PenseLivre On Line

Como dizia apropriadamente Samuel Wainer: A PENA É LIVRE, MAS O PAPEL TEM DONO.
Os blogs permitem que, por algum momento, possamos ter a pena livre e, ao mesmo tempo, ter a propriedade do papel.
Neste blog torno públicas algumas reflexões pessoais, textos e publicações pinçadas da web e que me fizeram pensar e repensar melhor a realidade.
Este blog é uma pretenção cidadã e...nada mais!

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domingo, 31 de julho de 2011

Mídia gorda brasileira e o terror na Noruega

ISTO É Independente, sítio da revista Isto É na internet encontrou  imediatamente, em sua Edição 2176 de   22.Jul.11 às 21:00, os culpados pelos atentados com vítimas fatais na Noruega:

Ameaçada pela Al-Qaeda, a Noruega sofre série de ataques. Bomba destrói prédio do governo e tiroteio em encontro do partido deixa vários mortos.

Além da manchete estampou uma foto de Ayman Al-Zawahiri, tido com o sucessor de Bin Laden, sobre uma foto dos estragos provocados pelo atentado em Oslo. Legenda das fotos: Destruição no centro da capital e Ayman Al-Zawahiri,....o governo norueguês previu a ação.

Às 19h:17m do mesmo dia 22,  O GLOBO na Internet não deixou por menos. Encontrou um "especialista" em al-Qaeda e tascou: 

Especialista em monitoramento da al-Qaeda diz pelo Twitter que terroristas assumem ataque à Noruega.

No mesmo dia a televisão norueguesa afirma que o suspeito pela autoria dos atentados é um ativista de extrema direita e que, entre outras coisas, é islamofóbico, ou seja, odeia o islã e odeia a Al-Qaeda.
Ou seja, nossa mídia gorda insiste em desinformar e permanecer desinformada.
Gostei de REFLEXIONES POLÍTICAS SOBRE LA TRAGÉDIA EN NORUEGA.

Quando estava escrevendo as observações acima  dei de cara com excelente texto A marca registrada do fascismo, de Mauro Malin, que transcrevo abaixo. Para beber na fonte clique em: Observatório da Imprensa


TERRORISMO NA NORUEGA

A marca registrada do fascismo

Por Mauro Malin em 29/07/2011 na edição 652
Duas das mais importantes revistas semanais brasileiras, Época e IstoÉ, poderiam ter disputado, no fim de semana de 23-24/7, para saber quem foi capaz de errar mais na avaliação dos violentíssimos atos terroristas cometidos na sexta-feira (22/7), na Noruega, por um fascista local.
IstoÉ errou de cabo a rabo: simplesmente atribuiu o atentado à Al Qaeda. Ilustra a reportagem com uma foto de prédios abalados em Oslo e outra de Ayman Al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden.
A revista, como as demais, apresentou a Noruega como um cenário político idílico. Esse engano se repetiu em todas as mídias. Ou quase. Na noite de terça-feira (26/7), Alberto Dines abriu o programa do Observatório de Imprensa na TV com um comentário que colocou em contexto histórico o ato aparentemente desvairado de Anders Behring Breivik:
“O monstro de Oslo certamente agiu sozinho, mas ele não estava nem está sozinho. Breivik faz parte de uma legião mundial de extrema-direita que não nasceu agora, começou nos anos 20 do século passado e levou a humanidade à mais sangrenta guerra de todos os tempos. A ideologia de Breivik só difere do nazifascismo no acréscimo do ingrediente religioso. De resto, nada a diferencia do rancor hitlerista e fascista. Sua xenofobia é gêmea do Tea Party americano. O antissocialismo que levou Breivik a atacar a sede do governo e massacrar 68 jovens conterrâneos num acampamento de verão é o mesmo que leva a direita americana a travar o orçamento do país com o pretexto de que Barack Obama é socialista. A pacífica Noruega foi invadida em 1940 pelas tropas de Hitler, que lá instalaram um ditador local, chamado Quisling, cujo nome tornou-se sinônimo de colaborador do nazismo. A Segunda Guerra Mundial ainda não acabou.”
Os suspeitos habituais
A Época evitou a imagem de uma Noruega isenta de riscos, mas os atribuiu exclusivamente à hostilidade de fundamentalistas islâmicos devido à participação do país no contingente da Otan que combate o Talibã no Afeganistão e à reprodução, em jornais noruegueses, de charges dinamarquesas que, em 2005, provocaram a ira de religiosos muçulmanos.
No fim da reportagem, mencionou a hipótese de o ataque ter sido promovido pela extrema direita norueguesa, dada a nacionalidade do atirador preso, mas isso não abalou o tom geral do texto, encimado por um subtítulo onde se lia: “Um duplo atentado à [sic] bomba e a tiros, endereçado ao governo norueguês, lembra o Ocidente de que o sinistro legado de Osama bin Laden continua à espreita”.
Presente desenraizado?
Veja esperou para dar as informações corretas, embora não tenha deixado de mencionar a hipótese de uma ação de fundamentalistas islâmicos. O que não saiu a contento foi o cenário norueguês. O clichê usado na capa da revista, “Terror no país da paz”, patenteia granítica ignorância histórica.
Por sinal, a reportagem afirma, logo no início, para criar um mote com o qual “amarra” o texto no final, que Alfred Nobel, antes de morrer, em 1896, estabeleceu que a entrega do prêmio que leva seu nome seria feita na Noruega, porque ela era “um país sem apego ao militarismo e dirigido por uma elite tolerante”.
Ocorre que em 1896 a Noruega não era um país, mas parte da Suécia (desde 1814, após uma dominação pela Dinamarca que remontava a meados do século 16). Tornar-se-ia independente em 1905 e, num plebiscito, escolheria como rei um príncipe dinamarquês. O regime é desde então essencialmente democrático, em molde parlamentarista.
O colaborador norueguês

A Noruega independente é um país pacífico, que ficou fora da Primeira Guerra Mundial e teria repetido essa escolha na Segunda se não tivesse sido invadida por Hitler. A Alemanha importava da Suécia o ferro que era escoado pelo porto norueguês de Narvik e daí pelo Mar do Norte. Hitler adiantou-se aos britânicos, que teriam invadido o país para cortar esse fluxo. O exército da Noruega resistiu dois meses aos alemães até capitular, tempo suficiente para a família real e o governo buscarem refúgio.
Forças antinazistas norueguesas impuseram ao invasor uma resistência nada desprezível, que, juntamente com a possibilidade de ataque dos Aliados, obrigou Hitler a manter no país 300 mil soldados que teriam sido preciosos em outras frentes de batalha.
O Quisling mencionado por Dines no programa de TV, Vidkun Quisling (sobrenome aportuguesado como quisling, sinônimo de quinta-coluna), foi primeiro-ministro entre 1942 e 1945, sob a égide de um “comissário civil” alemão, o nazista Josef Terboven. Das fotos que ilustram este texto (publicadas na Coleção 70º Aniversário da II Guerra Mundial, 1939-1945, vol. 4), uma mostra Quisling durante uma visita a Berlim e outra é de seu julgamento.



Por vontade própria
O que importa aqui não é a narrativa histórica, mas sinalizar para o leitor a força que teve e tem na Noruega, como na Europa inteira, nos Estados Unidos e alhures, a extrema-direita racista, antissemita, xenófoba.
Quisling era um homem da elite norueguesa, filho de conhecido pastor luterano. Foi ministro da Guerra entre 1931 e 1933. Depois, fundou o Nasjonal Samling, agremiação nacionalista que acabaria transformada em partido nazista, com escassos votos (2% nas eleições de 1935), embora tenha chegado a 45 mil filiados sob a ocupação hitlerista. Logo após o desembarque alemão, em abril de 1940, tentou sem êxito formar um governo pró-nazista. Não foi aceito. Só em 1942 conseguiu tornar-se primeiro-ministro.
Essas informações servem para sublinhar que Quisling não foi um colaborador “forçado”, ou alguém que se deixou cooptar em nome do “mal menor”. Era nazista convicto. Uma parte da intelectualidade norueguesa simpatizava com o nazismo – como, de resto, acontecia em todos os países.
O caso mais notório foi o do escritor Knut Hamsun, autor do celebrado romance A Fome e Prêmio Nobel de Literatura em 1920. O cartaz de propaganda nazista reproduzido abaixo mostra a expectativa de entendimento entre nazistas e noruegueses “contra o bolchevismo”.

Punição radical
Quisling, acusado de corrupção, assassinatos e traição, foi julgado, condenado e executado em outubro de 1945. Segundo Tony Judt (Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945), na Noruega todos os integrantes do Nasjonal Samling (ele dá o número de 55 mil) foram julgados, “além de outros 40 mil indivíduos; 17 mil homens e mulheres receberam penas de detenção e trinta sentenças de morte foram expedidas, das quais 25 levadas a cabo. Em nenhum outro local as proporções [de punição a colaboracionistas pró-nazistas] foram tão elevadas”.
Segundo algumas interpretações, punições adotadas podiam ser classificadas como retaliações. Esse rigor era tanto antinazista como anti-alemão. Não funcionou para “sepultar” o radicalismo de direita, como se deu a entender depois da guerra (minha geração cresceu com essa ideia na cabeça, até que, no Brasil, a ditadura militar, com suas indisfarçáveis inclinações fascistas, enterrou ilusões).
Teimosa erva daninha
Giogio Almiranti fundou o Movimento Social Italiano, sucessor do Partido Nacional Fascista, em 1946. Franco, o ditador espanhol, governou de 1939 até morrer, em 1975. O ditador Antônio de Oliveira Salazar morreu em 1970, mas só em 1974 Portugal se viu livre do regime por ele instaurado em 1933.
Em 1999, a revista The Economist publicou um artigo cujo título é expressivo: “Fascismo ressurgente?”. O motivo imediato era a ascensão, na Áustria – país que teve proporcionalmente o maior número de nazistas, mas não os puniu em escala comparável à da Noruega e mesmo às de outros países ocupados por Hitler −, de Jörg Haider e seu Partido da Liberdade. Haider, que morreu num acidente automobilístico em 2008, propagandeava sua admiração por algumas políticas de Hitler.
Em relação à Noruega, a The Economist assinalava o crescimento do Partido do Progresso, de Carl Hagen (cerca de 15% dos votos nas eleições daquele ano; hoje, é o segundo partido no Parlamento, com 41 cadeiras), mas não o considerava uma ameaça à democracia escandinava, “menos ainda um herdeiro da depravação de Vidkun Quisling”. Entre as características do Partido do Progresso, a revista apontava o empenho em “espremer o estado de bem-estar social” e “um sopro de agressividade anti-imigrantes”.
Armas da direita
Com o terrorista Breivik o sopro virou vendaval, voltado contra noruegueses que seriam complacentes. O Christian Science Monitor disse na quinta-feira (28/7) que a oposição ao multiculturalismo e os sentimentos anti-imigrantes são “supreendentemente comuns” na Noruega.
Breivik não é louco. Ele aparentemente agiu sozinho, mas, como constatou Dines, não estava nem está sozinho. Com raríssimas exceções, atentados de direita de grandes proporções ou intensa repercussão política produziram recuos da democracia nas últimas décadas.
Isso aconteceu, por exemplo, na Itália (1976, assassinato de Aldo Moro; os autores se imaginavam de esquerda radical; 1980, atentado de Bolonha) e nos Estados Unidos (1995, bomba de Oklahoma, detonada por um simpatizante da milícia, governo Clinton; 2001, Torres Gêmeas e Pentágono, governo G.W. Bush).
Teria acontecido no Brasil em 1981, truncando a reconquista democrática, se a bomba destinada ao Riocentro não tivesse explodido no colo do sargento que a portava.
A Segunda Guerra Mundial derrotou Mussolini e Hitler, mas não o fascismo, que brota e rebrota indiferente ao grau de severidade com que seus praticantes tenham sido punidos após a vitória aliada.
As revistas que noticiaram o terror em Oslo informaram, na edição do mesmo fim de semana, que a prefeitura de Wunsiedel, sul da Alemanha, decidiu destruir o túmulo do segundo homem na hierarquia nazista, Rudolf Hess, exumar seus ossos, cremá-los e jogar suas cinzas no mar, para acabar com a peregrinação de neonazistas ao cemitério onde ele estava enterrado havia quase 25 anos.
A consciência dessa desafiadora realidade está um pouco distante das redações brasileiras.

sábado, 23 de julho de 2011

A mídia de jaleco branco

A relação, que beira a promiscuidade, entre profissionais de saúde, mídia e indústria é cada vez mais intensa. Está presente nas revistas, programas televisivos, outdoors, peças de marketing, etc. O atendimento à saúde da população sucumbiu às lógicas comerciais. Sobre essa questão foi muito interessante a discussão - que precisa ser aprofundada e divulgada - na TV Brasil do dia 19 do corrente. Transcrevo abaixo as considerações feitas por Lília Diniz.

José Amorim de Andrade

Como anda a saúde da cobertura de saúde?

Por Lilia Diniz em 21/07/2011 na edição 651 do Observatório da Imprensa


Lançamentos de medicamentos milagrosos, tecnologias inovadoras, dietas da moda têm espaço garantido na mídia. De fontes de informação, os médicos passaram a estrelas do jornalismo. Os cadernos dedicados à área de Saúde ganharam importância dentro dos jornais, enquanto nos canais de televisão os programas de promoção de um estilo de vida saudável têm audiência elevada. Por trás destas informações sobre Saúde está um ator cada vez mais poderoso: a indústria farmacêutica. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (19/07) pela TV Brasil discutiu o amplo destaque que as reportagens sobre Saúde ocupam na mídia.

Para debater o tema, Alberto Dines recebeu no estúdio do Rio de Janeiro José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, e o professor da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisador do CNPq Paulo Vaz. Médico sanitarista, Temporão é especialista em doenças infecciosas e tropicais. O ex-ministro é doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Paulo Vaz é autor de Um pensamento Infame e O inconsciente artificial e vêm pesquisando nos últimos anos as conseqüências éticas e políticas do modo como o conceito de risco aparece nos meios de comunicação. Em São Paulo, o Observatório recebeu Simone Iwasso, chefe de reportagem da editoria Vida do jornal O Estado de S.Paulo. A jornalista foi repórter por sete anos no jornal nas áreas de Saúde e Educação.

No editorial que abre o programa, Dines classificou a mídia como um “pátio de milagres” que promete a saúde eterna. “O culto irrestrito da Ciência e da Tecnologia converteu a humanidade em escrava das bulas de remédios e das páginas de medicina e saúde da mídia. Quem está ganhando com isso é a indústria farmacêutica que não pode prosperar sem o suporte da imprensa. A função da imprensa é informar, mas ela não pode distribuir informações e sintomas sem um contrapeso crítico. Sem a percepção de suas responsabilidades”, sublinhou Dines. Os médicos, na avaliação do jornalista, não deveriam recorrer à publicidade para “dramatizar estatísticas, criar alarmes e distribuir falsas esperanças”.

A mídia de jaleco

A reportagem exibida no Observatório mostrou a opinião de profissionais da área médica e da imprensa. Para Luis Castiel, médico sanitarista da Fiocruz, a indústria farmacêutica “não brinca em serviço”. Pressiona a mídia e os médicos para que estes adotem práticas de tratamento e prevenção que nem sempre são garantidas. Problemas como calvície e hiperatividade acabam sendo transferidos para a área médica. Castiel chamou a atenção para a participação de médicos em programas de televisão: “Os médicos refletem muito do espírito da nossa época. Na nossa época, quem não se sobressai, ou espetaculariza as suas qualidades, parece que não sobrevive neste meio. Eu acho que muitas vezes existe um afã de vender um produto. E, muitas vezes, o produto é a própria pessoa”.

Para Marcelo Daher, integrante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a imprensa recorre à área médica porque o retorno é garantido. Daher sublinhou que amídia “martela” na cabeça dos indivíduos a idéiade que a beleza deve ser conseguida de qualquer forma. “Freqüentemente,ela associa a beleza ao sucesso. Esse é que é o problema. Então, o jovem ou mesmo a pessoa de meiaidade, ou até a pessoa de terceira idade, inicia uma busca interminável pelos tratamentos de beleza em busca do sucesso”, explicou.Para o cirurgião plástico, o ideal seria que a imprensa fosse mais comedida ao informar para não prejudicar o paciente.

O médico Julio Abramczyk, que tem uma coluna na sobre Saúde na Folha de S.Paulo há mais de quatro décadas, criticou a atuação das assessorias de imprensa no setor médico. “Se nesta área de Saúde o repórter ou o redator não está bem enfronhado, pode acabar fazendo o jogo de uma firma que quer se autopromover, ou de um médico que quer se promover ou de um medicamento que quer ser vendido para a grande massa”, advertiu Abramczyk. O médico citou como exemplo o caso da proibição da publicidade do balão intragástrico, método que prometia auxiliar no emagrecimento. O conselho de autorregulação publicitária avaliou que a propaganda desta cirurgia era enganosa e proibiu a veiculação dos anúncios. “Eles falam das maravilhas que é este balão, mas não falam das conseqüências”, explicou o médico.

Doentes potenciais

No debate ao vivo, o ex-ministro Temporão destacou que a medicina está penetrando no dia-a-dia dos cidadãos por interesses mercadológicos. “Podemos usar o termo ‘medicalização da vida cotidiana’. Décadas atrás, a medicina sensu stricto tratava dos doentes. Depois, ela expandiu o seu alcance ao espaço da prevenção, da promoção. Depois, aos potencialmente doentes. E, hoje em dia, a todos. Inclusive aos saudáveis. Desconfia-se que cada um de nós é um doente em potencial e, portanto, objeto da intervenção médica”, criticou o ex-ministro. Temporão defendeu que a sociedade brasileira construa uma consciência política sobre Saúde. Este processo deve mesclar um processo de educação e de informação para que as pessoas possam cuidar melhor da saúde e uma consciência coletiva que mobilize a população para buscar melhores condições de vida.

“O que determina a saúde é a maneira como a riqueza e o poder se distribuem na sociedade”, resumiu o ex-ministro. Temporão chamou a atenção para o uso exagerado de medicamentos, que movimenta um “gigantesco mercado de inutilidades”. Neste sentido, crianças agitadas e inquietas estão sendo taxadas como hipertativas e tratadas com substâncias pesadas para ter um comportamento ‘mais adequado’. Suplementos vitamínicos e antidepressivos são prescritos em situações onde são absolutamente dispensáveis. “Se constrói uma cultura onde cada um de nós seja um consumidor de tecnologias, de medicamentos e de hábitos”, disse o médico.

Para Temporão, a sociedade vive um fenômeno complexo porque a prática médica moderna está cada vez mais tecnicista e distante do paciente. “A população busca se informar. Será que a qualidade desta informação é a mais adequada? Eu vejo muita contradição. Eu vejo coisas positivas, muitos programas na tv que são mais informativos, na linha de educar, mas vejo também muita má informação, desinformação e muita publicidade escondida, maquiada, sob a forma de informação”, alertou o ex-ministro. Temporão destacou que a informação de qualidade é importante tanto no jornalismo convencional, que precisa adotar padrões éticos, quanto nas novas mídias.

Informação comprometida

Na avaliação do ex-ministro, a população se depara com uma oferta de informação de qualidade, mas também com notícias que buscam estimular o consumo com baixo grau de consciência. O ex-ministro lembrou uma tirinha do cartunista Henfil publicada nos anos 1980: “O jovem pesquisador da indústria farmacêutica é chamado à sala do presidente da empresa. Ele se posta diante do presidente, que fala: ‘Parabéns! O remédio que o senhor desenvolveu foi aprovado’. A segunda tirinha é: ‘Agora, só falta o nosso departamento de marketing inventar a doença’”.

A jornalista Simone Iwasso, do O Estado de S.Paulo, falou sobre como ações de marketing podem levar à impressão de que novas doenças estão surgindo no mundo contemporâneo. Alguns meses após o lançamento de medicamentos para a disfunção erétil, a indústria farmacêutica começou a divulgar estudos que comprovariam a eficácia destes medicamentos para a disfunção sexual feminina. “Toda a imprensa entrou nisso e era simplesmente uma fumaça. Chegou a sair na imprensa muitas matérias sobre isso. Depoimentos de mulheres, as pessoas falando que poderiam experimentar o remédio. Passado algum tempo, novos estudos mostraram que não tinha eficácia nenhuma, que não tinha nenhum papel na fisiologia feminina”, contou a chefe de reportagem.

Simone Iwassocomentou que é um desafio diário separar o que é uma novidade relevante daquilo que representa apenas um lançamento da indústria de medicamentos. Chegam à redação, em busca de espaço no jornal, estudos com grupos pequenos de pessoas, pagos pela indústria e que têm resultados apenas preliminares. “Assuntos que não têm nenhuma relevância médica acabam sendo muito bombardeados e vendidos”, contou. A jornalista explicou que adota uma série de critérios objetivos para a divulgação de estudos científicos: o patrocínio da indústria, avaliação pelos pares e publicação em revistas científicas de credibilidade. “Todo dia a gente recebe muito material de um medicamento novo, de grandes coletivas que são organizadas em hotéis, em outras cidades. Muitos médicos são colocados como fontes. São médicos que estão em universidades e em hospitais, mas que são contratados também como speakers da indústria, têm estudos patrocinados pela indústria”, afirmou.

Risco em toda parte

Dines conversou com Paulo Vaz, que estuda percepção dos fatores de risco pela sociedade, a respeito da tutela do Estado sobre o cidadão na área de Saúde. Para o pesquisador, é preciso não deixar tudo ao arbítrio do indivíduo porque o cidadão se vê sob o jugo do saber médico e desconhece que este saber é falível. “Você faz como se o sentido da vida fosse só evitar a morte, só tentar desesperadamente não morrer e, ao mesmo tempo, tende a buscar uma beleza eterna. O outro problema é político. Você diz que a saúde, em última instância, depende do comportamento só dos indivíduos, esquecendo questões mais genéricas sobre as desigualdades estruturais da sociedade”.

Na avaliação de Vaz, para um jornalismo científico de qualidade, é preciso conjugar quatro dimensões: o receptor da mídia, o jornalista, a medicina e a indústria farmacêutica. Há um desejo de criar a “possibilidade da doença” e também a obrigação de que cada indivíduo cuide da sua própria saúde. “Você tem uma idéia de anormalidade que está generalizada e estimulando o consumo”, alertou. O pesquisador comentou que, nos Estados Unidos, onde a publicidade de medicamentos é liberada, é possível anunciar produtos para doenças que sequer foram reconhecidas pelos órgãos competentes.

domingo, 10 de julho de 2011

Povo português declara guerra à Moody's. Estou nessa!



Caros amigos:

apesar de absolutamente desmoralizadas, as agências de classificação de risco, insistem no desejode serem a bússola do mercado.
Muito oportuna a reação do portugueses. de serem a bússola do mercado.
Muito oportuna a reação do portugueses.
Nós, brasileiros, poderemos engrossar o ataque aos ratos do neoliberalismo predador (pleonasmo?).

Veja abaixo como participar.

Ana Luísa Janeira, filósofa, professora Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é uma das organizadoras de uma campanha contra a agência Mody’s que propõe retirar do ar os servidores da agência do ar durante o pregão da bolsa de valores de Nova York nessa segunda-feira, dia 11 de julho.

Eis a convocatória de Ana Luísa Janeira.

Resposta de Portugal à Moodys

Já todos sabemos que o nosso Portugal está a ser alvo da Moodys (e outras, mas esta mais recentemente), sem reais avaliações e desrespeitando o esforço que os portugueses estão a fazer para ultrapassar este bocado!
A ideia é simples... querem guerra? Pois não sabem com que povo se estão a meter... vamos retaliar como podemos, dentro das nossas capacidades!
Comecemos pela internet... Um servidor web tem uma capacidade máxima de resposta. Raro é um servidor web que suporta mais de 3000 conexões em simultâneo!
Posto isto, vamos provocar o que tecnicamente se chama de "Distributed Denial of Service (DDos)". Consiste numa simultânea conexão ao site da moodys de vários milhares de computadores. Isso provocará um bloqueio na resposta do servidor, deixando de ter capacidade para responder. Geralmente bloqueia o servidor web e muitas vezes obriga a um reinicio do sistema todo.
A prática é muito muito simples... à mesma hora, todos abrirmos o endereço http://www.moodys.com/ e fazermos uns quantos refreshs (actualizar) durante 3/4 minutos, de modo a cruzar os relógios de toda a gente.
Agora imaginem provocar uma inoperabilidade dos servidores web durante as horas de abertura da bolsa de nova iorque... em que a web, o e-mail e outras ferramentas asseguradas pelo servidor web são importantes!
Já sabem... a cada hora em ponto, segunda feira, dia 11 de julho, entre as 15h00 (10am em NY) e as 21h00 (4pm em NY) vamos visitar o website da moodys e actualizá-lo inúmeras vezes durante uns minutos!!
Contra os canhões, marchar, marchar!!!
Para participar desde o Brasil
Para participar da campanha no Brasil simultaneamente os acessos devem ser feitos entre às 11hs e 17hs.

domingo, 3 de julho de 2011

São caros os carros vendidos no Brasil?

São muito caros. Caríssimos. E até então eu pensava que a culpa era dos impostos. Como grande anunciante a indústria automobilística não deixa que a mídia gorda empresarial nos diga a verdade; confira comigo no texto que transcrevo a seguir o quanto somos enganados. 
Amorim  


Política, salsichas e jornais
Por Luciano Martins Costa em 30/06/2011 na edição 648
(veja na fonte: Observatório da Imprensa )

É bastante conhecida a frase atribuída ao ex-chanceler alemão Otto von Bismarck (1815-1898), segundo a qual “os cidadãos não dormiriam tranquilos se soubessem como são feitas as leis e as salsichas”. Pode-se, com certeza, acrescentar à citação famosa: “e os jornais”.
O cidadão leitor de jornais que nunca trabalhou numa Redação ficaria surpreendido com a quantidade de informações que consome imaginando se tratar de produto original, garimpado e elaborado por um jornalista a serviço de determinado veículo, aquele que publica seu diário ou sua revista semanal – e que na verdade tem outra origem completamente diversa.
Muito comumente, a fonte é uma assessoria de imprensa contratada para defender os interesses de uma empresa, um político ou um setor específico da economia. Até mesmo assessores de imprensa que já atuaram em redações de jornais se declaram constrangidos com a facilidade com que se pode “plantar” uma versão favorável a seus clientes em qualquer veículo de comunicação.
Manchetes “espontâneas”
Lançamentos de produtos costumam incluir um trabalho de preparação de notícias destinadas a gerar curiosidade sobre determinados temas. Por exemplo, o lançamento de um medicamento pode ser antecedido por reportagens pseudocientíficas muito convenientes – para a indústria farmacêutica – sobre o aumento na incidência de determinadas moléstias.
A vulnerabilidade dos meios de comunicação a interesses específicos se torna ainda mais clara quando se trata de temas sobre os quais a posição da empresa jornalística é muito evidente.
Para ganhar atenção, basta apelar para um dos bordões usados pela própria mídia. Algumas assessorias de comunicação costumam também manter atualizados os perfis de jornalistas mais influentes, buscando atraí-los para determinadas posições de interesse de seus clientes.
O círculo de influência não pode ser determinado com precisão, mas sabe-se que muitas manchetes “espontâneas” podem nascer no departamento de comunicação de alguma empresa ou no gabinete de um político.
Voz do dono
Observe-se, por exemplo, a notícia sobre o custo de produção de veículos no Brasil, publicada na quinta-feira (30/6) na Folha de S.Paulo.
A reportagem, postada junto a uma nota sobre o lançamento da política nacional para o setor industrial, previsto para a segunda quinzena de julho, é claramente “inspirada’ num estudo divulgado pela assessoria de imprensa da Anfavea, a associação das montadoras instaladas no Brasil. O levantamento, sob responsabilidade da PricewaterhouseCoopers, afirma que a principal causa do preço alto dos carros por aqui é o custo da mão de obra.
Ora, a própria Folha, ou melhor, o blog Omundoemmovimento, hospedado no portal UOL, havia publicado no começo de junho uma reportagem – esta sim, resultado do trabalho jornalístico – demonstrando que é a margem de lucro exorbitante que faz o consumidor brasileiro pagar muito mais pelo carro do que, por exemplo, no México, país cujo mercado pode ser comparado ao nacional.
A reportagem, conduzida pelo repórter especializado Joel Leite, com a participação de Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli, lembra que os fabricantes alegam que a alta carga tributária, a baixa escala de produção e o custo da mão de obra determinam os preços finais dos veículos. Mas nunca revelam o perfil completo dos custos de produção, para que possam ser comparados aos preços finais para se determinar quanto é o lucro das empresas.
Publicada em dois capítulos, a investigação jornalística demonstra que o Volkswagen Jetta, por exemplo, custa no México o equivalente a R$ 32,5 mil, enquanto no Brasil não sai por menos do que R$ 65,7 mil.
Um a um, a reportagem vai demolindo os argumentos das montadoras. Demonstra, por exemplo, que a carga tributária para a indústria automobilística vem caindo desde 1997, e que mesmo assim os preços continuaram subindo. Da mesma forma, a escala de produção se multiplicou, o Brasil fechou o ano de 2010 como o quinto maior produtor de carros e o quarto mercado consumidor do mundo, e o volume não foi suficiente para baixar os preços.
A principal razão, segundo a reportagem, é a ganância: a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior do que as margens das mesmas empresas em outros países.
Em poucas palavras: as montadoras brasileiras são responsáveis por boa parte do lucro de suas matrizes e o brasileiro paga pela crise do setor automobilístico em outros países.
O press-release da Anfavea que virou reportagem na Folha de quinta-feira (30) foi claramente uma tentativa de resposta ao trabalho investigativo de Joel Leite e sua equipe.
Mas o leitor da Folha sabe disso?

Indignai-vos!

Comprei o livro que já vendeu milhões de cópias pelo mundo na medida da relevância que vem assumindo na mente e nos corações dos indignados. Tem a força de um manifesto pela simplicidade e obviedade de seu conteúdo. São 30 páginas de lucidez capazes de despertar as consciências dos que sonham com um mundo para todos. Está na  Livraria Cultura

«A minha longa vida deu-me uma série de motivos para me indignar».

Quem escreve é Stéphane Hessel, 93 anos, herói da Resistência francesa, sobrevivente dos campos de concentração nazistas e um dos redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É com a autoridade moral de um resistente inconformado e de um lutador visionário que Stéphane Hessel nos alerta, neste breve manifesto, para o fato de existirem hoje tantos e tão sérios motivos para a indignação como no tempo em que o nacional-socialismo ameaçava o mundo livre. Se procurarmos, certamente encontraremos razões para a indignação: o fosso crescente entre muito pobres e muito ricos, o estado do planeta, o desrespeito pelos emigrantes e pelos direitos humanos, a ditadura intolerável dos mercados financeiros, a injustiça social, entre tantos outros. Aceitemos o desafio de Stéphane Hessel, procurando neste livro e no mundo que nos rodeia os motivos para a insurreição pacífica, pois "cabe-nos a todos em conjunto zelar para que a nossa sociedade se mantenha uma sociedade qual nos orgulhemos."