emprego. Os governos assumiram o custo de evitar o desemprego em massa e tentar reanimar a economia moribunda. Como pagar a conta?

Aumentar os impostos não dá votos. Por isso, recorreram aos próprios mercados financeiros, aumentando sua já elevada dívida pública. Quanto mais especulativas eram as economias (Grécia, Irlanda, Portugal, Itália, Espanha) e quanto mais os governos pensavam apenas no curto prazo, maior eram o gasto público e o aumento da dívida. Como ela estava lastreada por uma modea forte – o euro –, os mercados continuaram emprestando. Contavam com a força e o crédito da União Europeia. O resultado foi uma crise financeira de vários Estados, ameaçados de falência. Esta crise fiscal converteu-se, em seguida, numa nova crise financeira: porque colocou em perigo o euro e aumentou o risco de países suspeitos de futura insolvência.

Mas quem quebraria, se fossem à falência os países em condições financeiras mais precárias, eram os bancos alemães e franceses. Para salvar tais bancos, era, portanto, preciso resgatar os países devedores. A condição foi impor cortes nos gastos dos Estados e a redução de empregos em empresas e no setor público. Muitos países – incluindo a Espanha – perderam sua soberania econômica. Assim chegaram as ondas de demissões, o aumento do desemprego, a redução de salários e os cortes nos serviços sociais. Coexistem com lucros recordes para o setor financeiro.

Claro que alguns bancos perderam muito, e terão de sofrer intervenção do Estado – para serem, em seguida, reprivatizados. Por isso, os “indignados” afirmam que o sistema não está em crise. O capital financeiro continua ganhadondo, e transfere os prejuízos à sociedade e aos Estados. Assim se disciplinam os sindicatos e os cidadãos. Assim, a crise das finanças torna-se crise política.

Por que a outra característica-chave do sistema não é econômica, mas política. Trata-se da ruptura do vinculo entre cidadão e governantes. “Não nos representam”, dizem muitos. Os partidos vivem entre si e para si. A classe política tornou-se uma casta que compartilha o interesse comum de manter o poder dividido entre si mesma, através de um mercado político-midiatico que se renova a cada quatro anos. Auto-absolvendo-se da corrupção e dos abusos, já que tem o poder de designar a cúpula do Poder Judiciário.

Protegido desta forma, o poder Político, pactua com os outros dois poderes: o Financeiro e o Midiático, que estão profundamente imbricados. Enquanto a dívida econômica puder ser rolada, e a comunicação controlada, as pessoas tocarão suas vidas passivamente. Esse é o sistema. Por isso, acreditavam-se invencíveis.

Até que a surgiu a comunicação autônoma e as pessoas, juntas, perderam o medo e se indignaram. Adonde ván? Cada um tem sua ideia, mas há temas em comuns. Que os bancos paguem a crise. Controle sobre os políticos. Internet livre. Uma economia da criatividade e um modo de vida sustentável. E, sobretudo, reinventar a democracia, a partir de valores como participação, transparência e prestação de contas aos cidadãos. Porque como dizia um cartaz dos indignados:
 “Não é que estamos em crise. Es que ya no te quiero”.

domingo, 31 de julho de 2011

Mídia gorda brasileira e o terror na Noruega

ISTO É Independente, sítio da revista Isto É na internet encontrou  imediatamente, em sua Edição 2176 de   22.Jul.11 às 21:00, os culpados pelos atentados com vítimas fatais na Noruega:

Ameaçada pela Al-Qaeda, a Noruega sofre série de ataques. Bomba destrói prédio do governo e tiroteio em encontro do partido deixa vários mortos.

Além da manchete estampou uma foto de Ayman Al-Zawahiri, tido com o sucessor de Bin Laden, sobre uma foto dos estragos provocados pelo atentado em Oslo. Legenda das fotos: Destruição no centro da capital e Ayman Al-Zawahiri,....o governo norueguês previu a ação.

Às 19h:17m do mesmo dia 22,  O GLOBO na Internet não deixou por menos. Encontrou um "especialista" em al-Qaeda e tascou: 

Especialista em monitoramento da al-Qaeda diz pelo Twitter que terroristas assumem ataque à Noruega.

No mesmo dia a televisão norueguesa afirma que o suspeito pela autoria dos atentados é um ativista de extrema direita e que, entre outras coisas, é islamofóbico, ou seja, odeia o islã e odeia a Al-Qaeda.
Ou seja, nossa mídia gorda insiste em desinformar e permanecer desinformada.
Gostei de REFLEXIONES POLÍTICAS SOBRE LA TRAGÉDIA EN NORUEGA.

Quando estava escrevendo as observações acima  dei de cara com excelente texto A marca registrada do fascismo, de Mauro Malin, que transcrevo abaixo. Para beber na fonte clique em: Observatório da Imprensa


TERRORISMO NA NORUEGA

A marca registrada do fascismo

Por Mauro Malin em 29/07/2011 na edição 652
Duas das mais importantes revistas semanais brasileiras, Época e IstoÉ, poderiam ter disputado, no fim de semana de 23-24/7, para saber quem foi capaz de errar mais na avaliação dos violentíssimos atos terroristas cometidos na sexta-feira (22/7), na Noruega, por um fascista local.
IstoÉ errou de cabo a rabo: simplesmente atribuiu o atentado à Al Qaeda. Ilustra a reportagem com uma foto de prédios abalados em Oslo e outra de Ayman Al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden.
A revista, como as demais, apresentou a Noruega como um cenário político idílico. Esse engano se repetiu em todas as mídias. Ou quase. Na noite de terça-feira (26/7), Alberto Dines abriu o programa do Observatório de Imprensa na TV com um comentário que colocou em contexto histórico o ato aparentemente desvairado de Anders Behring Breivik:
“O monstro de Oslo certamente agiu sozinho, mas ele não estava nem está sozinho. Breivik faz parte de uma legião mundial de extrema-direita que não nasceu agora, começou nos anos 20 do século passado e levou a humanidade à mais sangrenta guerra de todos os tempos. A ideologia de Breivik só difere do nazifascismo no acréscimo do ingrediente religioso. De resto, nada a diferencia do rancor hitlerista e fascista. Sua xenofobia é gêmea do Tea Party americano. O antissocialismo que levou Breivik a atacar a sede do governo e massacrar 68 jovens conterrâneos num acampamento de verão é o mesmo que leva a direita americana a travar o orçamento do país com o pretexto de que Barack Obama é socialista. A pacífica Noruega foi invadida em 1940 pelas tropas de Hitler, que lá instalaram um ditador local, chamado Quisling, cujo nome tornou-se sinônimo de colaborador do nazismo. A Segunda Guerra Mundial ainda não acabou.”
Os suspeitos habituais
A Época evitou a imagem de uma Noruega isenta de riscos, mas os atribuiu exclusivamente à hostilidade de fundamentalistas islâmicos devido à participação do país no contingente da Otan que combate o Talibã no Afeganistão e à reprodução, em jornais noruegueses, de charges dinamarquesas que, em 2005, provocaram a ira de religiosos muçulmanos.
No fim da reportagem, mencionou a hipótese de o ataque ter sido promovido pela extrema direita norueguesa, dada a nacionalidade do atirador preso, mas isso não abalou o tom geral do texto, encimado por um subtítulo onde se lia: “Um duplo atentado à [sic] bomba e a tiros, endereçado ao governo norueguês, lembra o Ocidente de que o sinistro legado de Osama bin Laden continua à espreita”.
Presente desenraizado?
Veja esperou para dar as informações corretas, embora não tenha deixado de mencionar a hipótese de uma ação de fundamentalistas islâmicos. O que não saiu a contento foi o cenário norueguês. O clichê usado na capa da revista, “Terror no país da paz”, patenteia granítica ignorância histórica.
Por sinal, a reportagem afirma, logo no início, para criar um mote com o qual “amarra” o texto no final, que Alfred Nobel, antes de morrer, em 1896, estabeleceu que a entrega do prêmio que leva seu nome seria feita na Noruega, porque ela era “um país sem apego ao militarismo e dirigido por uma elite tolerante”.
Ocorre que em 1896 a Noruega não era um país, mas parte da Suécia (desde 1814, após uma dominação pela Dinamarca que remontava a meados do século 16). Tornar-se-ia independente em 1905 e, num plebiscito, escolheria como rei um príncipe dinamarquês. O regime é desde então essencialmente democrático, em molde parlamentarista.
O colaborador norueguês

A Noruega independente é um país pacífico, que ficou fora da Primeira Guerra Mundial e teria repetido essa escolha na Segunda se não tivesse sido invadida por Hitler. A Alemanha importava da Suécia o ferro que era escoado pelo porto norueguês de Narvik e daí pelo Mar do Norte. Hitler adiantou-se aos britânicos, que teriam invadido o país para cortar esse fluxo. O exército da Noruega resistiu dois meses aos alemães até capitular, tempo suficiente para a família real e o governo buscarem refúgio.
Forças antinazistas norueguesas impuseram ao invasor uma resistência nada desprezível, que, juntamente com a possibilidade de ataque dos Aliados, obrigou Hitler a manter no país 300 mil soldados que teriam sido preciosos em outras frentes de batalha.
O Quisling mencionado por Dines no programa de TV, Vidkun Quisling (sobrenome aportuguesado como quisling, sinônimo de quinta-coluna), foi primeiro-ministro entre 1942 e 1945, sob a égide de um “comissário civil” alemão, o nazista Josef Terboven. Das fotos que ilustram este texto (publicadas na Coleção 70º Aniversário da II Guerra Mundial, 1939-1945, vol. 4), uma mostra Quisling durante uma visita a Berlim e outra é de seu julgamento.



Por vontade própria
O que importa aqui não é a narrativa histórica, mas sinalizar para o leitor a força que teve e tem na Noruega, como na Europa inteira, nos Estados Unidos e alhures, a extrema-direita racista, antissemita, xenófoba.
Quisling era um homem da elite norueguesa, filho de conhecido pastor luterano. Foi ministro da Guerra entre 1931 e 1933. Depois, fundou o Nasjonal Samling, agremiação nacionalista que acabaria transformada em partido nazista, com escassos votos (2% nas eleições de 1935), embora tenha chegado a 45 mil filiados sob a ocupação hitlerista. Logo após o desembarque alemão, em abril de 1940, tentou sem êxito formar um governo pró-nazista. Não foi aceito. Só em 1942 conseguiu tornar-se primeiro-ministro.
Essas informações servem para sublinhar que Quisling não foi um colaborador “forçado”, ou alguém que se deixou cooptar em nome do “mal menor”. Era nazista convicto. Uma parte da intelectualidade norueguesa simpatizava com o nazismo – como, de resto, acontecia em todos os países.
O caso mais notório foi o do escritor Knut Hamsun, autor do celebrado romance A Fome e Prêmio Nobel de Literatura em 1920. O cartaz de propaganda nazista reproduzido abaixo mostra a expectativa de entendimento entre nazistas e noruegueses “contra o bolchevismo”.

Punição radical
Quisling, acusado de corrupção, assassinatos e traição, foi julgado, condenado e executado em outubro de 1945. Segundo Tony Judt (Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945), na Noruega todos os integrantes do Nasjonal Samling (ele dá o número de 55 mil) foram julgados, “além de outros 40 mil indivíduos; 17 mil homens e mulheres receberam penas de detenção e trinta sentenças de morte foram expedidas, das quais 25 levadas a cabo. Em nenhum outro local as proporções [de punição a colaboracionistas pró-nazistas] foram tão elevadas”.
Segundo algumas interpretações, punições adotadas podiam ser classificadas como retaliações. Esse rigor era tanto antinazista como anti-alemão. Não funcionou para “sepultar” o radicalismo de direita, como se deu a entender depois da guerra (minha geração cresceu com essa ideia na cabeça, até que, no Brasil, a ditadura militar, com suas indisfarçáveis inclinações fascistas, enterrou ilusões).
Teimosa erva daninha
Giogio Almiranti fundou o Movimento Social Italiano, sucessor do Partido Nacional Fascista, em 1946. Franco, o ditador espanhol, governou de 1939 até morrer, em 1975. O ditador Antônio de Oliveira Salazar morreu em 1970, mas só em 1974 Portugal se viu livre do regime por ele instaurado em 1933.
Em 1999, a revista The Economist publicou um artigo cujo título é expressivo: “Fascismo ressurgente?”. O motivo imediato era a ascensão, na Áustria – país que teve proporcionalmente o maior número de nazistas, mas não os puniu em escala comparável à da Noruega e mesmo às de outros países ocupados por Hitler −, de Jörg Haider e seu Partido da Liberdade. Haider, que morreu num acidente automobilístico em 2008, propagandeava sua admiração por algumas políticas de Hitler.
Em relação à Noruega, a The Economist assinalava o crescimento do Partido do Progresso, de Carl Hagen (cerca de 15% dos votos nas eleições daquele ano; hoje, é o segundo partido no Parlamento, com 41 cadeiras), mas não o considerava uma ameaça à democracia escandinava, “menos ainda um herdeiro da depravação de Vidkun Quisling”. Entre as características do Partido do Progresso, a revista apontava o empenho em “espremer o estado de bem-estar social” e “um sopro de agressividade anti-imigrantes”.
Armas da direita
Com o terrorista Breivik o sopro virou vendaval, voltado contra noruegueses que seriam complacentes. O Christian Science Monitor disse na quinta-feira (28/7) que a oposição ao multiculturalismo e os sentimentos anti-imigrantes são “supreendentemente comuns” na Noruega.
Breivik não é louco. Ele aparentemente agiu sozinho, mas, como constatou Dines, não estava nem está sozinho. Com raríssimas exceções, atentados de direita de grandes proporções ou intensa repercussão política produziram recuos da democracia nas últimas décadas.
Isso aconteceu, por exemplo, na Itália (1976, assassinato de Aldo Moro; os autores se imaginavam de esquerda radical; 1980, atentado de Bolonha) e nos Estados Unidos (1995, bomba de Oklahoma, detonada por um simpatizante da milícia, governo Clinton; 2001, Torres Gêmeas e Pentágono, governo G.W. Bush).
Teria acontecido no Brasil em 1981, truncando a reconquista democrática, se a bomba destinada ao Riocentro não tivesse explodido no colo do sargento que a portava.
A Segunda Guerra Mundial derrotou Mussolini e Hitler, mas não o fascismo, que brota e rebrota indiferente ao grau de severidade com que seus praticantes tenham sido punidos após a vitória aliada.
As revistas que noticiaram o terror em Oslo informaram, na edição do mesmo fim de semana, que a prefeitura de Wunsiedel, sul da Alemanha, decidiu destruir o túmulo do segundo homem na hierarquia nazista, Rudolf Hess, exumar seus ossos, cremá-los e jogar suas cinzas no mar, para acabar com a peregrinação de neonazistas ao cemitério onde ele estava enterrado havia quase 25 anos.
A consciência dessa desafiadora realidade está um pouco distante das redações brasileiras.

sábado, 23 de julho de 2011

A mídia de jaleco branco

A relação, que beira a promiscuidade, entre profissionais de saúde, mídia e indústria é cada vez mais intensa. Está presente nas revistas, programas televisivos, outdoors, peças de marketing, etc. O atendimento à saúde da população sucumbiu às lógicas comerciais. Sobre essa questão foi muito interessante a discussão - que precisa ser aprofundada e divulgada - na TV Brasil do dia 19 do corrente. Transcrevo abaixo as considerações feitas por Lília Diniz.

José Amorim de Andrade

Como anda a saúde da cobertura de saúde?

Por Lilia Diniz em 21/07/2011 na edição 651 do Observatório da Imprensa


Lançamentos de medicamentos milagrosos, tecnologias inovadoras, dietas da moda têm espaço garantido na mídia. De fontes de informação, os médicos passaram a estrelas do jornalismo. Os cadernos dedicados à área de Saúde ganharam importância dentro dos jornais, enquanto nos canais de televisão os programas de promoção de um estilo de vida saudável têm audiência elevada. Por trás destas informações sobre Saúde está um ator cada vez mais poderoso: a indústria farmacêutica. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (19/07) pela TV Brasil discutiu o amplo destaque que as reportagens sobre Saúde ocupam na mídia.

Para debater o tema, Alberto Dines recebeu no estúdio do Rio de Janeiro José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, e o professor da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisador do CNPq Paulo Vaz. Médico sanitarista, Temporão é especialista em doenças infecciosas e tropicais. O ex-ministro é doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Paulo Vaz é autor de Um pensamento Infame e O inconsciente artificial e vêm pesquisando nos últimos anos as conseqüências éticas e políticas do modo como o conceito de risco aparece nos meios de comunicação. Em São Paulo, o Observatório recebeu Simone Iwasso, chefe de reportagem da editoria Vida do jornal O Estado de S.Paulo. A jornalista foi repórter por sete anos no jornal nas áreas de Saúde e Educação.

No editorial que abre o programa, Dines classificou a mídia como um “pátio de milagres” que promete a saúde eterna. “O culto irrestrito da Ciência e da Tecnologia converteu a humanidade em escrava das bulas de remédios e das páginas de medicina e saúde da mídia. Quem está ganhando com isso é a indústria farmacêutica que não pode prosperar sem o suporte da imprensa. A função da imprensa é informar, mas ela não pode distribuir informações e sintomas sem um contrapeso crítico. Sem a percepção de suas responsabilidades”, sublinhou Dines. Os médicos, na avaliação do jornalista, não deveriam recorrer à publicidade para “dramatizar estatísticas, criar alarmes e distribuir falsas esperanças”.

A mídia de jaleco

A reportagem exibida no Observatório mostrou a opinião de profissionais da área médica e da imprensa. Para Luis Castiel, médico sanitarista da Fiocruz, a indústria farmacêutica “não brinca em serviço”. Pressiona a mídia e os médicos para que estes adotem práticas de tratamento e prevenção que nem sempre são garantidas. Problemas como calvície e hiperatividade acabam sendo transferidos para a área médica. Castiel chamou a atenção para a participação de médicos em programas de televisão: “Os médicos refletem muito do espírito da nossa época. Na nossa época, quem não se sobressai, ou espetaculariza as suas qualidades, parece que não sobrevive neste meio. Eu acho que muitas vezes existe um afã de vender um produto. E, muitas vezes, o produto é a própria pessoa”.

Para Marcelo Daher, integrante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a imprensa recorre à área médica porque o retorno é garantido. Daher sublinhou que amídia “martela” na cabeça dos indivíduos a idéiade que a beleza deve ser conseguida de qualquer forma. “Freqüentemente,ela associa a beleza ao sucesso. Esse é que é o problema. Então, o jovem ou mesmo a pessoa de meiaidade, ou até a pessoa de terceira idade, inicia uma busca interminável pelos tratamentos de beleza em busca do sucesso”, explicou.Para o cirurgião plástico, o ideal seria que a imprensa fosse mais comedida ao informar para não prejudicar o paciente.

O médico Julio Abramczyk, que tem uma coluna na sobre Saúde na Folha de S.Paulo há mais de quatro décadas, criticou a atuação das assessorias de imprensa no setor médico. “Se nesta área de Saúde o repórter ou o redator não está bem enfronhado, pode acabar fazendo o jogo de uma firma que quer se autopromover, ou de um médico que quer se promover ou de um medicamento que quer ser vendido para a grande massa”, advertiu Abramczyk. O médico citou como exemplo o caso da proibição da publicidade do balão intragástrico, método que prometia auxiliar no emagrecimento. O conselho de autorregulação publicitária avaliou que a propaganda desta cirurgia era enganosa e proibiu a veiculação dos anúncios. “Eles falam das maravilhas que é este balão, mas não falam das conseqüências”, explicou o médico.

Doentes potenciais

No debate ao vivo, o ex-ministro Temporão destacou que a medicina está penetrando no dia-a-dia dos cidadãos por interesses mercadológicos. “Podemos usar o termo ‘medicalização da vida cotidiana’. Décadas atrás, a medicina sensu stricto tratava dos doentes. Depois, ela expandiu o seu alcance ao espaço da prevenção, da promoção. Depois, aos potencialmente doentes. E, hoje em dia, a todos. Inclusive aos saudáveis. Desconfia-se que cada um de nós é um doente em potencial e, portanto, objeto da intervenção médica”, criticou o ex-ministro. Temporão defendeu que a sociedade brasileira construa uma consciência política sobre Saúde. Este processo deve mesclar um processo de educação e de informação para que as pessoas possam cuidar melhor da saúde e uma consciência coletiva que mobilize a população para buscar melhores condições de vida.

“O que determina a saúde é a maneira como a riqueza e o poder se distribuem na sociedade”, resumiu o ex-ministro. Temporão chamou a atenção para o uso exagerado de medicamentos, que movimenta um “gigantesco mercado de inutilidades”. Neste sentido, crianças agitadas e inquietas estão sendo taxadas como hipertativas e tratadas com substâncias pesadas para ter um comportamento ‘mais adequado’. Suplementos vitamínicos e antidepressivos são prescritos em situações onde são absolutamente dispensáveis. “Se constrói uma cultura onde cada um de nós seja um consumidor de tecnologias, de medicamentos e de hábitos”, disse o médico.

Para Temporão, a sociedade vive um fenômeno complexo porque a prática médica moderna está cada vez mais tecnicista e distante do paciente. “A população busca se informar. Será que a qualidade desta informação é a mais adequada? Eu vejo muita contradição. Eu vejo coisas positivas, muitos programas na tv que são mais informativos, na linha de educar, mas vejo também muita má informação, desinformação e muita publicidade escondida, maquiada, sob a forma de informação”, alertou o ex-ministro. Temporão destacou que a informação de qualidade é importante tanto no jornalismo convencional, que precisa adotar padrões éticos, quanto nas novas mídias.

Informação comprometida

Na avaliação do ex-ministro, a população se depara com uma oferta de informação de qualidade, mas também com notícias que buscam estimular o consumo com baixo grau de consciência. O ex-ministro lembrou uma tirinha do cartunista Henfil publicada nos anos 1980: “O jovem pesquisador da indústria farmacêutica é chamado à sala do presidente da empresa. Ele se posta diante do presidente, que fala: ‘Parabéns! O remédio que o senhor desenvolveu foi aprovado’. A segunda tirinha é: ‘Agora, só falta o nosso departamento de marketing inventar a doença’”.

A jornalista Simone Iwasso, do O Estado de S.Paulo, falou sobre como ações de marketing podem levar à impressão de que novas doenças estão surgindo no mundo contemporâneo. Alguns meses após o lançamento de medicamentos para a disfunção erétil, a indústria farmacêutica começou a divulgar estudos que comprovariam a eficácia destes medicamentos para a disfunção sexual feminina. “Toda a imprensa entrou nisso e era simplesmente uma fumaça. Chegou a sair na imprensa muitas matérias sobre isso. Depoimentos de mulheres, as pessoas falando que poderiam experimentar o remédio. Passado algum tempo, novos estudos mostraram que não tinha eficácia nenhuma, que não tinha nenhum papel na fisiologia feminina”, contou a chefe de reportagem.

Simone Iwassocomentou que é um desafio diário separar o que é uma novidade relevante daquilo que representa apenas um lançamento da indústria de medicamentos. Chegam à redação, em busca de espaço no jornal, estudos com grupos pequenos de pessoas, pagos pela indústria e que têm resultados apenas preliminares. “Assuntos que não têm nenhuma relevância médica acabam sendo muito bombardeados e vendidos”, contou. A jornalista explicou que adota uma série de critérios objetivos para a divulgação de estudos científicos: o patrocínio da indústria, avaliação pelos pares e publicação em revistas científicas de credibilidade. “Todo dia a gente recebe muito material de um medicamento novo, de grandes coletivas que são organizadas em hotéis, em outras cidades. Muitos médicos são colocados como fontes. São médicos que estão em universidades e em hospitais, mas que são contratados também como speakers da indústria, têm estudos patrocinados pela indústria”, afirmou.

Risco em toda parte

Dines conversou com Paulo Vaz, que estuda percepção dos fatores de risco pela sociedade, a respeito da tutela do Estado sobre o cidadão na área de Saúde. Para o pesquisador, é preciso não deixar tudo ao arbítrio do indivíduo porque o cidadão se vê sob o jugo do saber médico e desconhece que este saber é falível. “Você faz como se o sentido da vida fosse só evitar a morte, só tentar desesperadamente não morrer e, ao mesmo tempo, tende a buscar uma beleza eterna. O outro problema é político. Você diz que a saúde, em última instância, depende do comportamento só dos indivíduos, esquecendo questões mais genéricas sobre as desigualdades estruturais da sociedade”.

Na avaliação de Vaz, para um jornalismo científico de qualidade, é preciso conjugar quatro dimensões: o receptor da mídia, o jornalista, a medicina e a indústria farmacêutica. Há um desejo de criar a “possibilidade da doença” e também a obrigação de que cada indivíduo cuide da sua própria saúde. “Você tem uma idéia de anormalidade que está generalizada e estimulando o consumo”, alertou. O pesquisador comentou que, nos Estados Unidos, onde a publicidade de medicamentos é liberada, é possível anunciar produtos para doenças que sequer foram reconhecidas pelos órgãos competentes.

domingo, 10 de julho de 2011

Povo português declara guerra à Moody's. Estou nessa!



Caros amigos:

apesar de absolutamente desmoralizadas, as agências de classificação de risco, insistem no desejode serem a bússola do mercado.
Muito oportuna a reação do portugueses. de serem a bússola do mercado.
Muito oportuna a reação do portugueses.
Nós, brasileiros, poderemos engrossar o ataque aos ratos do neoliberalismo predador (pleonasmo?).

Veja abaixo como participar.

Ana Luísa Janeira, filósofa, professora Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é uma das organizadoras de uma campanha contra a agência Mody’s que propõe retirar do ar os servidores da agência do ar durante o pregão da bolsa de valores de Nova York nessa segunda-feira, dia 11 de julho.

Eis a convocatória de Ana Luísa Janeira.

Resposta de Portugal à Moodys

Já todos sabemos que o nosso Portugal está a ser alvo da Moodys (e outras, mas esta mais recentemente), sem reais avaliações e desrespeitando o esforço que os portugueses estão a fazer para ultrapassar este bocado!
A ideia é simples... querem guerra? Pois não sabem com que povo se estão a meter... vamos retaliar como podemos, dentro das nossas capacidades!
Comecemos pela internet... Um servidor web tem uma capacidade máxima de resposta. Raro é um servidor web que suporta mais de 3000 conexões em simultâneo!
Posto isto, vamos provocar o que tecnicamente se chama de "Distributed Denial of Service (DDos)". Consiste numa simultânea conexão ao site da moodys de vários milhares de computadores. Isso provocará um bloqueio na resposta do servidor, deixando de ter capacidade para responder. Geralmente bloqueia o servidor web e muitas vezes obriga a um reinicio do sistema todo.
A prática é muito muito simples... à mesma hora, todos abrirmos o endereço http://www.moodys.com/ e fazermos uns quantos refreshs (actualizar) durante 3/4 minutos, de modo a cruzar os relógios de toda a gente.
Agora imaginem provocar uma inoperabilidade dos servidores web durante as horas de abertura da bolsa de nova iorque... em que a web, o e-mail e outras ferramentas asseguradas pelo servidor web são importantes!
Já sabem... a cada hora em ponto, segunda feira, dia 11 de julho, entre as 15h00 (10am em NY) e as 21h00 (4pm em NY) vamos visitar o website da moodys e actualizá-lo inúmeras vezes durante uns minutos!!
Contra os canhões, marchar, marchar!!!
Para participar desde o Brasil
Para participar da campanha no Brasil simultaneamente os acessos devem ser feitos entre às 11hs e 17hs.

domingo, 3 de julho de 2011

São caros os carros vendidos no Brasil?

São muito caros. Caríssimos. E até então eu pensava que a culpa era dos impostos. Como grande anunciante a indústria automobilística não deixa que a mídia gorda empresarial nos diga a verdade; confira comigo no texto que transcrevo a seguir o quanto somos enganados. 
Amorim  


Política, salsichas e jornais
Por Luciano Martins Costa em 30/06/2011 na edição 648
(veja na fonte: Observatório da Imprensa )

É bastante conhecida a frase atribuída ao ex-chanceler alemão Otto von Bismarck (1815-1898), segundo a qual “os cidadãos não dormiriam tranquilos se soubessem como são feitas as leis e as salsichas”. Pode-se, com certeza, acrescentar à citação famosa: “e os jornais”.
O cidadão leitor de jornais que nunca trabalhou numa Redação ficaria surpreendido com a quantidade de informações que consome imaginando se tratar de produto original, garimpado e elaborado por um jornalista a serviço de determinado veículo, aquele que publica seu diário ou sua revista semanal – e que na verdade tem outra origem completamente diversa.
Muito comumente, a fonte é uma assessoria de imprensa contratada para defender os interesses de uma empresa, um político ou um setor específico da economia. Até mesmo assessores de imprensa que já atuaram em redações de jornais se declaram constrangidos com a facilidade com que se pode “plantar” uma versão favorável a seus clientes em qualquer veículo de comunicação.
Manchetes “espontâneas”
Lançamentos de produtos costumam incluir um trabalho de preparação de notícias destinadas a gerar curiosidade sobre determinados temas. Por exemplo, o lançamento de um medicamento pode ser antecedido por reportagens pseudocientíficas muito convenientes – para a indústria farmacêutica – sobre o aumento na incidência de determinadas moléstias.
A vulnerabilidade dos meios de comunicação a interesses específicos se torna ainda mais clara quando se trata de temas sobre os quais a posição da empresa jornalística é muito evidente.
Para ganhar atenção, basta apelar para um dos bordões usados pela própria mídia. Algumas assessorias de comunicação costumam também manter atualizados os perfis de jornalistas mais influentes, buscando atraí-los para determinadas posições de interesse de seus clientes.
O círculo de influência não pode ser determinado com precisão, mas sabe-se que muitas manchetes “espontâneas” podem nascer no departamento de comunicação de alguma empresa ou no gabinete de um político.
Voz do dono
Observe-se, por exemplo, a notícia sobre o custo de produção de veículos no Brasil, publicada na quinta-feira (30/6) na Folha de S.Paulo.
A reportagem, postada junto a uma nota sobre o lançamento da política nacional para o setor industrial, previsto para a segunda quinzena de julho, é claramente “inspirada’ num estudo divulgado pela assessoria de imprensa da Anfavea, a associação das montadoras instaladas no Brasil. O levantamento, sob responsabilidade da PricewaterhouseCoopers, afirma que a principal causa do preço alto dos carros por aqui é o custo da mão de obra.
Ora, a própria Folha, ou melhor, o blog Omundoemmovimento, hospedado no portal UOL, havia publicado no começo de junho uma reportagem – esta sim, resultado do trabalho jornalístico – demonstrando que é a margem de lucro exorbitante que faz o consumidor brasileiro pagar muito mais pelo carro do que, por exemplo, no México, país cujo mercado pode ser comparado ao nacional.
A reportagem, conduzida pelo repórter especializado Joel Leite, com a participação de Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli, lembra que os fabricantes alegam que a alta carga tributária, a baixa escala de produção e o custo da mão de obra determinam os preços finais dos veículos. Mas nunca revelam o perfil completo dos custos de produção, para que possam ser comparados aos preços finais para se determinar quanto é o lucro das empresas.
Publicada em dois capítulos, a investigação jornalística demonstra que o Volkswagen Jetta, por exemplo, custa no México o equivalente a R$ 32,5 mil, enquanto no Brasil não sai por menos do que R$ 65,7 mil.
Um a um, a reportagem vai demolindo os argumentos das montadoras. Demonstra, por exemplo, que a carga tributária para a indústria automobilística vem caindo desde 1997, e que mesmo assim os preços continuaram subindo. Da mesma forma, a escala de produção se multiplicou, o Brasil fechou o ano de 2010 como o quinto maior produtor de carros e o quarto mercado consumidor do mundo, e o volume não foi suficiente para baixar os preços.
A principal razão, segundo a reportagem, é a ganância: a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior do que as margens das mesmas empresas em outros países.
Em poucas palavras: as montadoras brasileiras são responsáveis por boa parte do lucro de suas matrizes e o brasileiro paga pela crise do setor automobilístico em outros países.
O press-release da Anfavea que virou reportagem na Folha de quinta-feira (30) foi claramente uma tentativa de resposta ao trabalho investigativo de Joel Leite e sua equipe.
Mas o leitor da Folha sabe disso?

Indignai-vos!

Comprei o livro que já vendeu milhões de cópias pelo mundo na medida da relevância que vem assumindo na mente e nos corações dos indignados. Tem a força de um manifesto pela simplicidade e obviedade de seu conteúdo. São 30 páginas de lucidez capazes de despertar as consciências dos que sonham com um mundo para todos. Está na  Livraria Cultura

«A minha longa vida deu-me uma série de motivos para me indignar».

Quem escreve é Stéphane Hessel, 93 anos, herói da Resistência francesa, sobrevivente dos campos de concentração nazistas e um dos redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É com a autoridade moral de um resistente inconformado e de um lutador visionário que Stéphane Hessel nos alerta, neste breve manifesto, para o fato de existirem hoje tantos e tão sérios motivos para a indignação como no tempo em que o nacional-socialismo ameaçava o mundo livre. Se procurarmos, certamente encontraremos razões para a indignação: o fosso crescente entre muito pobres e muito ricos, o estado do planeta, o desrespeito pelos emigrantes e pelos direitos humanos, a ditadura intolerável dos mercados financeiros, a injustiça social, entre tantos outros. Aceitemos o desafio de Stéphane Hessel, procurando neste livro e no mundo que nos rodeia os motivos para a insurreição pacífica, pois "cabe-nos a todos em conjunto zelar para que a nossa sociedade se mantenha uma sociedade qual nos orgulhemos."